Tribuna Ribeirão
Esportes

Amor pra cachorro

JULIANO GONÇALVES/GH COMUNICAÇÃO

O faxineiro Maurício Ro­drigues, de 54 anos, é um sertanezino apaixonado pelo Touro dos Canaviais. A rela­ção entre os dois está conec­tada por meio de um objetivo: ajudar os animais abandona­dos e vítimas de maus-tratos. “Deus me deu esse dom de cuidar dos animais, eu estou salvando vidas”, diz.

É da arquibancada que Maurício vende as pipocas e, simultaneamente, acompanha os jogos do Sertãozinho. “O time é uma bênção pra mim, eu gosto do Touro e quando tem jogo eu junto a paixão pelo time com a oportunida­de de ganhar meu dinheiro e comprar ração”, conta.

As vendas das pipocas já ocorrem há anos no Estádio Fredericão, sendo um com­plemento de renda para con­tribuir na compra de ração, remédios e dos cuidados dos 12 animais que tem em sua casa, além de outros que fi­cam na estrada dos ranchos, no distrito de Cruz das Posses.

Durante os jogos, a rotina do pipoqueiro é agitada; é ele mesmo quem prepara a pi­poca. “O carrinho de pipoca é meu, eu estouro o milho e encho as caixinhas. Na sequ­ência, saio pela arquibancada vendendo. Quando acaba, eu volto para o meu carrinho e repito o processo novamen­te. Eu não tenho ajuda, faço tudo sozinho”, comenta.

Geralmente, por jogo, ele consegue vender uma média de R$ 250 a R$ 270 em pipocas. Ainda de acordo com Maurí­cio, os gastos com ração, em média, são de aproximadamen­te R$ 800 por mês, além de ou­tros custos, como veterinário e remédios para os animais.

História de luta e superação em prol dos animais
A missão de cuidar dos animais surgiu logo cedo, na juventude de Maurício, quando ele tinha 18 anos. “Eu sempre gostei de animais e sempre tive cachorros; eu não gostava de ver eles sofrendo na rua e sempre tive vontade de ajudar. Deus me deu esse dom de cuidar dos animais”, relembrou.

No início, ainda desem­pregado, ele comprava as carnes que sobravam dos res­taurantes para dar de comer aos cachorros. “Quando eu comecei eu não tinha dinhei­ro para comprar ração; então, comprava 5 kg de carne e dava para os cachorros. Depois, consegui um emprego e pas­sei a comprar ração”, comenta.

O compromisso com os animais não se resumiu à ali­mentação: o homem passou a levar os cachorros ao vete­rinário e realizar castrações. Com o alto custo, o jeito foi começar a fazer rifas.
Hoje em dia, para conse­guir cuidar de todos os ani­mais e estar presente, ao me­nos três vezes por semana, na estrada dos ranchos de Cruz das Posses, o pipoqueiro pre­cisou adaptar a própria moto. Na garupa ele carrega uma caixa para transportar os ani­mais que resgata.

A alegria de Maurício está em ver a melhora dos bichos; mas, durante o resgate, por muitas vezes, ele chora e diz que o coração aperta ao ver a situação. “Já resgatei cachor­ros em estado grave, com perna quebrada, vítima de maus-tratos. Outro teve que amputar a perna, pois que­brou e não andava mais… tem vários cachorros idosos e do­entes que o pessoal não quer mais. Tudo isso fica muito caro”, afirma.

A rotina de Maurício Ro­drigues é longa; ele acorda por volta das 5h da manhã, todos os dias. Em seguida, vai para o trabalho, onde fica até as 16h. Após a jornada, retorna para casa, cuida dos seus animais e, três vezes por semana, leva ração para os animais abandonados.

Além disso, como pipo­queiro, está presente com seu carrinho todas as sextas­-feiras, das 18h às 22h30, na praça da Cohab VI e na Praça dos Peixes, em Sertãozinho.

O processo de doação dos animais também não é fácil. “Os cachorros que estão na minha casa, eu já coloquei pra doar, mas não consegui, ninguém quer; é difícil”, co­menta. “Já teve vezes que eu deixei de comprar comida para minha casa e comprar ração para os cachorros. Já passei muita dificuldade. Eu chorava em ver a situação dos animais”, completa.

Ainda de acordo com Maurício Rodrigues, é quase impossível mensurar a quan­tidade de animais que ele já resgatou. Ele se lembra que foram muitos e não pretende parar enquanto viver.

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