A assistente social Luciana Renée Andrade Lima não teve uma noite de Natal de boas lembranças. Ela passou a madrugada em uma clínica veterinária por conta dos ferimentos em sua cachorra She-Ha, uma cadela idosa e de grande porte – cruzamento de pitbull com vira-lata. Luciana e a família foram passar a ceia em um rancho. Levou alguns animais menores, mas não pôde levar a She-Ha. Com os fogos de artifício, a cadela estourou uma porta de vidro, se cortou e quase morreu. O drama foi compartilhado nas redes sociais e em menos de 24 horas teve mais de 30 mil curtidas e comentários.
“Temos quatro cachorros, mas a She-Ha é de grande porte, não tinha como levá-la. Tomamos os cuidados que sempre tomamos. Tiramos materiais cortantes, colocamos algodão no ouvido dela, demos um calmante, mas não foi suficiente”, conta. “Como temos muita preocupação, eu e meu marido resolvemos, por volta da 1h30, deixar a festa e ir em casa para ver como ela estava. Encontramos uma cena horrível. Ainda bem que conseguimos uma clínica veterinária para o atendimento”, diz.
Luciana conta que a cachorra estourou uma das portas da casa, de vidro, e mordeu as estruturas. “Ela teve cortes no corpo, na pata e no céu da boca. Teve que tomar pontos e perdeu muito sangue. Ainda bem que resolvemos passar em casa, senão poderia ter sido muito pior”, fala. “A gente sempre toma cuidados mesmo, no Ano-Novo nem saímos por conta disso, mas não imaginávamos que iriam soltar tantos fogos de artifícios no Natal”, ressalta.
“Nós tomamos cuidados, mas e os animais de rua? E aquelas pessoas que viajam? E crianças que sofrem? Na postagem do Facebook tive muitos comentários de relatos de cães e pássaros que morreram e alguns que fugiram”, finaliza.
A protetora de animais Vylna Cassoni, diretora da ONG Seja Cãociente, concorda. “Sim, é um problema muito sério. Não só os cães sofrem, mas há pássaros e outros animais que têm problemas com os fogos de artifício”, explica. Segundo ela, o número de cães que fogem para rua assustados com o barulho é muito grande.
“Além do estresse, a agitação por conta do barulho pode causar ferimentos quando os animais buscam por abrigo. A elevação da temperatura corporal também pode desencadear sintomas como vômito e diarreia. Não deixe os animais presos com correntes e nem no quintal.Já vi animais se enforcarem por estar acorrentado”, conta a protetora.
Segundo o médico veterinário do Canil Von Haus Henri, Matheus David Cesca, para alguns animais o estresse pode ser tão grande que há o risco de enfarte, derrame e até óbito ocasionados por medo de fogos de artifício. “Aqueles cães que sofrem muito e ficam apavorados, vale medicar. O veterinário pode prescrever um neuro relaxante que deve ser ingerido pelo cão um pouco antes do início dos fogos, ou ainda um medicamento homeopático, este é necessário iniciar o tratamento com alguns dias de antecedência”, comenta.
O veterinário também explica que alguns cães sofrem mais que outros com os fogos. Isso se deve à criação do animal. Aquele que vive num ambiente com mais barulho externo não sente tanto medo, mas aquele que vive num ambiente muito silencioso, sem contato com a rua, longe de barulhos e pessoas diferentes, fica mais suscetível ao medo.