Os apreciadores de vinho, bem como os bebedores eventuais, dificilmente param para se perguntar por que o produto, na quase totalidade das vezes, é servido em garrafas de 750ml. É bem verdade que existem outras garrafas, porém são exceção: as garrafas pequenas, que vão de 187 até 500ml e as grandes, começando pela mais comum, a Magnum, de 1,5L até a Melquideseque, com 30L. As formas das garrafas também variam e indicam a procedência regional do vinho, sendo as mais comuns as do champagne, feitas com parede reforçadas, para suportar a segunda fermentação dos vinhos e suporte de arame para as rolhas; as de Bordeaux; as da Borgonha e as da Alsácia.
Mas, o vinho surgiu há muitos séculos, bem antes da descoberta do vidro, haja vista a citação bíblica de Noé plantando uma videira, depois do dilúvio. Estima-se que, há 6.000 anos já se fermentavam vinhos, que eram guardados em recipientes de barro ou cerâmica, as tradicionais ânforas, seladas com barro ou com cera de abelha. Havia ainda os recipientes de couro e o uso da bolsa escrotal dos bodes, que determinaria hoje a garrafa típica dos vinhos alemães da Francônia (Franken), as bocksbeutel. O vinho português Mateus Rosê, popular no Brasil, utiliza uma garrafa inspirada no cantil dos soldados da Primeira Guerra Mundial.
O vinho ganha status de bebida fina na Grécia e posteriormente em Roma, responsável por espalhá-lo pela Europa. Eram armazenados em barricas de madeira, inventadas pelos gauleses. Atribui-se aos fenícios a descoberta do vidro, quando perceberam que as fogueiras feitas na praia deixavam um produto semitransparente e duro, nascido do calor sobre os cristais de quartzo da areia.
Durante a Idade Média usava-se com parcimônia garrafas de vidro das mais variadas formas, mas, de pouca resistência. Com a Revolução Industrial Inglesa, chegou-se a um vidro mais resistente e ao formato arredondado atual, mais fácil de ser estocado. Mas a grande comercialização ainda era feita em barricas de madeira, geralmente de 225L. O problema com as barricas era a necessidade de fracionar o vinho para a venda, pois uma vez abertas, começa a oxigenação que compromete muito a qualidade da bebida.
No século XIX, a grande compradora de vinhos franceses, especialmente de Bordeaux era a Inglaterra, que não usava o sistema decimal adotado na França. Assim, comprava os vinhos em galões imperiais, sendo que cada um deles tinha a capacidade de 4,546 litros. Com a popularização das garrafas para facilitar a venda do vinho, os franceses notaram que cada galão imperial poderia encher 4 garrafas de 1 litro ou 6 garrafas de 750ml, descontados alguns decimais. A dúzia era um conceito adotado pelos europeus, assim, optaram pela segunda hipótese, pois os vinhos poderiam ser vendidos em caixas de 12 garrafas (uma dúzia) ou 6 garrafas (meia dúzia), o que persiste até hoje.
Além das variadas formas das garrafas, ainda temos a considerar a cor das mesmas. O vinho é material vivo, que vai amadurecendo na garrafa, até morrer. A luz do sol, como o calor, precipita este tempo. Assim, a maioria dos vinhos tintos são oferecidos em garrafas escuras, geralmente verdes, que vedam a luminosidade. Já os brancos, de uma forma geral, são oferecidos em garrafas transparentes, pois duram menos, além da exigência mercadológica do consumidor, de ver a cor clara do líquido.
Da próxima vez que você abrir uma garrafa de 750ml, lembre-se do longo caminho que foi percorrido para que você pudesse beber um vinho de qualidade.