O 13º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU) para orientar governos e sociedadesa construir um presente e um futuro digno é “Ação contra a mudança global do clima”. Há conhecimento científico das causas e consequências das mudanças climáticas nas escalas global, continental e até mesmo regional. Diagnósticos dos efeitos da mudança do clima na escala local – município e cidade – ainda estão por serem devidamente formulados. Sabe-se que diagnosticar corretamente uma doença é fundamental para definir o seu tratamento e sua cura.
O contexto local insere-se, obrigatoriamente, em escalas de menor grandeza. Lembre-se que quanto maior a riqueza de detalhes, maior é a grandeza. Para efeito de análise do clima de uma cidade, não é possível desconsiderar fenômenos meteorológicos que agem em porções continentais, como por exemplo a movimentação das massas de ar. A posição geográfica e as características físicas dosítio urbano, tais como relevo, embasamento geológico, rede hidrográfica, cobertura vegetal, uso e ocupação do solo e densidade demográfica, também são determinantes na definição do clima local.
Se tomarmos como exemplo Ribeirão Preto, município do interior paulista, já é perceptível os efeitos da mudança do clima. A aridez é o cenário atual e futuro. A título de comparação, fui em busca dos dados pluviométricos anuais no sítio eletrônico do Ciiagro (Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas) da Secretaria de Estado da Agricultura, para as décadas de 90 e de 10. De 1991 a 2000 choveu 14.858 mm.
Apenas um ano desta década – 1994 – teve índice inferior a 1.400 mm. Do início de novembro de 2009 a esta semana de 2019, choveu 12.462 mm. A diferença é de 2.396 mm. Isto corresponde a quase dois anos de chuva a menos. Dos últimos 10 anos, 6 tiveram índice pluviométrico inferior a 1.400 mm. Em 2014, pela primeira vez nos registros, o índice foi inferior a 900 mm.
Vale registrar que o problema das enchentes é eventual e localizado e revela a ocupação urbana equivocada nos fundos de vale. Aliás, ainda estamos canalizando córregos e ocupando suas margens com vias.
Além dos menores índices de precipitação, também devem ser analisadas as taxas de evaporação que certamente estão bem mais elevadas. Isto ocorre porque os índices de radiação solar e as temperaturas estão atingindo extremos com uma frequência muito maior. É muito provável que estejamos enfrentando estresses hídricos anuais, sobretudo no inverno e início da primavera. Os efeitos dessa e de outras mudanças precisam ser monitorados na vida social e econômica de um município. Na recente revisão do Código Municipal do Meio Ambiente, prevê-se a elaboração de diagnósticos para compreender como as mudanças climáticas afetam Ribeirão Preto, bem como, de que maneira a cidade contribui para o aquecimento global.
Neste sentido, uma ferramenta disponível é a avaliação de vulnerabilidade de territórios, disponibilizada pela Convenção das Mudanças Climáticas da ONU. Este diagnóstico é focado na questão de como se adaptar às mudanças e não como mitigá-las. É importante compreender que os riscos não são gerados unicamente por circunstâncias externas ao território, mas sim o resultado de complexas interações entre comunidade, ecossistema e os perigos decorrentes das alterações do clima. Características biofísicas, socioeconômicas e culturais interagem com as mudanças climáticas e revelam os riscos potenciais, mas também podem orientar os planos de adaptação.
Para Ribeirão são conhecidas características que certamente aprofundam os efeitos da mudança climática global. Cita-se: grande consumo energético para manter ambientes internos climatizados; grande consumo de cimento que em sua fabricação emite muito CO2; uso de fertilizantes nitrogenados na agricultura; grande geração de resíduos sólidos com aproveitamento pífio em reciclagem e compostagem; alimentação rica em proteína animal de origem bovina; consumo de combustíveis fósseis pela expressiva individualização da mobilidade por meio de automóveis; índice de cobertura vegetal aquém da necessidade; entre muitos outros.
Como parte da governança ambiental de um território, é de grande importância a visão de mundo de sua população e de seus governantes. Antecipar medidas e reorientar rumos visando mitigar e adaptar-se às mudanças climáticas são atitudes desejadas e esperadas. Já é hora de sermos contemporâneos. Anoitecem os riachos sem a presença das rãs.