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Altos papos com Jesus

Por Mariane Morisawa, especial para o Estado

Desde que Os Simpsons estrearam em 1989, animação deixou de ser coisa só de criança. À família suburbana liderada por Homer, juntaram-se os Griffins (Family Guy), os Belchers (Bob’s Burgers) e, agora, os Harts, em Bless the Harts – Uma Família Perfeita, com exibição às terças, às 23h30, no FOX Premium 2 e no app da Fox para assinantes. “Eu me lembro de ver Os Simpsons pela primeira vez e ficar embasbacado”, disse Phil Lord, que é um dos produtores da série, em evento da Associação de Críticos de Televisão, em Los Angeles.

“Foi uma amostra de como essa forma de arte era versátil. E não é que não existam mais animações para crianças, mas também há programas para toda a família. Acho justo dizer que estamos na era de ouro da animação”, completou Lord, que produziu o longa Homem-Aranha no Aranhaverso, referindo-se a um cenário que abriga ainda produções como BoJack Horseman, encerrada este ano, Rick and Morty e até o musical Central Park.

Bless the Harts trata de uma família da classe trabalhadora do sul dos Estados Unidos, mais precisamente da Carolina do Norte. Jenny (Kristen Wiig) é uma mãe solteira que luta para pagar as contas com seu salário de garçonete. Ela mora com a mãe, Betty (Maya Rudolph), que é do tipo sem papas na língua, e a filha adolescente, Violet (Jillian Bell), sarcástica e com uma veia artística forte. Jenny namora o fortão Wayne (Ike Barinholtz), que desafia os clichês e tenta ser uma boa figura paterna para Violet. Outro personagem principal é Jesus Cristo (Kumail Nanjiani), com quem Jenny tem altos papos imaginários.

Em outra série, os Harts seriam apresentados como vulgares, tacanhos e descritos com o termo pejorativo “white trash” (“lixo branco”, referindo-se à população de colarinho azul, em geral do sul e Meio-Oeste, com baixa escolaridade e nível de renda). Mas não é o caso de Bless the Harts, que trata seus personagens com carinho, mostrando uma família amorosa e bem-intencionada, que dá força para Violet mesmo quando seus sonhos parecem ser inatingíveis. Isso talvez por ter sido inspirada na própria vivência da criadora Emily Spivey, roteirista de programas como Parks and Recreation, a animação King of the Hill e Modern Family e agora a primeira showrunner de uma animação do canal Fox. “Para mim, esse projeto é uma paixão antiga”, afirmou. “Cada um dos personagens é alguém que conheci. Até mesmo os avestruzes (Wayne tenta ganhar dinheiro criando aves). Eu cresci com um cara que tinha uma fazenda de avestruzes, e os animais o odiavam. Basicamente, os Harts são gente com quem cresci na pequena High Point, na Carolina do Norte.”

A criadora da série também queria que ela fosse vista por toda a família. “Por isso, a ideia de ter várias gerações: a avó, a mãe, a neta. Temos mulheres em diversas fases da vida, então espero que todo mundo encontre alguma coisa interessante.” Em Bless the Harts, ao contrário de Os Simpsons, Family Guy e Bob’s Burgers, a protagonista e chefe de família é uma mulher.

Para Spivey, era importante que Bless the Harts fosse uma série passada no Sul dos Estados Unidos que risse com as pessoas e não delas. “Mesmo quando Wayne parece meio um palhaço, no fim ele se redime porque cuida da família, e todos se amam.”

O título faz um trocadilho com a expressão “Bless your heart”, que tem significado duplo no Sul do país. “Pode ser um sinal de compaixão”, explicou Spivey, sobre a frase que pode ser traduzida como “Que Deus abençoe”. Mas nos Estados sulistas, é comum ser utilizada para suavizar uma crítica ou para chamar alguém de idiota indiretamente, quase sempre na companhia de um doce sorriso. “Isso que é, o Sul dos Estados Unidos é um lugar muito engraçado. Estou sempre dando risada lá.” Ela espera que Bless the Harts faça jus ao verdadeiro espírito da região e seja tão autêntica quanto possível.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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