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Aposentadoria ‘tartaruga’

 “Me sinto enganado”. Esse é o sentimento do contador Gildásio dos Santos em rela­ção à demora na resposta no processo de aposentadoria que deu entrada há um ano no INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social. Gildásio contribuiu por 36 anos e con­tinua trabalhando ‘por conta’. 

Se Gildásio se sente enga­nado, o empresário José Luiz Santili, de 65 anos, tem a sen­sação que não vai se aposen­tar. “Parece que as coisas não vão acontecer e alguém vai receber por mim”. 

Santili espera uma defini­ção há quatro anos. “Contribui por 42 anos, recolhi tudo cer­tinho, mas a primeira resposta foi que eu teria contribuído por apenas três anos e meio. Eu ri. Entramos com recur­so. Isso foi em julho de 2015 e estou esperando. Passei por greves, mudanças e tudo mais. Agora, quando fiz 65 anos, en­trei com o pedido por idade, mas não obtive resposta. Isso foi em janeiro. Os dois proces­sos estão rolando,” diz. 

Paulo Pastori, advogado especialista em previdência: a Lei diz que o INSS tem 45 dias para analisar o pedido apresentado e decidir. Não conse­guem fazer isso neste prazo. Hoje temos pessoas aguardando a 150, 180 dias ou mais

Reclamações sobre len­tidão em processos no INSS – Instituto Nacional de Segu­ridade Social sempre foram recorrentes. Mas nos últimos meses, por conta de mudan­ças no sistema, que deixou de ser presencial e passou para virtual, essas reclamações aumentaram. Outro fator apontado por especialistas é a Reforma da Previdência que pode ajudar na demora. 

Por Lei, o prazo máximo para o INSS dar uma resposta para o beneficiário sobre apo­sentadoria ou outro benefício é de 45 dias, segundo decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Na prática esse prazo está sendo desrespeitado e estima-se que aproximada­mente 1,4 milhão de pessoas estejam aguardando uma res­posta em todo o país. 

“A Lei diz que o INSS tem 45 dias para analisar o pedi­do apresentado e decidir. Não conseguem fazer isso nesse prazo. Hoje temos pessoas aguardando há 150, 180 dias ou mais uma decisão sobre seu pedido de aposentadoria por tempo de serviço, tempo de contribuição, especial, idade”, ressalta o advogado especialis­ta em previdência, Paulo Pas­tori. “Tudo acontece devido à implantação do sistema cha­mado ‘Meu INSS’, que não está plenamente em uso devido a falhas na implantação e tam­bém em outro sistema que se chama ‘Cadastro Nacional de Informações Sociais – CNIS,” acrescenta Pastori. 

O advogado compara o sistema atual com o antigo. “Chegamos a ter concessão de benefícios em prazo me­nor que os 45 dias recomen­dados. Alguns casos até no ato do próprio do protocolo já saiu deferido ou indeferi­do. Hoje, não podemos dizer que isso está ocorrendo”, diz. 

 

Fechamento de agência em RP 
Informações apontam que o INSS deverá aposentar 11 mil funcionários em 2019, sem previsão de substituição ou no­vas contratações. A escassez de funcionários deve atingir a re­gião Ribeirão Preto. 

Atendimento que antes era presencial, passou a ser virtual, pelo site do INSS

Ainda na cidade, os servi­ços devem ficar prejudicados com o fechamento de uma unidade na Avenida Quito Junqueira, nos Campos Elíse­os, com os atendimentos sendo centralizados na unidade da rua Amador Bueno, Centro. 

“A falta de funcionários e fechamento de agências prejudicam muito. Sabemos que serão fechadas outras agências no país, como ocor­re o mesmo com o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Vai ficar mais difí­cil a todos que dependem da agência do INSS em Ribeirão Preto, pois tudo será feito em um único prédio, vertical, e o outro sendo horizontal fa­cilitava muito aos segurados impossibilitados de se loco­mover com maior facilidade, pois a presença diária de pes­soas ao local é de doentes e idosos”, diz Paulo Pastore. 

 

INSS não responde questionamentos 
A reportagem do Tribu­na entrou em contato com a assessoria do INSS em ní­vel nacional, estadual e lo­cal, solicitando informações como: número de pedidos de aposentadoria na região de Ribeirão Preto em análise; sobre a demora nas respostas aos atendimentos virtuais e como ficam os atendimentos presenciais; o quê o cidadão tem que fazer para sanar as dúvidas; qual a média de es­pera a partir da entrada de documentos para a aposenta­doria na nossa região; quan­tos servidores devem aposen­tar-se na região de Ribeirão Preto nos próximos anos; e por que o fechamento da agência do INSS na avenida Quito Junqueira. 

A exemplo dos 1,4 milhão de pessoas que aguardam respostas do Instituto, a nos­sa reportagem também não foi atendida em tempo hábil e as respostas não foram en­viadas até o fechamento desta edição, apesar de disponibili­zados todos os meios de co­municação. 

Agência do INSS da avenida Quito Junqueira será fechada e atendimento será único na rua Amador Bueno, no Centro

 Defensoria Pública entrou com ação 
Diante da demora na informação sobre direito ou não à aposenta­doria, a Defensoria Pública da União apresentou ação civil pública contra o INSS. 

Pior que a espera pela resposta, é a resposta negativa. Nesses casos a solução pode estar em uma ação judicial, com o apoio de um advo­gado especialista. “Cada caso deve ser analisado de forma individu­al. Não deve ser comparado a outro caso, de amigo, conhecido ou familiar”, diz o advogado Paulo Pastori. 

Ele recomenda o mesmo para quem está prestes a se aposentar. “As pessoas que já tem tempo para aposentadoria devem ter muito cuidado em sua decisão, pois a Reforma da Previdência, em alguns casos, pode trazer prejuízo ao trabalhador. Mas para outros, é melhor aguardar mais um tempo e continuar trabalhando e contribuindo, pois o prejuízo com a aplicação do chamado fator previdenciário é muito maior,” diz. 

Cada vez menos benefícios – Na prática os números apontam que menos pessoas estão tendo o pedido de aposentadoria aceito pelo INSS. Em 2018, segundo dados do Resultado do Regime Geral da Previdência Social, foram 312,4 mil benefícios aprovados contra 325,4 mil no ano anterior. Em se tratando de aposentadoria rural, a queda foi de 891,1 mil para 855,2 mil. 

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