Os cerca de 600 motoristas de ônibus de Ribeirão Preto decidiram continuar em greve até que as empresas integrantes do Consórcio PróUrbano – grupo concessionário do transporte coletivo na cidade, formado pelas viações Rápido D’Oeste (50%) e Transcorp (50%) – efetue o pagamento do vale e do salário de maio.
No início da manhã desta segunda-feira, 7 de junho, o Sindicato dos Empregados em Empresas de Transporte Urbano e Suburbano de Passageiros de Ribeirão Preto (Seeturp) promoveu assembleias com a categoria, que decidiu permanecer em greve. Com isso, apenas 35% da frota de ônibus rodou na maior parte deste primeiro dia de flexibilização das medidas mais restritivas.
Nos horários de pico, compreendidos das seis às oito horas da manhã e das 17 às 19 horas, a quantidade subiu para 50%. Segundo o Seeturp, 280 ônibus deveriam rodar pela cidade a partir de ontem, mas apenas 140 foram às ruas. De acordo com o sindicato, o vale do último dia 20 – no valor de R$ 1 milhão, aproximadamente – ainda não foi creditado.
Nesta segunda-feira, as empresas também teriam de creditar o valor referente à folha de pagamento de maio, que por lei é paga no quinto dia útil subsequente ao mês trabalhado. A greve dos motoristas de ônibus começou em 24 de maio e prosseguiu no dia 25, sem nenhum veículo nas ruas. Eles retornaram ao trabalho no dia 26.
O retorno foi motivado por uma decisão do desembargador Francisco Alberto da Motta Peixoto Giordani, do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (TRT- 15), que concedeu liminar ao consórcio e determinou a volta gradual da circulação dos ônibus do transporte público. Porém, no dia 27 a cidade entrou em lockdown e o transporte coletivo urbano foi suspenso.
A volta estava marcada exatamente para segunda-feira. O Consórcio PróUrbano conta com 356 veículos que cumprem 118 linhas em Ribeirão Preto, mas na pandemia o grupo trabalha com 80% de seu potencial.
Em caso de desobediência, o Seeturp terá de arcar com multa diária de R$ 1 mil por cada trabalhador.
Questionado pelo Tribuna sobre quando pagará os motoristas, o PróUrbano informou, em nota, que o sistema de transporte de Ribeirão Preto sofre com o déficit de passageiros, que se arrasta há mais de um ano, decorrente da pandemia de coronavírus.
“O lockdown agravou ainda mais essa situação, zerando as receitas do Consórcio PróUrbano e não havendo caixa para realizar o pagamento dos funcionários e as demais contas que estão em atraso. Conseguimos fazer hoje (ontem) o pagamento do vale alimentação dos nossos motoristas”, diz.
“Sobre a oferta de 50% dos ônibus nas ruas em horário de pico e 35% no restante do dia, falta mão de obra devido a greve dos motoristas, em atendimento a liminar do Tribunal Regional do Trabalho (TRT)”, diz o texto. Nesta terça-feira (8) uma nova audiência virtual entre sindicato e o concessionário está marcada na Justiça do Trabalho.
Sobre o repasse de R$ 17 milhões da prefeitura para o consórcio, o presidente do Seeturp, João Henrique Buno, afirma que estes recursos dizem respeito ao PróUrbano e não aos trabalhadores do setor. “Somos contratados pela Rápido D”Oeste e pela Transcorp e não pelo PróUrbano. Portanto, nossos vínculos trabalhistas são com as duas empresas, e são elas que tem de nos pagar”, afirma.
Instituto, Acirp e Observatório emitem nota contra prefeitura
Assinam a nota o Instituto Ribeirão 2030, a Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp) e o Observatório Social de Ribeirão Preto. Leia o comunicado com críticas à prefeitura na íntegra:
“O poder público, após proibir por dez dias a maioria das atividades econômicas, ofereceu nesta segunda-feira (7) um transporte coletivo com número reduzido de veículos, em decorrência da manutenção da greve dos motoristas, cuja lotação coloca em risco a saúde de toda a coletividade e agrava o descontrole sanitário.
Não tratamos, aqui, dos motivos que levaram à greve. Focamos em seus desdobramentos. É simbólico que transcorrido um ano e três meses do primeiro caso de covid-19 no município, bem como no primeiro dia após o encerramento do período mais restritivo adotado pelo Executivo local, o transporte de passageiros ainda apresente potenciais riscos.
Desde o início defendemos que a prefeitura adote medidas preventivas ao agravamento da pandemia, principalmente no reforço à fiscalização e conscientização do cumprimento das normas sanitárias. Isso inclui, obviamente, os serviços sob sua própria responsabilidade, como o transporte coletivo, que poderia passar por escalonamento dos horários, em medida combinada com os setores produtivos.
O Executivo, porém, prefere a repetição de sua fórmula: não envidar todos os esforços necessários à prevenção para, no iminente colapso do sistema de saúde, fechar indiscriminadamente os setores de comércio e serviços, colocando em risco milhares de vidas e empregos. A insistência nesse modelo foi, é e será prejudicial a todos nós.”