José Antônio Lages *
Não venham me dizer que tudo isso não era previsível! Desde que o candidato bolsonarista ganhou as eleições para governador de São Paulo, sabíamos perfeitamente que a inteligência, o pensamento crítico, a ciência e a cultura seriam jogadas no lixo. Sumariamente. E ainda pegou como fiel escudeiro um secretário da Educação, Renato Feder, que vai literalmente, fazer de tudo para jogar a pá de cal na educação pública do nosso estado. Mas, podem ter certeza, nós, professoras e professores, resistiremos! Resistência tem sido nosso DNA em todos esses anos.
Na mesma semana em que a polícia de Tarcísio de Freitas perpetrou uma chacina de 16 mortos no litoral paulista, por pura vingança, a Secretaria Estadual da Educação definiu que será utilizado um material próprio e digital nas turmas entre o entre o 6º e o 9º anos do ensino fundamental e no ensino médio, o conteúdo será 100% digital. O Ministério Público de São Paulo instaurou na última quinta-feira um inquérito para apurar esta decisão do governador de não aderir ao Programa Nacional de Livros Didáticos do Ministério da Educação, a partir de 2024.
Vieram-me rapidamente à lembrança as grandes queimas de livros registradas na história. Desde o grande incêndio da Biblioteca de Alexandria, no Egito, quando foram destruídos 40 mil livros e um milhão de documentos. Até uma das mais famosas e recentes, em 10 de maio de 1933, quando foram queimadas em praça pública, em várias cidades alemãs, as obras de escritores alemães inconvenientes ao regime. Hitler e seus comparsas pretendiam uma “limpeza” da literatura. Esta decisão hedionda de Tarcísio e Feder se inspiram diretamente no nazi-fascismo. Não há a menor dúvida!
A promotora Fernanda Peixoto Cassiano considerou que a medida foi adotada sem um debate prévio com a comunidade escolar e que a decisão pode infringir os princípios constitucionais de gestão democrática do ensino público. Mas Tarcísio e Feder nunca ouviram falar em gestão democrática… A Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais avalia a mudança como “radical” e aponta ser a primeira vez que a rede estadual paulista fica de fora do programa nacional de livros. A entidade prevê que 1,4 milhão de alunos deixarão de receber livros físicos a partir do ano que vem.
O famoso advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, mais conhecido como “Kakay“, publicou um artigo nesta sexta-feira (4) – intitulado “Sem livros, ninguém sabe o que é chacina” – com duras críticas ao governador de São Paulo. Para ele, a decisão da gestão Tarcísio de tirar os livros impressos das escolas parece até piada, mas na realidade “é uma estratégia de dominação. O livro é forte inimigo das ditaduras, do fascismo e da barbárie. O livro, trocado por uma arma, alimenta todas as formas de obscurantismo.”
Continua
Tarcísio e Feder estão numa cruzada contra a educação. Além da fogueira de livros, querem também impor itinerários formativos de ensino técnico e profissional que são a formação da juventude para o trabalho precário e uberizado avançando com a privatização da educação. E ainda baixou também uma portaria para que os diretores controlem as aulas dos professores com observações diárias e produzam relatórios sobre isso.Essa medida busca controlar o que os professores ensinam em sala de aula, minando a liberdade de cátedra, prevista na Constituição. Mas resistência tem sido nosso DNA em todos esses anos. Vamos resistir!
* Consultor técnico-legislativo e ex-vereador em Ribeirão Preto (Legislatura 2001-2004)