Entrevista
Para o deputado federal, eleição presidencial deste ano está muito polarizada entre dois extremos. Jardim quer terceira via
O deputado federal por São Paulo, Arnaldo Jardim (Cidadania), defende que o consenso é um dos principais mecanismos para fazer com o que o Brasil cresça e se desenvolva de forma sustentável. Em seu quarto mandado como deputado federal, ele trabalha pelo agronegócio com sustentabilidade ambiental e pela união de vários partidos para encontrar uma terceira via para a eleição presidencial deste ano, que segundo ele, está muito polarizada entre dois extremos.
Sua mais recente investida, junto com outros parlamentares e várias entidades foi a elaboração de um documento, uma espécie de carta de intenção, para pedir aos líderes do Congresso Nacional apoio para votar, ainda neste semestre, sete propostas legislativas relacionadas ao setor de infraestrutura. A inciativa pretende evitar que o clima eleitoral antecipado paralise o Congresso Nacional e a votação de propostas importantes para o país.
Frases destaques
“Conseguimos fazer todo o processo legislativo e de regulamentação em tempo recorde e hoje existem 23 Fiagros registrados na Bolsa de Valores com um total de R$10 bilhões. Ele será uma grande fonte de financiamento para o setor”.
“O Cidadania vai definir o assunto em sua convenção nacional e existe a grande possibilidade de fecharmos e aprovarmos a Federação com o PSDB”.
“Hoje a eleição para presidente está muito polarizada entre o Lula e o Bolsonaro. E eu não festejo este momento”.
“Acredito que a política nacional está muito radicalizada na discussão e muito superficial no embate. Estamos tendo muitos adjetivos na discussão entre os dois grupos políticos e poucos substantivos”.
Tribuna Ribeirão – Em sua avaliação as Federações Partidárias vão mudar as eleições deste ano?
Arnaldo Jardim – A Federação realmente é uma coisa muito diferente das coligações que era a união de partidos para lançar um candidato para prefeito, governador e presidente da República. As legendas se uniam em uma cidade e não necessariamente em todas. Já a Federação tem que ser feita em todos os municípios, estados e para presidente. Ou seja, se o Cidadania decidir se unir em Federação com um determinado partido esta união tem que ser feita de forma nacional. Outra caraterística é que o que for acordado agora valerá para os próximos quatro anos e valerá para as próximas eleições municipais.
O Cidadania vai definir o assunto em sua convenção nacional e existe a grande possibilidade de fecharmos e aprovarmos a Federação com o PSDB. Discutimos outras hipóteses de federação, como a com o Podemos, do pré-candidato a presidente Sérgio Moro, e com o MDB, mas sentimos que por uma questão histórica devemos no unir com o PSDB com quem temos uma longa história.
Tribuna Ribeirão – É possível aparar as arestas regionais?
Arnaldo Jardim – Não é fácil porque existem muitos conflitos regionais. Mas temos que ter uma visão geral e acredito que vamos conseguir estabelecer esta visão geral embora existam desconformidades locais nos municípios e nos Estados.
Tribuna Ribeirão – No caso de deputados, a Federação aumentará o total das candidaturas lançadas pelos partidos que a integrarem, como acontecia nas coligações?
Arnaldo Jardim – Não. A Federação significa que os partidos que a integrarem passarão a agir como um só partido. A chapa de candidatos lançados terá o mesmo número do que o de um partido que disputar a eleição sozinho.
Tribuna Ribeirão – Isso ignifica que no caso do PSDB e do Cidadania se unirem em uma Federação, só deverão concorrer os candidatos mais competitivos e com maior poder de intenção de votos.
Arnaldo Jardim – O nível de exigência dos candidatos passará a ser maior nos dois partidos. Ou seja, se elevará a régua e a chapa será mais competitiva. Com isso o total de votos necessários para um candidato da federação se eleger será maior.
Tribuna Ribeirão – Tem se falado muito em uma terceira via para candidato a presidente. O governador João Dória tem chances de se viabilizar como essa opção?
Arnaldo Jardim – Acredito que a terceira via se viabilizará. Hoje a eleição para presidente está muito polarizada entre o Lula e o Bolsonaro. E eu não festejo este momento. Acredito que a política nacional está muito radicalizada na discussão e muito superficial no embate. Estamos tendo muitos adjetivos na discussão entre os dois grupos políticos e poucos substantivos. Trabalho pela terceira via e o governador Dória é um nome para ela. Agora, mais importante do que viabilizar o Doria é viabilizar a união dos partidos para a formação da terceira via. Sou a favor que todos os partidos interessados se sentem para conversar e tornar essa proposta em realidade.
Tribuna Ribeirão – Que partidos poderão integrar a terceira via?
Arnaldo Jardim – O PSDB, o PSB, o Cidadania, o Podemos, o PDT, o MDB, o União Brasil, o PSC e o próprio PRB podem formar esta aglutinação de legendas em busca de uma alternativa para o Brasil.
