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Cultura

Anavitória lança novo trabalho sem alarde

“Eu todo ingênuo achando que era só uma música nova.” “É álbum? Me fala, sou nervo­so.” “Assim vocês matam os fãs.” “Socorro.” “Traz os aparelhos.” “2021 certamente terá uma vibe mais leve a partir daqui.”

Essas foram algumas das reações dos fãs nas redes socais do duo Anavitória assim que ele lançou, na virada de 2020 para 2021, o quarto álbum de carreira, intitulado COR. Não houve qualquer aviso prévio. “Do nada”, como outros tan­tos seguidores descreveram, 14 novas canções foram apre­sentadas – a maioria trazendo conteúdo audiovisual.

O movimento parece natu­ral para Ana Caetano, 26 anos, e Vitoria Falcão, 25. Foi na inter­net que elas, que se conheceram na escola, começaram a mostrar seu trabalho em 2013. Logo, sua base de fãs está nas redes – e sempre à espera de conteúdo. Porém, elas garantem que a in­tenção principal de lançar um disco entre os primeiros minu­tos de 1º de janeiro não saiu de uma reunião de marketing.

“Foi mais uma questão de simbologia do que uma estra­tégia. Achamos que era um dia forte. Nasceu de uma sensação de que esse ano seria mais legal do que o anterior. Uma grande festa, um portal. Lançar de sur­presa é algo que gostamos de fa­zer”, diz Vitoria Falcão. “Eu, Vi­toria e Felipe (Simas, empresário da dupla) temos uma paixão por colocar coisas importantes para nós em datas especiais. Gosta­mos de acreditar na força que essas datas carregam”, completa Ana Caetano.

O álbum foi gerado durante a pandemia. Assim que o isola­mento começou, Ana, Vitoria e Felipe, que moram em São Pau­lo, internaram-se em uma casa em Itaipava, na região serrana do Rio de Janeiro, para dar for­ma ao projeto.

Para ajudá-las na pré-pro­dução, convidaram o músico e produtor Tó Brandileone, da banda 5 a Seco. Ele acabou por assinar com Ana Caetano a produção do trabalho. Eles já haviam trabalhado juntos no álbum N, de 2019, com can­ções de Nando Reis.

“Chamamos o Tó para formatar as canções. Não sa­bíamos, em um primeiro mo­mento, se íamos conseguir produzir de fato um álbum. Com o passar dos dias, perce­bemos que já o estávamos fa­zendo. A experiência anterior (com N) havia sido incrível. Tó sempre nos deu voz. Ele enten­de a nossa cabeça, leva a gente a sério mesmo”, conta Ana, a compositora mais frequente da dupla, que assina a maioria das canções do novo trabalho, sozinha ou com parceiros.

Embora tenha sido produ­zido em meio à reclusão e ao medo trazido pela pandemia de covid-19, as canções não passam por esse sentimento. Muitas delas já estavam no caderno de Ana à espera do projeto. Com exceção de Selva, assinada por ela e Tó, a última a ser composta, que flagra o tempo em que vivemos. “Mun­dos vão ruir, curas vão surgir, e nós dois aqui”, diz a canção.

As demais, em geral, têm base no folk pop romântico que a dupla abraça desde seu primei­ro álbum Anavitória, de 2016, e do hit Trevo (Tu), que deu a elas o Grammy Latino de me­lhor canção em língua no ano seguinte. Embora, nesse novo trabalho, elas abarquem muito mais as dores de amores do que um sentimento idealizado. COR já é apontado como o álbum mais maduro do duo. Ana e Vi­tória acham inevitável.

“Quando começamos, éra­mos duas meninas que tocavam no quarto, para o YouTube. A experiência era zero. De lá para cá, fizemos muitos shows, mui­tos mesmo. Entendemos nosso som, o que queremos cantar. No começo, era tudo muito co­locado e nós íamos. Agora, não escolhemos mais entre o que nos está sendo oferecido. Não acatamos mais sugestões. Nós chegamos dizendo o que que­remos fazer”, diz Ana.

