Há uma frase muito popular que diz: “a única certeza que temos na vida é a morte”! E apesar de ser um processo natural e realmente uma certeza, muitos a temem! Esquivam-se de comentar o assunto ou não se preparam para ela. Isso para a grande maioria, não para o aposentado Luiz Roberto Rossi de Lucca, 61 anos, o Robertinho. Ele já escolheu e cuida do próprio túmulo, o caixão e funeral e tem clara a maneira como quer morrer.
Robertinho disse que comentou uma vez com a esposa, Solange, carinhosamente chamada por ele por Sola, que quando morresse gostaria de uma foto bonita dele na lápide do túmulo. “Ela disse que não iria dar bola e eu comecei a pensar em deixar tudo pronto e deixo que quero”, explica.
Então, o aposentado mandou fazer uma foto, foi ao jazigo da família dele, no Cemitério da Saudade, e iniciou os preparativos para o funeral, em vida. “Quando eu morrer tá tudo pronto, ninguém vai precisar se preocupar com nada”.
A foto é dele em uma mesa de som. Robertinho era sonoplasta em uma emissora de TV. “Era um dos locais que eu mais gostava. Que mais gosto na minha vida. Quero que as pessoas se lembrem de mim assim”, diz. Também colocou uma mensagem: -“A vida continua”. “Eu acredito nisso, que estamos aqui de passagem. Que vamos voltar para o nosso local de origem. Aqui é o inferno. É só ver essa violência toda”, filosofa.
Enterrado em um caixão ‘Ferrari’
Na lápide, apesar da foto, Robertinho não colocou data da morte. “Claro que não, a vida continua”, brinca. Ele também escolheu o caixão. É um vermelho e denominado ‘Ferrari’. “Eu escolhi porque quando a gente aposenta todo mundo começa a ligar. É banco, plano de saúde e até serviço funerário. Como eu quero tudo certinho, fui ver”, explica.
“Não é só o caixão. Tem um ritual todo no funeral, não é simples”, acrescenta. O caixão ou urna, como é tecnicamente chamado, custa algo em torno de R$ 34 mil e pode ser parcelado em dez vezes. Além do caixão, há uma diferenciação no velório com serviço de copa, no traslado, como por exemplo, chuva de pétalas de rosa jogadas de um helicóptero.
“Não sou louco, sou realista”
A naturalidade e bom humor com que trata a morte geram comentários. “Uns acham que eu sou louco, não sou louco, sou realista. Vocês que são loucos em acharem que vão ficar aqui nessa terra para sempre. Eu sei que um dia vou morrer, tenho diabetes, hipertensão, tive câncer, coloquei quatro molas no coração. Um dia vou morrer”. “Mas acho que a morte passa aqui pra me buscar, mas vê minha foto lá no cemitério e fala: esse ai já tá morto”, ri.
O aposentado diz que por outro lado alguns o elogiam pela coragem. Quanto aos familiares, diz que a esposa leva na brincadeira, mas que de vez em quando chama a atenção dele. “Mas eu falo que estou falando sério e que ela não vai gastar dinheiro com minha morte”, brinca.
Outro detalhe importante. Robertinho quer uma morte rápida. “Prefiro que seja acidente de carro ou avião, sem sofrimento. Bater e morrer. Não quero ficar sofrendo em uma cama de hospital”.
Enquanto vive, Robertinho passa o tempo divertindo-se nas redes sociais. Posta vídeos das comidas que a esposa prepara e de viagens. “Gosto de postar coisas boas”. Mas a morte também ganha destaque nessas postagens. “Dias atrás fui visitar o meu túmulo e afundei a perna na poça d’água. Fiz uma foto e brinquei com o assunto”, finaliza.
Caixões chegam a custar R$ 40 mil
As urnas de sepultamento, ou como são popularmente conhecidos, os caixões, podem custar de R$ 3,9 mil a R$ 40 mil. Os serviços de sepultamento também são diferenciados e são comparados a eventos, como cerimônias de aniversário.
Há urnas de vários formatos e caso a pessoa queira estilizar, pode fazê-lo com antecedência. São homenagens à santos, clubes de futebol ou algo que a pessoa queria que cause uma lembrança à sua vida.
Nilson Santiago Garcia, de 56 anos, trabalha há 29 anos na Rede Ideal de Assistência Familiar e diz que apesar do valor, as cerimônias de despedida são comuns e acontecem com frequência. “Em média, umas quatro a cinco por mês”.
“São homenagens póstumas em que as pessoas são recebidas como se estivessem em um hotel, por exemplo, com café da manhã, chá da tarde, salas especiais e privativas para familiares” conta. “Há momentos de homenagens como músicas com violino ao vivo; no sepultamento cada pessoa recebe uma rosa e um cartão que conta a vida da pessoa que morreu”, explica.
Santiago e membros da direção da empresa viajaram para o exterior para conhecer as homenagens, muito comuns nos Estados Unidos, por exemplo. “Mas essa tendência também está chegando aqui no Brasil e nós estamos preparados para fazer essas homenagens”, finaliza.
Um metrô no Cemitério da Saudade
Luiz Roberto Rossi de Lucca, o Robertinho, não só já escolheu túmulo, caixão e funeral, como também conhece como poucos o local onde será enterrado, o Cemitério da Saudade.
Em uma das visitas, Robertinho conheceu o metrô do cemitério. Uma espécie de ruas por baixo dos túmulos. “Verdade, eu conheço por cima e por baixo”, brinca.
“Andei nesse metrô de ponta a ponta. Dá pra ver túmulos abertos, mas tem muitas baratas”, comenta.