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As lamentáveis cabeças de aluguel

Quando jovens se prostituem, o sentimento de tristeza é imenso. Quando esses jovens estão entre os melhores alunos de universidades brasileiras e, portanto, representam a esperança maior de um Brasil mais justo e honesto, a sensação é de que se chegou ao fundo do poço. Afinal é na juventude, e especialmente na Universidade, que se concen­tram os mais ricos sentimentos de idealismo e de justiça.

A Polícia Federal, em operação chamada “Vaga Certa”, prendeu, há alguns anos, sete pessoas suspeitas de vender vagas em universidades públicas e privadas em pelo menos cinco estados brasileiros (Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Paraná) ao preço que variava de 25 a 70 mil reais. Até aí não é novidade.

Já sabíamos, e lamentávamos, da existência de compra de questões de provas e de resultados finais. A novidade é que o processo, ago­ra descoberto, era realizado, há alguns anos, com a participação de “pilotos”: universitários qualificados entre os melhores alunos, que re­cebiam de 5 a 6 mil reais para fazer provas em nome de outros, usando carteiras de identificação falsificadas. O pagamento (ou cachê?) variava de acordo com o conceito e importância da faculdade.

A participação de jovens vendendo seu conhecimento para fazer vestibular em nome de outros foi o fato mais marcante da operação “Vaga Certa”. Era de se esperar uma reação enorme por parte da mídia e da sociedade com a revelação de fato tão grave. Não houve. Parece que as pessoas estão anestesiadas e que os conceitos de ética, moral e justiça se tornaram absolutamente abstratos, ou, parafraseando o sau­doso Mário Covas: “Vivemos um tempo em que ser ético é sinônimo de ser ingênuo”. É tempo dos “espertos”.

A lei de Gerson já foi superada pela lei de Zeca Pagodinho que, publicamente se dirigiu ao ministro Temporão, que fizera um apelo no sentido de que artistas não se prestassem a vender sua imagem para estimular o uso de bebidas alcoólicas, e respondeu grosseiramente, dentro de sua “ética” particular, que o ministro cuidasse das máquinas estragadas das unidades de saúde e o deixasse ganhar seu dinheirinho. É isso aí. E ainda tem quem ache que ética é coisa só para médicos.

Deixando a gravíssima transgressão ética vale analisar algumas consequências do vestibular feito pelas “cabeças de aluguel”. Quem pode pagar o preço cobrado pela vaga certa? Não estaria havendo com isso maior distorção social nas oportunidades para cursos universitá­rios? Há quanto tempo isso ocorre?

Quantos profissionais estão exer­cendo suas atividades sem sequer terem prestado exames para ingresso nas faculdades? Não é realmente necessária uma avaliação externa do produto de nossas faculdades antes que iniciem o exercício profissio­nal? Alguém vai dizer que ao longo do curso essas pessoas passarão por provas e, se não forem capazes, terminarão saindo da faculdade.

Seria assim se as universidades reprovassem com o rigor necessá­rio. Como regra, poucas vezes isso parece acontecer e, quando ocorre, entra em ação uma nova figura na formação universitária: o reprovado entra na justiça para anular sua reprovação e frequentemente conse­gue. O pior, geralmente são os pais que entram com os recursos contra a reprovação do “filhinho injustiçado”. Tudo isso sem contar a secular figura da “cola” que leva à aprovação de muitos incapazes.

Já é antiga uma piada que falava de uma faculdade na qual era tão fácil ingressar que acabava aprovando também o motorista do ônibus que levava os candidatos. Hoje não é mais piada, não é só o motorista do ônibus e não são só as faculdades fáceis. Com o uso das “cabeças de aluguel”, verdadeiros semi-analfabetos, portadores de certificado de conclusão do secundário, podem ingressar em boas faculdades e, com recursos desonestos ou mandados de segu­rança, podem terminar seus cursos.

Quem perde?

Os alunos capacitados perdem suas vagas e a comunidade perde bons profissionais. Mas, quem mais perde é o País que, com a revelação das prostituídas “cabeças de aluguel”, vê a Ética e a Esperança cami­nharem para o fundo do poço.

Que Deus nos proteja!

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