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As cores de Segall

Por Antonio Gonçalves Filho

Parece incrível que uma exposição como Lasar Segall: Ensaio sobre a Cor, que será aberta nesta quinta-feira, 25, às 20h, no Sesc 24 de Maio, concebida pela curadora Maria Alice Milliet em março deste ano, tenha reunido em tão pouco tempo tantas obras importantes. E mais: em contato direto com representantes do modernismo brasileiro com os quais, voluntariamente ou não, Segall dialogou – caso de Portinari. Essa opção curatorial tem, de fato, um objetivo didático: apresentar a obra de Segall a um público não familiarizado com sua pintura, bastando lembrar que circulam diariamente pelo Sesc 24 de Maio nada menos que 10 mil pessoas.

Um telão montado no centro da mostra introduz esses visitantes a um dos artistas que melhor retrataram o Brasil e sua gente, concedendo especial atenção aos deserdados e afrodescendentes. Homem que conheceu a dor de ser um apátrida – de origem lituana, ele testemunhou a queda de seus pares nas mãos dos nazistas -, Segall dedicou sua arte a retratar o sofrimento alheio, como lembra a curadora da mostra. A exposição, inclusive, tem um dos núcleos, o terceiro, integralmente dedicado ao deslocamento de perseguidos por regimes totalitários, fenômeno que se repete agora.

Realizada em parceria com o Museu Lasar Segall com obras emprestadas por instituições como Pinacoteca do Estado, Masp, Instituto de Estudos Brasileiros e outras, além de colecionadores particulares, a mostra tem outro diferencial: a montagem do arquiteto Pedro Mendes da Rocha, que, a exemplo do pai Paulo, gosta de arte e convive com artistas. Preocupada com a segurança das obras e, ao mesmo tempo, com o contato corpo a corpo do público, a curadora instalou os trabalhos um pouco abaixo da linha adotada pelos museus, separando-os em ‘caixas’ que mantêm o espectador à distância.

O agrupamento das obras, espalhadas por quatro núcleos, acabou respeitando os diferentes esquemas cromáticos que definem cada um dos períodos de atividade de Segall, desde o primeiro (meados da década de 1910), que retrata o desamparo dos refugiados, a miséria e a prostituição, até o último (décadas de 1940 e 1950), em que o pintor faz, segundo a curadora, um “exercício introspectivo de depuração que tangencia o abstrato e remete à paisagem de sua infância na Lituânia”. Nessas paisagens de Campos do Jordão, em tons baixos, Segall pinta árvores, cabanas nas florestas e bois.

Há um contraste considerável entre esse discreto cromatismo e a exuberante paleta de Segall no segundo núcleo, que reúne obras realizadas entre os anos 1924 e 1935, justamente o período em que, sob o impacto da eclosão do movimento modernista brasileiro, o pintor explora os efeitos da luz tropical sobre a paisagem. “Já livre do naturalismo, Segall experimenta uma maior liberdade cromática”, observa a curadora.

Isso é particularmente notável na tela Menino Com Lagartixa (1924), reproduzida nesta página, colocada ao lado de O Sapo (1928), pintura de Tarsila que faz referência a um poema de Manuel Bandeira (apresentado na Semana de Arte de 1922), em que a simplificação das formas da natureza ecoa essa mesma saturação cromática.

Outra modernista de primeira hora, Anita Malfatti é evocada nessa associação de Segall com os brasileiros. Seu antológico Homem Amarelo (1915-16) e suas cores antinaturalistas encontram correspondência num autorretrato de Segall (1919). Até em Portinari, de quem Segall mantinha cautelosa distância, a curadora identificou certa afinidade cromática, atestada numa relação entre sua tela Os Retirantes (1936) e os refugiados pintados na mesma época por Segall. “Um cromatismo de baixa intensidade em que predominam tons ocres e acinzentados, caracteriza a obra de ambos nesse período, em que surgem as telas monumentais de Segall”, analisa a curadora.

Além das 87 pinturas da mostra, estão reunidas séries históricas de desenhos de Segall, além de fotografias, documentos e uma única escultura, Três Jovens, concebida em pedra em 1931 e recentemente fundida em bronze (em 2001).

LASAR SEGALL: ENSAIO SOBRE A COR

Sesc 24 de Maio. R. 24 de Maio, 109, tel. 3350-6300. 3ª a sáb., 9h/21h; dom. e fer., 9h/18h. Grátis. Até 5/3/19

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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