João Camargo
Nas últimas semanas, entidades e grupos voltados para a causa animal se uniram para cobrar o poder público políticas públicas em relação à saúde pública e ao bem-estar. Por meio das redes sociais, essas organizações fizeram a publicação de um manifesto, abordando um possível crescimento populacional desenfreado de cães e gatos em Ribeirão Preto.
De acordo com esse texto publicado por pelo menos 11 grupos de proteção animal, muita coisa se agravou na cidade por falta de políticas públicas voltadas para essa causa. “Por mais que a sociedade se mobilize, não é possível sanar um problema tão grave sem a iniciativa do poder público, que tem o dever de zelar por todos, inclusive pelos animais”, informou trecho do manifesto.
A publicação ressalta ainda que o crescimento populacional desenfreado desses animais causa uma série de transtornos nos centros urbanos. Entre estes, são citados o risco de transmissão de doenças, acidentes de mordedura e de trânsito, sujeira, ruídos, possíveis conflitos nas vizinhanças, além de desequilíbrio na vida silvestre.
“Ribeirão Preto tem uma história pujante no cenário nacional, porém com uma atuação insignificante para lidar com os graves problemas sociais que acometem a cidade. Em relação aos problemas relacionados aos animais, muita coisa agravou-se, justamente pela falta de políticas públicas, bem como pelo desinteresse dos políticos”, diz outro trecho do manifesto.
Segundo o Ministério da Saúde, estima-se, com base nos dados censitários, que a população de cães e felinos pode variar de 10 a 20% da população humana do município. Em Ribeirão Preto, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população estimada (2020) da cidade é de 711.825 habitantes.
Para Maria Cristina Dias, Cris Dias, representante da Associação Vida Animal (AVA) e atual presidente do Conselho Municipal de Bem-estar Animal, o objetivo dessas ações é unir as pessoas e fortalecer a causa. Ela ressalta ainda que agora é a hora para se encaminhar para coisas sérias, como políticas públicas e bom uso do dinheiro público.
Cris Dias ainda completa dizendo que o próximo passo dessas ações é a criação de um grupo que será chamado “Grito Pelos Animais”, que será divulgado por meio das entidades que estão trabalhando juntas. “Isso será feito para que as pessoas tenham acesso, se informem sobre a realidade dos fatos, comecem a se movimentar e a nos ajudar a mudar essa realidade que não faz bem para ninguém”. disse.
Outro lado
Questionada pelo Tribuna, a Divisão de Bem Estar Animal (DBEA) informou que atualmente atende 115 cães e 40 gatos, ou seja, quando questionada tinha 155 animais no setor em atendimento. Além disso, comunicou que faz a castração gratuita de animais comunitários, o recolhimento temporário de animais abandonados em situação de risco — existindo programa específico para felinos, denominado CED (Capturar, Esterilizar e Devolver) —, resultando na diminuição da população de animais em locais específicos de abandono.
Contudo, ressaltou que as estruturas de atendimento são insuficientes para a demanda. O DBEA declarou ainda que tem suas atribuições estipuladas na Lei Complementar Municipal nº 3062/21, como órgão de implementação de políticas públicas voltadas ao bem-estar animal, atuando como órgão de apoio às ocorrências, prestando avaliação da saúde física dos animais em situação de risco, seja por abandono ou maus-tratos.
Disse também que promove “de forma gratuita o trabalho de castração, vacinação e implantação de microchip nesses animais, efetuando diligências para acompanhamento da demanda até sua finalização, objetivando a adequação da situação do animal no seu lar de seu tutor de origem ou a sua recondução para adoção, quando se fizer necessário, dentro da legalidade que a situação exige.”
Abandono de animais
Recentemente, um cachorro foi encontrado em uma caçamba de lixo no Jardim Marchesi, na zona Oeste de Ribeirão Preto, pela protetora Cristina Rocha Mercante. Nomeado Vitório, o animal foi resgatado e encaminhado até uma clínica veterinária, na qual deu entrada com quadro de anorexia, hipoglicemia, hipotermia e hipotensão.
Além disso, o cachorro apresentava feridas por todo o corpo e presença de carrapatos. De acordo com outra protetora que auxiliou no resgate do animal, Jacira Maria da Conceição, estão sendo solicitadas ajudas e doações, pois o custo para manter o tratamento de Vitório é alto. “O tratamento dele vai ser longo. Estamos conseguindo mantê-lo lá por meio de doações”, disse.
Quem puder auxiliar no tratamento do animal, as instruções podem ser obtidas pelos telefones (16) 99164-3306 ou (16) 99189-3133.
Jacira também ajudou na escolha do nome do cachorro que, segundo ela, não poderia ser outro. “Não poderíamos dar outro nome para ele, afinal, ele é um guerreiro. Ele estava quase morto. Para mim, ver ele do jeito que está hoje é um milagre”, ressaltou a protetora.
Hospital veterinário
No mês de maio, o governador João Doria (PSDB) anunciou que Ribeirão Preto terá um hospital veterinário, por meio do programa “Meu Pet”. Inédito no Estado de São Paulo, o projeto tem o objetivo de oferecer apoio a ações e serviços voltados à defesa e à saúde dos animais domésticos.
A clínica será construída com uma estrutura média de 480 metros quadrados e contará com salas cirúrgicas e equipamentos, com serviços gratuitos para cães e gatos, como consultas veterinárias, cirurgias e exames de ultrassom, raio-X e endoscopia, incluindo vacinação, castração e adoção responsável.
No entanto, a administração municipal informou que a cidade está em fase inicial de tratativas com o governo do Estado de São Paulo, procedendo os estudos técnicos necessários para a adequada escolha do local de implantação, que se dará em área pública municipal, levando em consideração a facilidade de acesso para a população entre outros fatores de viabilidade.