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Amor ao próximo

A reflexão imposta pela pandemia atual criou a necessidade de voltar a ler as obras clássicas há tantos anos guardadas em seu lugar, servindo apenas de enfeite aos olhos dos visitantes. Ali me encontrei novamente caminhando com Dante Alighieri na sua Divina Comé­dia. Do inferno para o purgatório até encontrar o paraíso.

Dante escreveu a extraordinária obra em italiano e não em latim, língua, até então, usada pelos escritores da Itália. Atribui-se a ele, portanto, ter criado a língua italiana.

Exerceu funções políticas e acabou sendo expulso de sua cidade, Florença. Na sua obra retratou o seu sofrimento com o exílio que lhe trouxe muita amargura, mas gerou enorme vocação literária. Na obra, Dante viaja, acompanhado pela alma do poeta latino Virgílio, toman­do conhecimento do inferno, do purgatório e finalmente do paraíso.

Os primeiros passos de Dante, acompanhado pela alma do poeta Virgílio, são dados no inferno, onde o autor registra até mesmo a presença da alma de um Papa guloso, seu adversário político. Dali os poetas viajam pelo purgatório onde deparam com as almas sofredoras comemorando a subida de uma delas para o paraíso. Chegam ao para­íso, acompanhados pela alma de Beatriz, grande paixão de Dante, que a conhecera na Ponte Velha de Florença quando tinha 10 anos.

Durante a viagem, Dante identifica o amor como essência da vida humana. Todos os homens amam. Uns, caminham amando construindo a sua história e a história dos outros homens. Outros, ao contrário, usam o amor como arma para atacar o próximo. Os primeiros vão para o paraíso. Os demais vão para o inferno ou para o purgatório. Só o amor ou salva ou condena o homem.

Mais do que nunca, a nossa história revela a importância da visão de Dante. O nosso mundo e os homens que o habitam vivem mergulhados na beligerância nascida algumas décadas antes da pandemia.

No alto do Monte Nebo, nos limites da Jordânia com Israel, há um monumento com a seguinte frase: “Unus Deus, Pater omnes, Super omnes”. Ou seja: “Um só Deus, Pai de todos, Sobre todos”. O Deus dos cristãos, dos judeus e dos maometanos é único, constituin­do as três religiões monoteístas. A história revela que até hoje não há paz entre seus fieis.

As veredas abertas pelo Padre Gisberto Pugliesi apontam o caminho da paz e do amor. Registro uma passagem merecedora de um registro pétreo.

O Padre conseguiu, depois de muito trabalho, identificar o assas­sino do seu pai, que então residia num hotel de Uberaba. O Padre tomou um automóvel e saiu em busca de seu destino.
Em Uberaba conseguiu localizar o assassino e, identificando-se, comunicou-lhe que era filho de sua vítima. Estava ali para perdoá­-lo. Assassino emocionado aceitou o perdão. O Padre aplicou-lhes as regras da confissão católica e o absolveu em nome de Deus. Em seguida, deu-lhe a comunhão.

Perguntamos ao Padre se o perdão era ordem de Deus ou tam­bém do homem.
A sua resposta foi segura e firme, o que é perdoado por Deus deve ser também perdoado pelos homens, até mesmo numa relação endereçada ao autor da morte do seu próprio pai.

O mundo em que vivemos está mergulhado em guerra sobre guerra, internas e externas, antes mesmo da pandemia. Assassinar o próximo hoje em dia configura um crime comum que confere aos assassinos a marca de um falso heroísmo.

É urgente identificar um Dante dos nossos dias, para que possa eternizar a vida do Padre Gisberto Pugliesi, não em nome da glória, mas, sim, como um pleito amoroso de toda a história da nossa humanidade.

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