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Amir Calil Dib 

Fernanda Ripamonte*
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Sob a presidência de Gilda Montans, na noite de 26 de maio de 2022, tive a honra de ser a paraninfa de Amir Calil Dib e recebê-lo em Sessão Solene de Posse Acadêmica na Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto, realizada na Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Em meio às confreiras e confrades que muito o admiravam e, aprovaram minha propositura, Amir foi eleito por unanimidade para ocupar a cadeira de número 19, cujo patrono é o ilustre Antônio Diederichsen. Ao apresentá-lo, com as glórias que lhe eram inerentes, no discurso que o dever e o regimento me impunham, falei com alma e coração o que sabia de Amir e de sua jornada.    

Intrigava-me o significado de seu nome. Sabia ser de origem árabe… achei o significado: “comandante”, “príncipe” e uma outra possibilidade do hebraico, significando “copa da árvore”, “parte mais alta da árvore”. Assim o admiramos, pois para todos nós foi um comandante muito querido que nos inspirava segurança, um príncipe a quem nos dirigíamos como a um líder, pessoa poderosa que nos abrigava, como se estivéssemos sob a sombra de árvore frondosa, em sua amizade sincera.

Todas as informações que obtive combinavam com ele, seus pais, Akef Kalil El Dib e Mafalda Calil Dib, nossa querida Sila, sabiam como seria o filho caçula. Amir Calil Dib nasceu em Ribeirão Preto em 27 de julho de 1964. Suas irmãs são Sueli, Leila e Soraia. André, Bruno, Rodrigo e Felipe, sobrinhos queridos prosseguem na odisseia da família Calil Dib. 

Quando conheci Amir, ele participava da Creche Modelo da Vila Virgínia, em nossa cidade, dirigida por Julieta Taranto, Nice Penna da Barros Cruz e uma excelente diretoria, que hoje conta com a dedicação de Mara Pereira Alvim no projeto educacional de inúmeras crianças. Muitas outras entidades do terceiro setor tiveram Amir colaborando na obtenção de recursos para financiar trabalhos sociais. Assim, Amir Calil Dib foi membro do Rotary e do Lions.  Voluntário do Fraterno Auxílio Cristão, Diretor da Orquestra Sinfônica, do Centro de Voluntariado, foi diretor da Associação Cristã de Moços, Clube Sírio Libanês, do Asilo Padre Euclides, do Hospital do Câncer, Fundação dos Rotarianos de Ribeirão Preto, da Igreja Santa Terezinha Doutora, Paróquia Santa Rita de Cássia, Sociedade Espírita Obreiros do Bem, Lions Campos Elíseos, Associação Brasileira de Combate ao Câncer Infantil e Adulto e Creche Bom Jesus da Esperança de Bonfim Paulista. Apadrinhou o Projeto de Reciclagem dos Catadores de Lixo da Casa das Mangueiras.

Amir era Membro Honorário da Academia Ribeirão-pretana de Letras, diretor social da Sociedade Recreativa e de Esportes e, em uma campanha de humanidade, trabalhou na arrecadação de suprimentos para vítimas das enchentes no Sul e da seca do Nordeste brasileiros, recebendo o título de “Gente Humana Internacional” em Brasília. Também foi agraciado com a Medalha Comemorativa dos 125 anos da Câmara Municipal de Ribeirão Preto e com o Título de Cidadão Emérito. Indiquei Amir Calil Dib para integrar a ALARP – Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto e fui sua paraninfa. Agora, só posso dizer que estou muito triste, mas permaneço com muito carinho na convivência com sua família. Sempre admirei sua coragem e dedicação às causas sociais. Era formado em Engenharia Civil pelo Instituto Politécnico de Ribeirão Preto, Administração de Empresas e Jornalismo na Universidade de Ribeirão Preto. Na Faculdade Getúlio Vargas fez o curso de administração extensiva. Pelo Rotary Internacional esteve em intercambio na República Dominicana. Foi gerente de circulação dos cadernos regionais: Folha Nordeste e Folha Norte, Diretor de circulação do Jornal Tribuna de Alagoas. Trabalhou nos jornais Correio Popular e Diário do Povo na cidade de Campinas. Também foi Gerente Comercial e Circulação do Jornal Verdade de Ribeirão Preto, do deputado e jornalista José Wilson Toni.  Assinava página social em mais de 10 veículos na Região de Ribeirão Preto, com a Coluna Personalidades. Amir foi o único colunista social diário online e impresso da região no Jornal Tribuna Ribeirão. Foi um torcedor do Comercial Futebol Clube, como eu.

