A locomotiva alemã Borsig que foi retirada da praça Francisco Schmidt, na avenida Jerônimo Gonçalves, na divisa do Centro Velho com a Vila Tibério, Zona Oeste, em 18 de julho do ano passado, para ser restaurada, será instalada no Parque Maurílio Biagi quando retornar para Ribeirão Preto, no final de novembro.
A locomotiva – batizada de “Amália” por causa da usina a que pertencia antes de ser doada ao município, o nome está gravado nas laterais do equipamento – ficará no parque por ser um lugar público, mas livre de depredação e vandalismo, além de oferecer segurança aos visitantes e ser de fácil acesso.
Na praça Francisco Schmidt, na área da “cracolândia”, a maria-fumaça acumulava lixo e tinha virado abrigo para ratos, além de ser alvo de furtos de peças de cobre, ferro e aço nos últimos 47 anos. A intenção, ao colocar uma locomotiva para exposição numa praça da região central da cidade, tinha como objetivo agradecer ao desenvolvimento econômico que Ribeirão Preto teve devido à ferrovia.
A partir dos trilhos, principalmente da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, foi possível transportar mais rapidamente o café produzido na região na segunda metade do século 19. Com isso, ela contribuiu para o enriquecimento e a fama de barões do café como Henrique Dumont (1832-1892), pai do aviador Alberto Santos Dumont (1873-1932), e Francisco Schmidt (1850-1924), que dá nome à praça em que a locomotiva alemã Borsig, fabricada em 1912, estava exposta desde 1973.
A maria-fumaça “Amália” é tombada pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Ribeirão Preto (Conppac). Os trabalhos de restauração da locomotiva estão sob a responsabilidade da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF). A prefeitura de Ribeirão Preto abriu licitação, em maio do ano passado, no valor de R$ 808,33 mil, mas o serviço havia sido contratado por cerca de R$ 805 mil e agora baixou para R$ 749 mil.
Os recursos para o restauro da locomotiva são oriundos do empréstimo de R$ 75 milhões feito pelo município por meio do Programa de Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento (Finisa) do Banco do Brasil, que contempla outras obras. A recuperação da maria-fumaça obedece a várias etapas que incluem desde a retirada da locomotiva do local, com a ajuda de guincho e caminhão munck, para ser restaurada em ambiente apropriado, em Campinas.
Todos os componentes da locomotiva estão sendo restaurados ou substituídos, caso não seja possível a recuperação. O trabalho também está sendo acompanhado por um profissional especializado em patrimônio cultural e ferroviário. O prazo máximo para a conclusão do serviço de restauração era de doze meses. A locomotiva Phantom, popularmente conhecida como maria-fumaça, pertencia à Usina Amália e em 1912 foi doada para Ribeirão Preto pelas Indústrias Matarazzo.
O modelo é uma das três remanescentes do fabricante alemão Borsig no Brasil. As outras duas estão em Itapetininga e Jaguariúna. Abandonada, a ribeirão-pretana serviu durante muito tempo como dormitório de pessoas em situação de rua e também de abrigo para usuários de drogas.
Ribeirão Preto tem outra maria-fumaça, a “Mogiana”, instalada na antiga Estação Ferroviária Mogiana, na Zona Norte. A Câmara pediu e o Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Ribeirão Preto aprovou seu tombamento e duas entidades querem usar as duas locomotivas para projetos de “trem turístico”.
Já a Associação dos Moradores da Vila Tibério e Adjacências (Amovita) protocolou no Conppac o pedido de tombamento da “Amália” para que a máquina fosse mantida na praça Francisco Schmidt. Alega que a locomotiva e os quatro metros de trilho que a sustentam são os últimos resquícios da Estação Ribeirão Preto no bairro, que funcionou a partir de 1885 e foi demolida em 1968. Naquele trecho existiu no passado a gare (plataforma) de embarque e desembarque por onde milhares de imigrantes passaram para trabalhar nas lavouras de café.