Tribuna Ribeirão
Saúde

Alzheimer – Remédio retarda avanço da doença

Uma droga experimental de Alzheimer pode retardar – em cerca de quatro a sete me­ses – o agravamento do declí­nio cognitivo em pacientes no estágio inicial, mostra estudo publicado nesta segunda-fei­ra, 17 de julho. A farmacêutica Eli Lilly busca a aprovação da Food and Drug Administra­tion (agência similar à Anvisa nos Estados Unidos) para o re­médio Donanemab.

Se liberado, este seria ape­nas o segundo tratamento de Alzheimer que mostrou de forma convincente o efeito de retardar a doença. O outro é o recentemente aprovado Le­qembi, da farmacêutica japo­nesa Eisai. “Finalmente há al­guma esperança, certeza, sobre a qual podemos conversar”, disse John Sims, da Lilly, à im­prensa durante a Conferência Internacional da Associação de Alzheimer em Amsterdã.

“Não curamos a doença”, reforçou. “Diabete também não tem cura. Mas isso não significa que você não possa ter tratamentos muito signifi­cativos para os pacientes.” Em maio, a Lilly anunciou que o Donanemab parecia funcio­nar, mas nesta segunda-feira os resultados completos de um estudo com 1,7 mil pacientes foram publicados pelo Journal of the American Medical Asso­ciation (JAMA) e apresentados na conferência de Alzheimer.

O tratamento é intrave­noso e aplicado uma vez por mês. O produto retardou o declínio cognitivo em apro­ximadamente 35%, ao longo de 18 meses de estudo, em pacientes com taxas baixas e moderadas da proteína Tau, uma proteína que é conside­rada um marcador do avanço da doença degenerativa. Em casos de pacientes com níveis mais elevados da proteína, a desaceleração do declínio fi­cou na faixa entre 22% e 29%.

Tanto o Donanemab quan­to o Leqembi são anticorpos produzidos em laboratório, que têm como alvo um dos culpados pelo Alzheimer: o acúmulo de amiloide no cé­rebro. E ambas as drogas vêm com uma séria preocupação de segurança – inchaço ou sangramento cerebral que, no estudo da Lilly, foi associado a três mortes.

Os cientistas dizem que, embora essas drogas possam marcar uma nova era no tra­tamento de Alzheimer, gran­des questões permanecem sobre quais pacientes devem experimentá-las e quanto be­nefício elas realmente nota­rão. “Os benefícios modestos provavelmente não seriam questionados por pacientes, médicos ou clientes se os an­ticorpos amiloides fossem de baixo risco, baratos e simples de administrar. No entanto, eles não são nada disso”, escre­veu Eric Widera, da Universi­dade da Califórnia, em San Francisco, em um editorial do JAMA que acompanha os no­vos dados de Lilly.

O estudo de Lilly inscreveu pessoas de 60 a 85 anos que estavam nos estágios iniciais da doença de Alzheimer. Me­tade recebeu infusões uma vez por mês de Donanemab e a outra metade, infusões simula­das por 18 meses. A principal preocupação de segurança é o inchaço ou sangramento cere­bral, que muitas vezes não cau­sa sintomas, mas às vezes pode ser grave, até mesmo fatal.

Cerca de um quarto dos receptores de Donanemab mostraram evidências desse inchaço e cerca de 20% tive­ram micro-hemorragias. Os cientistas já sabem que os pa­cientes que recebem qualquer terapia direcionada a amiloide precisam repetir exames cere­brais para verificar esses efei­tos colaterais – um obstáculo caro e demorado.

Widera observou que a possibilidade de interromper o tratamento com Donanemab pelo menos temporariamente em pessoas que respondem bem ajudaria a limitar alguns desses desafios. Para efeito de comparação, Leqembi é admi­nistrado por via intravenosa a cada duas semanas e os pes­quisadores não testaram uma interrupção semelhante.

Outra preocupação: mais de 90% dos participantes do estudo eram brancos, deixan­do poucos dados sobre como outras populações poderiam responder, escreveu a especia­lista em Alzheimer Jennifer Manly, da Universidade de Columbia, no JAMA.

Os cientistas há muito ten­tam e falham em retardar a doença de Alzheimer com medicamentos direcionados ao amiloide. A polêmica apro­vação condicional de 2021 do FDA de um medicamento cha­mado Aduhelm logo fracassou em meio à falta de evidências de que realmente funcionava. A aprovação de Leqembi e dados promissores para Donanemab reacenderam o interesse em atacar o acúmulo de amiloide.

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