Seu pai, senhor Dib, que viveu 100 anos, nasceu no Líbano. Chadra, a cidade do pai, faz fronteira com Muzainena Síria de onde veio a família de sua mãe, dona Sila. As montanhas  formadas por uma cordilheira com mais de mil metros de altura, dividindo Líbano e Síria, não impediram que Dib e Sila que estavam na sua origem em lados opostos, se encontrassem no Brasil, onde viveram por mais de 60  anos de casamento, aqui em Ribeirão Preto.

Entre 1884 e 1933, 130 mil sírios e libaneses entraram no Brasil pelo Porto de Santos.

Vamos a um texto de Amir Calil Dib 

 “Mundo Pequeno”

“Há mais de 20 anos, visitei pela primeira vez, o Mosteiro de São Jorge, nas montanhas da Síria, com meu pai. Os padres Cristãos Ortodoxos ficaram tão encantados com meu interesse em conhecer o Templo, que me informaram sobre tudo. Na saída, pediram um táxi para nos levar até Muzaine, terra Natal dos meus avós maternos. No caminho o motorista perguntou ao meu pai em que idioma ele estava conversando comigo. Meu pai respondeu, que falava em português. Meu filho é brasileiro. O motorista comentou; “eu tinha um tio que morava no interior de São Paulo”. Meu pai perguntou como ele se chamava? Respondeu Abrão Assed. Meu pai prosseguiu: a cidade dele é Ribeirão Preto? E o motorista respondeu: Sim. E meu pai concluiu apontando para mim: “Este moço, aí atrás é primo da mulher do Abrão Assed, pois a tia Chaficaera sobrinha do meu avô Zacharias. Foi uma emoção que jamais vou esquecer.”

Amir Calil Dib, muito contribuiu com as Academias divulgando eventos, livros, programas culturais e exercia as funções de chefe da Divisão de Eventos na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Ribeirão Preto.

Sob as bençãos de Deus, cumpriu sua jornada terrena, trabalhou pela paz e, principalmente, neste momento em que insanas atitudes nos afligem pelas irreparáveis perdas humanas, foi um cristão generoso, um homem de bem, amado e merecedor de gratidão, homenageado por muitos, recebendo troféus pelo exercício profissional, pelo cidadão digno e responsável. Sua partida em 25 de fevereiro de 2025, aos 60 anos de idade, teve a despedida na Capela do Lar Padre Euclides. Emocionados, tantos amigos, pessoas de todos as classes sociais, de diversas idades e profissões, de diversos partidos políticos, de inúmeras entidades, carinhosamente aplaudiram sua vida e sua dedicação ao trabalho social e humanitário.

Era um ser agregador, todos importavam para sua fé em Deus.

Os moradores do Lar Padre Euclides, em oração, estiveram ao lado daquele que estivera com eles, em sua vida dedicada ao bem e à caridade. Abracei-os, abraçaram-me e, juntos, agradecidos, pedimos que se abrisse a porta dos céus para que lá adentrasse nosso Amir, num caminho iluminado e com o canto dos anjos do Senhor…       

* Advogada, escritora, integrante da Academia Ribeirãopretana de Letras, da Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto e da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas      

 

 

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