“Se você escutar nossos ál­buns na sequência, isso fica muito claro. No Anavitoria nós nunca tínhamos pisado em um palco ou estúdio. No segundo disco (O Tempo É Agora), já tí­nhamos feito shows e sabíamos o que queríamos viver no pal­co. O N é uma libertação total, ou o conhecimento dela, com músicas do Nando Reis que desconstruímos totalmente. O COR é uma mistura de tudo isso e parece que agora chegamos no som que queríamos”, afirma Vi­toria. “Mas pode ser que daqui um ano nós queiramos outro”, complementa Ana.

COR é o primeiro álbum in­dependente desde que o duo as­sinou com a gravadora Universal, ainda no primeiro trabalho, gera­do de forma autônoma, mas licen­ciado pela multinacional. A deci­são, segundo elas, foi amadurecida conforme o término do contrato ia se aproximando. Ter controle do catálogo pesou na decisão.

A faixa que abre o álbum, Amarelo, Azul e Branco, per­corre um caminho de volta ao passado para chegar no presente que elas buscavam. O título faz referência às cores da bandeira de Tocantins, estado de onde Vitoria e Ana vieram, mais pre­cisamente da cidade de Aragua­ína, município situado a quase 400 Km da capital Palmas – Ana, na verdade, é natural de Goiâ­nia, mas foi criada na cidade.

“Essa canção nasceu, em fevereiro de 2020, do refrão. Mandei para a Vi e perguntei se ela queria me ajudar na compo­sição. Queríamos falar sobre To­cantins. Somos encantadas por ele, mas nunca tínhamos can­tado o nosso lugar. Estamos em um momento de apropriação de quem somos. E bater e fincar o pé nas nossas raízes nos fortale­ce”, explica Ana.

Para complementar os ver­sos afirmativos “Eu vim pra te mostrar/A força que eu tenho guardado/O peito tá escancara­do/E não tem medo, não, não tem medo/Eu canto pra viver”, Ana selecionou um trecho de um texto da escritora francesa e ativista do feminismo Simone de Beauvoir (1908-1986) que diz: “Ao meu passado eu devo o meu saber e a minha ignorância. As minhas necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo. Que espaço o meu passado dei­xa para a minha liberdade hoje? Não sou escrava dele”

O trecho de Beauvoir é lido por Rita Lee. O disco já estava quase finalizado quando Ana e Vitória tiveram a ideia de cha­mar Rita para essa participação especial. A resposta do assessor de Rita deu esperanças para as duas: “ela vai pensar”, disse. “Normalmente, ela fala logo não. Eu liguei para Ana e disse ‘Ana Clara do céu! Rita está ven­do. Não sei o que, mas está ven­do!’. No mesmo dia à noite, rece­bemos o áudio. Sabe que até hoje eu não acredito?”, conta Vitória.

Outro convidado de COR é o pernambucano Lenine, que canta na faixa Lisboa, de Ana com Pedro Novaes, a última do álbum. Os três já haviam se en­contrado no palco em 2019, em um show no Rio de Janeiro. Elas mesmas fizeram o convite, acei­to na hora. “Ele está cantando em um registro mais grave, meio sexy. É a minha faixa preferida do disco. Estou louca para can­tá-la no palco, junto com ele”, diz Ana. Lisboa foi uma das doze faixas que ganharam tratamento audiovisual, ou os “visualizers”, como o duo prefere chamar.

Ana e Vitória se mostram an­siosas para transportar das redes para o palco o som de COR, o que deve acontecer apenas no segun­do semestre, assim que a pande­mia der uma trégua e a aglomera­ção não for mais uma ameaça. “Eu já sei que ele vai funcionar mara­vilhosamente bem! Penso nisso todos os dias. Vai pegar fogo!”, diz Vitória. “Sempre entendemos nosso trabalho com a troca com o público. Sem isso, fica meio estranho. A sensação de estar no palco é uma droguinha incrível. Eu sinto muita falta”, opina Ana.

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