A eterna luta entre o bem e o mal protagonizado por Deus e o Diabo produziu o pecado original e no seu bojo surgiram as religiões, que direcionam e influenciam a vida humana. As religiões escolheram o caminho do bem, e o mal como inimigo mortal, no entanto para fortalecer o bem usam as mesmas ferramentas do mal, e o ódio é a principal delas – combatem fogo com fogo. E o samba enredo que devia ser repudiado na avenida – é aplaudido.
O ser humano até pouco tempo era retratado exclusivamente na figura do homem, que segundo as escrituras foi criado à semelhança de Deus, portanto ser absoluto no Planeta Terra era uma questão de direito. Mas surgiu a mulher, que começou a contestar a hegemonia do homem, que não ficou satisfeito, pois segundo a sua visão, a mulher foi criada para ser submissa e servi-lo em suas necessidades de homem, afinal ela se originou de uma costela sua.
O homem criou o sistema patriarcal para poder exercer o seu supremo poder, e a religião para ajudá-lo nesta tarefa. Enquanto os homens usam seus cinco sentidos, as mulheres possuem um sexto sentido, portanto são mais aguçadas, e não podendo competir neste campo, à maioria dos homens usam da força física para impor suas vontades.
Na Idade Média, a Igreja Católica tinha o poder absoluto sobre homens e mulheres, e ditava como deveriam ser os seus comportamentos. As mulheres quando eram solteiras deviam obediência total ao pai e irmãos mais velhos, e quando casavam eram os maridos que exerciam o poder absoluto sobre elas, e tudo bem amarrado com a Igreja Católica. Quando os maridos morriam, não tinham direto à herança. Mesmo neste ambiente asfixiante, algumas mulheres começaram a ter ideias próprias, no entanto a Igreja tomou medidas drásticas contra estas mulheres, que foram queimadas vivas nas chamadas fogueiras santas.
Os séculos se passaram, o mundo mudou, e as mulheres através de muitas lutas vão conseguindo cavar os seus espaços na vida e no mercado de trabalho, mas a herança medieval que esta no DNA da maioria dos homens, não quer permitir este avanço. O estrupo de mulheres sempre fez parte da vida cotidiana, desde os primórdios da humanidade. Culpar a mulher pelo estrupo era, e ainda é natural para muita gente – inclusive para outras mulheres, que acham que a vestimenta provoca os instintos dos homens.
Até meados do século passado, as mulheres, com raras exceções eram propriedades de seus maridos. Apanhar do marido era encarado como normal pela sociedade, muitas iam a óbito devido aos maus tratos e não havia lei para defendê-las. O Código Penal admitia a legitima defesa da honra, que era quando o homem matava a mulher, alegando infidelidade, e era absolvido, pois havia lavado a sua honra.
A Lei Maria da Penha, só entrou na pauta no Congresso, e foi aprovada em 2006, depois que a OEA (Organização dos Estados Americanos) em 2002 condenou o Estado o brasileiro por omissão e negligência, pois o Estado brasileiro ignorava as agressões sofridas pelas mulheres. E mesmo com a aprovação desta lei a proteção das mulheres encontra barreiras nos órgãos de segurança e no judiciário. Haja vista a sentença em 2009 de um juiz de Minas Gerais, que absolveu um réu, que havia agredido uma mulher, alegando que a Lei Maria da Penha era diabólica, e que as desgraças humanas começaram com as mulheres.
Agora nesta semana a audiência que mostra a agressão verbal de um advogado desqualificado moralmente, contra uma mulher que foi estuprada, e o pior de tudo é que nem o promotor, e nem o juiz intervieram para cessar as agressões como sempre acontece quando há excessos. O ódio contra as mulheres é uma construção diabólica, que tem um fundo religioso. Não podemos mais aceitar que as mulheres continuem sendo tratadas como objetos descartáveis – já passou da hora de darmos um basta nisso. Não querem admitir que a capacidade feminina esteja ganhando de goleada – e sem argumentos querem retornar ao passado quando eram as estrelas.