Adriana Dorazi – especial para o Tribuna
A gestora de projetos Gabriela Rosa saiu da capital paulista e veio morar em um condomínio de chácaras em Ribeirão Preto, buscando um estilo de vida mais saudável. Adepta de alimentação o mais natural possível, põe a mão na terra quando o assunto é cultivar alimentos de forma orgânica, incluindo frutas.
Recentemente ela esteve no Parque Ecológico Municipal Ângelo Rinaldi – Horto Florestal, para buscar mais mudas, algumas nada comuns. “Não queria cultivar as frutas que encontramos com abundância nos mercados. Dei preferência a algumas mais raras e com outros sabores”, conta.
Não que na casa dela já não tenha várias espécies tradicionais produzindo, pelo contrário. A busca é aumentar a diversidade e incentivar mais pessoas a fazerem o mesmo. Gabriela inspirou a reportagem do Tribuna Ribeirão que descobriu, junto com a equipe do Horto, a existência de muitas opções gratuitas esperando mãos habilidosas e terra fértil para colorir os pratos.
“Uma alimentação saudável pode se basear nas frutas e vegetais que estão no mercado. A chave para novas experiências é ter oportunidade de saborear algo novo, que vá além da oferta restrita do comércio tradicional. Buscando diversificar saímos da monocultura, do básico e do mesmo, beneficiamos produtores regionais e aproveitamos a variedade da natureza do nosso país que é maravilhosa. Nós temos que pensar a alimentação de uma forma mais ampla e consciente”, reflete.
Um pé de quê?
Segundo Enio Galan Déo, diretor do Departamento de Planejamento Ambiental da prefeitura de Ribeirão Preto, no horto as frutas “diferentes” mais procuradas são jabuticaba, pitanga, araçá, cereja do Rio Grande e grumixama.
O horto doou mais de 13.957 mudas de todas as espécies em 2022 e outras 10.636 no ano passado. Ligado à Secretaria Municipal do Meio Ambiente, o Parque Ecológico Municipal Ângelo Rinaldi realiza doações de mudas recebidas por meio de compensação ambiental, em eventos ou no local com o objetivo de arborizar as áreas urbanas.
“Este ano, 2024, até julho foram doadas 6.760 mudas. As árvores frutíferas são bastantes procuradas. A média mensal de frutíferas doadas pelo viveiro é de 250 mudas. Mesmo número se repete nos eventos promovidos pela prefeitura”, conta Ênio.
Os especialistas recomendam, no entanto, que os interessados em cultivar essas espécies busquem informações detalhadas sobre as condições ideais de plantio e cuidados específicos para cada tipo de árvore. Com a chegada da primavera, a expectativa é de que a demanda por essas mudas continue a crescer, impulsionada pelo clima favorável.
Tanto no Horto, quanto em atacados de plantas ou viveiros comerciais, aumentou a procura por mudas de árvores frutíferas exóticas. Espécies como a lichia, tamarindo, pitaya e a jabuticaba híbrida estão entre as mais desejadas, refletindo tendência crescente de consumidores em busca de novas experiências gastronômicas e de cultivo, como é o caso da Gabriela.
Além disso, a popularização de pratos e bebidas que utilizam frutas exóticas tem despertado o interesse dos consumidores, que agora buscam cultivar suas próprias árvores em casa.
Quantas frutas você conhece?
Publicações especializadas da área de agronomia já catalogaram mais de 300 espécies de frutas no Brasil. E apesar de algumas – como a laranja e a banana – serem super populares por aqui, a origem não é nativa do país. Entre as que são cultivadas em todas as regiões brasileiras apenas algumas atingem escala comercial.
A lista de frutas brasileiras não comerciais tem nomes que você provavelmente nunca ouviu falar, como banana-de-macaco, marôlo, araticum-cagão, taperebá, cariota-de-espinho, pau-alazão, marajá, entre outras. São nativas brasileiras, por exemplo, abacaxi, cacau, caju, coco-da-baía, goiaba e maracujá. Vieram de fora: banana (sudeste Asiático), jaca (Índia), laranja (China), maçã (Eurásia), mamão (México), morango (Chile/EUA).
Algumas frutas nativas brasileiras já ganharam o mundo. É o caso do açaí, levado pela onda fitness que descobriu sua potência energética. O cupuaçu é outra que vem conquistando espaço. Mas a grande maioria ainda é desconhecida até mesmo no Brasil, com exceção da jabuticaba, do maracujá e da goiaba, frutas as quais são encontradas facilmente nas gôndolas de mercados, feiras e em outros pontos de comercialização, in natura ou na forma de sucos, sorvetes ou como ingredientes de pratos doces e salgados.
Frutas de gosto regional
A gama de plantas frutíferas nativas é grande e pode ser dividida pelos biomas brasileiros. Algumas são bem conhecidas e apreciadas regionalmente, como é o caso do pequi na região Centro-Oeste e do umbu no Nordeste. A seguir, alguns exemplos:
Mata Atlântica ‒ ameixa da mata, araçá (amarelo, vermelho, roxo, goiaba), cabeludinha, cambuci, cambucá, grumixama, guariroba, pitanga, pitangatuba, jabuticaba, uvaia, entre outras.
Cerrado ‒ buriti, araticum, murici, pequi, baru, cajuzinho do Cerrado, bocaiuva, guavira, baru, mangaba etc.
Floresta Amazônica ‒ maracujá, açaí, cupuaçu, camu-camu, cubiu, abiu, inajá, bacuripari, guaraná e outras.
Caatinga ‒ licuru, umbu, caju, maracujá da Caatinga, entre outras.
Campos Sulinos ‒ araucária, espécie dominante de florestas ombrófilas mistas, no Sul do País, também denominadas de matas de araucária. E na região dos Pampas, a feijoa, também conhecida como goiaba serrana.
O Horto
O horto está localizado na avenida Manoel Antônio Dias, nº 551, no bairro Jardim Marchesi. Para solicitar mudas de árvore e escolher as espécies disponíveis, os interessados devem comparecer ao local, munidos de documento de identidade.
Para ter direito às mudas é necessário preencher um cadastro com informações básicas e receber as orientações baseadas em um guia de “Plantio Voluntário” da Secretaria Municipal do Meio Ambiente. O horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 7h às 10h30 e das 13h às 16h30. O telefone é 3919-5099.