Nicholas Santos é fisioterapeuta com MBA em gestão empresarial. Hoje, é sócio em uma consultoria de capacitação de profissionais de educação física. Gosta de passar os fins de semana com a família, mesmo que as noites de sono sejam curtas depois que o filho, também Nicholas, nasceu há dois anos. Aos 38 anos, o cabelo cortado rente não esconde a calvície que está chegando. Para descrever Nicholas também é preciso citar que ele é o nadador mais velho a conquistar uma medalha em campeonatos mundiais de natação.
Na semana passada, o veterano se sagrou bicampeão mundial e recordista dos 50 metros borboleta no Mundial de piscina curta (25 metros) em Hangzhou, na China. Com o 21s81, ele não entortou apenas as noções do tempo, vencendo os mais jovens. Ganhou de atletas muito talentosos, como o sul-africano Chad le Clos, campeão olímpico em 2012 ao derrotar o norte-americano Michael Phelps nos 200 metros borboleta em Londres.
Nicholas caiu na água duas vezes em 40 minutos para conquistar dois pódios. Além dos 50 metros borboleta, também ajudou o revezamento 4×50 metros medley masculino a levar o bronze. “Acho que poderia ser mais rápido se não fosse o revezamento”, disse o nadador à reportagem do Estado. A maneira como o atleta da Unisanta (Universidade Santa Cecília, em Santos) conseguiu a façanha é uma longa história, que inclui um equilíbrio invejado entre corpo e mente.
A primeira providência foi reconhecer a limitação da idade. Aquele diploma de fisioterapia faz com que ele use seus conhecimentos em seu próprio benefício. Seus treinos são mais curtos. Há 10 anos, costumava nadar cerca de 10 mil metros por dia. Hoje faz três mil. Para suportar as dores, companheiras do dia a dia, ele faz pilates, massagens e usa aparelhos de recuperação muscular.
Ele treina bastante o ritmo de prova e a técnica. A musculação é pesada e com pouco tempo de descanso. Por causa da idade, o repouso excessivo significa perda de massa muscular. Nada de refrigerantes, leite (e todos seus derivados) ou glúten. O atleta tem, em média, 6% de gordura.
Por fim, centrou foco em uma prova rápida que, segundo ele, não traz uma fatura muito alta no quesito resistência. “Por ser formado em fisioterapia, estar em uma empresa de treinamento, em contato com os maiores profissionais na área de treinamento e educação física, hoje entendo melhor o que meu corpo precisa para nadar bem”, afirmou.
A cabeça também merece cuidados especiais. Nicholas trata de traçar objetivos bem claros e correr atrás, ou melhor, nadar atrás deles. O próximo já está definido. Bater o recorde no Campeonato Mundial de piscina longa, de 50 metros, onde ele tentará conquistar a medalha que lhe falta nos 50 metros borboleta: o ouro que escapou em Kazan (2015) e Budapeste (2017)
“Gosto de malhar e de treinar muito. É cansativo, doloroso, estressante, mas não é difícil. Administro lesões que eventualmente acabo tendo. Competir é fácil, o difícil é a rotina do dia a dia”, explicou.
Na próxima Olimpíada, em 2020, no Japão, Nicholas será um quarentão enxuto que vai se concentrar nos 100 metros borboleta – a prova dos 50 metros não faz parte do programa olímpico. Outro desafio é fazer o pequeno Nicholas dormir. O herdeiro dá trabalho mesmo depois da escolinha. De natação.