Ao analisar o dia a dia de uma comunidade da periferia de Ribeirão Preto e propor soluções para a melhoria da qualidade de vida das pessoas que nela residem, alunos da Escola Técnica Estadual (Etec) José Martimiano da Silva, também de Ribeirão Preto, acabam de ser premiados com o primeiro lugar na categoria de Educação Secundária no primeiro Concurso Latinoamericano de Projetos “Nós Propomos”, realizado pela Universidade de Trujillo, no Peru.
Os estudantes receberam o prêmio pelo trabalho desenvolvido no projeto Nós Propomos! Por um Espaço Público Saudável: Estudo do Bairro Eugênio Lopes em Ribeirão Preto/SP, iniciativa originalmente concebida na Universidade de Lisboa pelo professor e pesquisador em Geografia Humana Sérgio Claudino, que tem como propósito fomentar a reflexão e promover práticas educativas no âmbito da história e geografia, voltadas para questões locais e do cotidiano.
Os estudantes foram orientados pelos pesquisadores do Grupo de Estudos da Localidade (ELO) da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, como Odair Ribeiro de Carvalho Filho, que também é docente da Etec e mestre em Educação pela FFCLRP, com coordenação da professora Andrea Lastória da FFCLRP e da graduanda em Pedagogia Juliana Rodrigues de Lima, bolsista do Programa Unificado de Bolsas (PUB) da USP.
Projeto vencedor
Durante o desenvolvimento do projeto, os estudantes pesquisaram, por meio de visitas de campo para coleta de dados e entrevistas com moradores da região, analisaram e propuseram soluções para a melhoria no dia a dia da comunidade do bairro Eugênio Lopes, da zona Oeste da cidade. No processo de identificação de problemáticas no local, os estudantes se depararam com déficit de oferta de serviços públicos nas áreas da saúde e segurança pública. Assim, constataram que esse déficit traz impactos negativos para a qualidade de vida da comunidade e concluíram que essa é uma área pública abandonada e “frequentemente utilizada como depósito de lixo”.
O local, de acordo com os resultados, é cuidado pelos próprios moradores e a proposta da equipe é a sua transformação em um espaço comunitário público, com instalações recreativas e educacionais como quadras, equipamentos de ginástica, parquinho infantil e demais atividades de lazer.
A proposição realizada pelo projeto é embasada em leis nacionais e estaduais, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos e a Política Estadual de Resíduos Sólidos em São Paulo, além do Decreto 312/2016 do município, sobre o uso de parques municipais e a disponibilização de área pública destinada à lazer, e a garantia constitucional de bem-estar social aos cidadãos.
O desenvolvimento dessas proposições é um dos objetivos do Nós Propomos!, refletindo soluções para os desafios enfrentados nos ambientes urbanos e construção de visão crítica da geografia urbana. “Os estudantes passam a ter maior protagonismo e o diálogo entre os conteúdos curriculares e o espaço vivido é ampliado”, conta a professora Andrea, do curso de Pedagogia da FFCLRP e coordenadora do Grupo de Estudos da Localidade (ELO), destacando o êxito que o projeto tem alcançado no contexto educacional ibero-americano.
A equipe ribeirão-pretana vencedora é formada pelos alunos Fábio Tiburcio, Gustavo Alvares, Hugo Carvalho, Letícia Rocha, Victor Chinarello e Vitor Hugo Carvalho, do Ensino Médio Integrado ao Técnico (M-tec) em Administração da Etec José Martimiano da Silva da autarquia estadual paulista Centro Paula Souza.
O Nós Propomos!
A iniciativa criada pelo professor português Sérgio Claudino expandiu-se para a Espanha e depois para as Américas, onde, além do Brasil, encontra-se em desenvolvimento em países como a Colômbia, Peru, Chile, Venezuela, México, entre outros. Em Ribeirão Preto, foi implementado em 2018 na Etec, por meio do Grupo de Estudos da Localidade (ELO).
O professor Odair Carvalho Filho entende que os estudantes do ensino médio devem ser protagonistas na busca pelo entendimento da realidade que vivem, justificando a colaboração com os adolescentes. “O estudante entende o seu lugar na constituição histórica e espacial, ele estuda problemas relativos a esse lugar com base em referenciais teóricos da geografia e da história e, ao final de um processo, propõe intervenção nesse lugar”, explica.
Para os professores, o projeto motiva outros estudantes a refletir sobre questões dos espaços públicos por meio da geografia. “Várias das proposições são merecedoras de atenção por parte do poder público e devem, portanto, ser implementadas”, frisa Andrea. Já Carvalho Filho acredita que o prêmio é uma certificação de que o ensino público e de qualidade “promove uma formação cidadã de fato com frutos produtivos”, e que o momento é de revisão teórica e metodológica dos levantamentos para apresentação das propostas ao município. (Com informações do Jornal da USP/Rose Talamone e Moisés Dorado).