Jorge Ben – vou tirar o “Jor” porque o conheci assim, ele só ampliou o pseudônimo/nome artístico porque, nos Estados Unidos, tem o George Benson, também cantor e compositor, e nos anos 1980 estava dando o maior quiproquó em relação aos direitos autorais do brasileiro, pois ele era muito gravado por lá.
As letras de algumas canções de Jorge Ben fogem do lugar comum, daquele politicamente correto. Digo até que ele vai escrevendo só pra ver o que vai dar, mas quando bota seu balanço, seu gingado, aquela batida autêntica em sua guitarra, você nem lembra o que ele escreveu.
Cito como exemplo a música “W o Brasil”. Já começa pelo nome – musicalmente, nem sei por que escolheu este título. Jorge Ben estava se referindo à agencia de Washington Olivetto, campeã em comerciais de TV, como aquela do “o primeiro sutiã a gente nunca esquece”. Lembro-me do Washington e do Jorge Ben rindo, abraçados e festejando o sucesso enorme que fez a música.
E vamos comentando a letra, que começa assim: “Alô, alô W o Brasil, Jacarezinho, avião…”. Isso repetidamente. Esta frase você pode interpretar de várias maneiras. Depois ele escreve: “Cuidado com o disco voador, tire essa escada daí, essa escada tem que ficar aqui fora, eu vou chamar o síndico: Tim Maia, Tim Maia, Tim Maia…”
Repare que a música não diz nada, a letra não tem pé nem cabeça, como diz o velho ditado, mas essa parte tem uma história interessante por trás. Tim Maia morava em um condomínio e vivia azucrinando a vida dos vizinhos com muita algazarra e rodas de samba que não tinham hora pra acabar. E ainda ele amedrontava os que ousavam reclamar. Só uma pessoa batia de frente com Tim: o sindico, que negava em atender aos pedidos do cantor. Insistente, Tim Maia pedia sempre para mudar uma escada de lugar, mas o velho síndico resistia bravamente.
Um belo dia, chegou a hora da eleição para síndico, Tim Maia viu ali a chance de mudar a malfadada escada de lugar e passou a arquitetar um plano maquiavélico. Pensou em sair candidato, mas, inteligente como sempre foi, sacou que perderia de goleada. Então, teve outra sacada. Levou um “sambarelove” com um morador, um mega fã, e convenceu-o a sair candidato, com ele disputando a vaga de subsíndico.
O combinado era o seguinte: se o cara ganhasse, deixaria passar uns dias, umas semanas, depois deveria alegar problemas pessoais e renunciaria, e assim Tim Maia assumiria o cargo de síndico. Não deu outra e Tim Maia virou síndico. Seu primeiro ato como autoridade máxima do condomínio foi mudar a escada de lugar. Jorge Ben, quando soube da história, tratou logo de colocá-la nesta música, e daí o apelido de Tim no meio artístico passou a ser “Síndico”.
E segue a letra: “O trem corre nos trilhos da Central do Brasil, incluindo paixão antiga, aquele beijo quente que ganhei da sua amiga, e o que é que deu? Funk na cabeça… e o que é que deu? Funk na cabeça…” Esta é a letra desta dançante música de Jorge Ben.
Cantei e canto músicas dele até hoje, parte de sua obra como “Mais que nada”, “Chove chuva”, “País tropical” e outras. Porém, há uma música que obrigou Jorge Ben a mudar o nome porque deu o maior barraco: “Fio Maravilha”. Fio era atacante do Flamengo, ele tinha os dentes todos disformes, mas fazia lá tantos gols a ponto de enlouquecer a maravilhosa torcida do Mengão.
Jorge Ben o homenageou com uma canção show de bola, mas Fio resolveu brigar pelos direitos autorais, O compositor virou uma fera e mudou o nome da música para “Filho Maravilha”, dando uma banana para o jogador, que caiu no ostracismo.
Sexta conto mais.