Tribuna Ribeirão – Neste caso, a pré-candidatura do senador Alessandro Vieira, do Cidadania, para presidente da República, estaria descartada?
Arnaldo Jardim – A pré-candidatura do Alessandro continua. É um senador que tem boas ideias para a economia e que teve um grande destaque na CPI da Covid. Como acreditamos na convergência destes partidos em busca da terceira via a manutenção dele como pré-candidato é importante para aglutinar essas forças politicas em busca de um nome de consenso e capaz de viabilizar uma candidatura que faça bem para o país.
Tribuna Ribeirão – As eleições deste ano podem travar os trabalhos no Congresso Nacional?
Arnaldo Jardim – Estamos lançando junto com outros deputados um documento elaborado em conjunto para pedir aos líderes do Congresso Nacional apoio para votar, ainda neste semestre, sete propostas legislativas relacionadas ao setor de infraestrutura. Os projetos são o do novo modelo de debêntures de infraestrutura, o novo marco do licenciamento ambiental, a proposta de securitização de dívidas públicas, o novo modelo do setor elétrico, o marco da mobilidade urbana, a revisão da Lei das Agências e a revisão da Lei de Concessões. Estamos sendo apoiados por várias entidades e vamos entregar a proposta para a presidência do Senado e da Câmara dos Deputados. Nossa articulação é para que ainda no primeiro semestre do ano os líderes e as presidências das duas casas legislativas trabalhem num esforço concentrado para a votação de todas essas propostas.
Tribuna Ribeirão – O senhor tem uma forte ligação com o agronegócio e o meio ambiente. A região de Ribeirão Preto precisa ampliar suas ações nestes dois setores?
Arnaldo Jardim – Tenho algumas convicções como a de que é preciso combinar o pequeno, o médio e o grande produtor. Temos que trabalhar em conjunto com estes três segmentos gerando desenvolvimento social e econômico. Sou um defensor do agronegócio com sustentabilidade. Na Câmara dos Deputados pudemos analisar um projeto que estava lá, parado, há doze anos: o pagamento dos serviços ambientais. Ele reconhece o trabalho que o agricultor faz na preservação ambiental e o ambientalista reconhece que é preciso produção. Fui o relator da matéria e atualmente estamos em fase de regulamentação mostrando que podemos conciliar o meio ambiente com a agricultura e a agricultura com a sustentabilidade. Como secretário estadual da Agricultura de São Paulo trabalhei pela ampliação do cadastro rural ambiental e pela regularização ambiental. O agricultor quer solo cuidado e preservado e a natureza mantida em sua biodiversidade. Sou o agro que tem compromisso com a sustentabilidade.
Tribuna Ribeirão – Como o senhor avalia as pesquisas na agropecuária brasileira?
Arnaldo Jardim – Sou um entusiasta das pesquisas no setor agrícola. Nos últimos 25 anos o Brasil quadruplicou sua produção agrícola enquanto a área utilizada para o plantio cresceu somente 28%. Isso graças às pesquisas que geraram o aumento da produtividade. Ribeirão Preto não é só capital agro, mas capital da inteligência do agro. Temos uma gama de grandes centros de pesquisa e de empresas que investem no setor.
Tribuna Ribeirão – O que é o Programa Fiagro?
Arnaldo Jardim – É uma proposta minha que criou um fundo de investimento para o agro. A ideia é semelhante a dos fundos Imobiliários que hoje são um sucesso no país. O projeto foi apresentado em outubro de 2020 e já está em funcionamento. Conseguimos fazer todo o processo legislativo e de regulamentação em tempo recorde e hoje existem 23 Fiagros registrados na Bolsa de Valores com um total de R$10 bilhões de reais. Ele será uma grande fonte de financiamento para o setor.
Tribuna Ribeirão – A Agrishow deste ano vai servir de vitrine para este programa de financiamento?
Arnaldo Jardim – Com certeza o Fiagro será muito debatido na Agrishow. Já conversei com o presidente da feira, o Francisco Matturro e a ideia dele é fazer eventos específicos debatendo este tipo de financiamento. As instituições financeiras e cooperativas como a Coopercitrus, que estarão na feira, terão o Fiagro na pauta de seus eventos.
Tribuna Ribeirão – Qual sua expectativa em relação a retomada da Agrishow?
Arnaldo Jardim – Estou muito entusiasmado com a retomada da feira depois da interrupção de dois anos causada pela pandemia do coronavírus. Acredito que vamos ter um evento que marcará um novo momento para o setor agropecuário brasileiro.
Tribuna Ribeirão – O Cidadania em Ribeirão Preto é considerado um partido pequeno.
Arnaldo Jardim – Em Ribeirão Preto temos um ótimo vereador, o Marcos Papa que é muito atuante e vale por um batalhão. Estamos trabalhando para fazer o partido crescer na cidade.