Natural de Araraquara e formado em medicina pela Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, o médico Rodolpho Telarolli Júnior é uma autoridade em epidemias. Especializado em medicina social com doutorado em saúde coletiva, Telerolli é autor do livro Epidemias no Brasil, uma abordagem biológica e social. Atualmente ele reside e tem clínica em Araraquara, além de ser docente na Unesp.
Nesta semana o médico concedeu entrevista à Rádioweb e comentou sobre doenças que assolam o país desde a época do Descobrimento. Segundo Telarolli, na maioria das vezes as epidemias estão ligadas a fatores como desenvolvimento econômico, falta de investimentos e acesso à saúde, má distribuição de renda e alimentação inadequada.
Segundo Telarolli, as piores epidemias que ocorreram no Brasil foram a gripe espanhola, em 1918, que “parou o pais” e a febre amarela que em 1899 chegou pelo Porto de Santos por conta da cafeicultura que se desenvolvia. “Foi uma doença que matou metade da população. Se traçarmos um paralelo aos tempos atuais seria a mesma coisa que em uma população como São Paulo, com 10 milhões de habitantes, 5 milhões morreriam. Mata prefeito, mata delegado, mata padre. Desorganiza a sociedade”, explica.
O médico comentou sobre o novo coronavírus (covid-19) e as medidas preventivas que muitos ainda relutam. “Quem poderia comentar melhor seria um especialista em psicologia social. Mas é preciso entender que ação individual remete a resultados coletivos”. Telarolli disse que o brasileiro apresenta exemplos ao longo dos anos de desobediência civil e cita como exemplo, os casos de dengue. “Já são 30 anos, ano após ano de uma doença facilmente transmissível e facilmente combatível. Mas a pessoa coloca a culpa no vizinho. As prefeituras também não investem o suficiente. É um tema para a psicologia social explicar melhor que eu”.
Telarolli cita ainda como exemplo histórico do brasileiro em não acatar medidas preventivas o episódio da Revolta das Vacinas, uma insurreição popular ocorrida no Rio de Janeiro no início do século XX. A revolta ocorreu como uma reação popular à campanha da vacinação obrigatória, posta em prática pelo sanitarista Oswaldo Cruz.
Outro ponto criticado pelo médico é o posicionamento nas redes sociais. “Hoje a pessoa lê dois posts e já se acha especialista. Temos perito para tudo com a leitura de dois post. As mídias sociais são excelentes, mas têm esse lado perverso”, finaliza.