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ALTA DOS COMBUSTÍVEIS: Onde vai parar?

Tem se tornado rotina. Ao abastecer o seu veículo, o motorista tem deparado com aumentos constantes nas bombas. O mesmo acontece quando é necessário comprar o botijão ou pagar a conta de gás. Se comparado aos reajus­tes de salários, quando estes ocorrem, os números mais se parecem uma piada de mau gosto. Mas a pergunta que se faz é: onde e quando esses preços vão parar? Pergunta que talvez fique sem resposta.

Só pra se ter uma ideia. O salário mínimo teve um au­mento de R$ 55,00, passando de R$ 1.045 para R$ 1.100. O percentual de aumento, en­tão, foi de 5,26%. De acordo com a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Sena­do, a Petrobras já aumentou 11 vezes os preços da gasoli­na e 9 vezes os do diesel. Nes­te ano, a gasolina subiu 74%, e o diesel, 64,7%.

Já os dados de inflação do Instituto Brasileiro de Ge­ografia e Estatística (IBGE) apontam que a gasolina ficou 38,29% de janeiro a outubro. E nos últimos doze meses, até outubro, os combustíveis pu­xaram a inflação com alta de 10,67%.

Não é ilusão de ótica. Preço dos combustíveis em 2019 em postos sem bandeira e bandeirados

Independente dos núme­ros, a CAE aprovou nesta se­mana o convite para que os ministros de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e da Eco­nomia, Paulo Guedes, além do presidente da Petrobras, Joa­quim Silva e Luna, prestem in­formações sobre os sucessivos aumentos de preços dos com­bustíveis no país. Resta saber se o convite será aceito.

Na quarta-feira (10), em entrevista à Rede CNN, o presidente da Petrobras, ge­neral Joaquim Silva e Luna, disse que os preços dos com­bustíveis acompanham os preços do mercado, mas re­conheceu que estão altos, res­saltando que a inflação é um fenômeno global.

“Vale a pena dizer que os preços estão muito altos. A inflação está elevada e está no mundo inteiro, por uma série de fatores convergentes. O petróleo é uma commodity e não é diferente com ele. O mercado consumidor e pro­dutor é que define esse equi­líbrio dos preços”, disse.

Preços em âmbito nacional
Um levantamento reali­zado pelo portal de notícias Poder 360, feito com base em dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mos­tra que a gasolina atingiu o maior valor das últimas duas décadas, superando uma má­xima real de 2003.

Dor no bolso. Realidade desta semana nos postos sem bandeira e bandeirados

No levantamento feito em quase cinco mil postos de combustíveis no Brasil cons­tatou-se um preço médio de R$ 6,71 pelo litro da gasolina, o maior valor da série da ANP, em termos reais. O litro da ga­solina custava em fevereiro de 2003, R$ 2,22 – se aplicarmos a inflação de lá para cá, o valor seria R$ 6,41.

Segundo pesquisa da ANP, em Bagé, no Rio Grande do Sul, o litro do combustível é o mais caro do país, cerca de R$ 7,999. O estado com o valor mais baixo é o Amapá, onde o preço máximo fica em R$ 6,23.

Já o gás de cozinha passou em média de R$ 98,47 para R$ 102,48 no mesmo perío­do. O valor do GLP mais caro no país é em Mato Grosso, onde custa R$ 140.

Preços em Ribeirão
No início da semana o Tri­buna fez um levantamento dos preços dos combustíveis prati­cados em Ribeirão e constatou que eles dispararam nas bom­bas e estão na média nacional.

Na terça-feira (9) o litro da gasolina começou a semana sendo comercializado em R$ 6,70, reajuste de 1,5% ou R$ 0,10, em relação à semana an­terior. O diesel subiu na mes­ma proporção, passando de R$ 5,60 para R$ 5,70. Já o etanol subiu de R$ 5,20 para R$ 5,70. Alta de 5,8%. Nos postos sem bandeira foi possível encontrar diferença nos valores: gasolina R$ 6,20, diesel R$ 5,50 e etanol a R$ 5,10.

Segundo Renê Abad, pri­meiro vice-presidente da Bras­combustível, entidade que re­presenta os proprietários dos postos de combustíveis, nesta sexta-feira (12), o preço médio dos combustíveis em Ribeirão Preto, independente de ban­deira, era de R$ 6,29 a gasoli­na, R$ 5,60 o diesel e R$ 5,19 o etanol.

Abad diz que os proprietá­rios estão acompanhando os seguidos aumentos com preo­cupação. “Primeiro que a gente tem muita dúvida se o consu­midor vai conseguir absorver esses constantes aumentos. Isso dói muito no bolso do consumidor, são aumentos baseados na variação de uma commodity que é o petróleo e também em dólar, mas acon­tece que o consumidor não está tendo aumento de salário. A renda dele é em reais e não é em dólar, então fica difícil acompanhar. Nós já estamos na casa de 70% de aumento nos últimos doze meses. É na gasolina e também no diesel, então preocupa mais ainda porque gera muita inflação. O diesel transporta a produção. O país é rodoviário e depen­de muito do diesel. Então isso gera bastante inflação”, aponta.

O representante dos postos disse ainda que não foi possível sentir o impacto nas vendas, mas acredita que em médio prazo poderá ocorrer uma queda de receita na comercia­lização de combustíveis. “Que já não estão grandes coisas, porque uma coisa que o con­sumidor às vezes não entende é que esses aumentos pra nós não muda nada, porque nossa margem é a mesma faz cinco anos. A gente ganha em tor­no de vinte centavos. É muito pouco. Hoje a gente nem está vivendo mais da venda de combustível. Os postos estão vivendo muito das lojas de conveniência”, revela.

Impacto imediato
Para Jaime Andrade, sócio da PwC, uma das maiores em­presas do mundo em audito­ria, assessoria e consultoria que presta serviços em vários seg­mentos, entre eles o de energia, o impacto e as consequências desses aumentos na vida dos brasileiros são de imediato.

“Aumento de preço de combustíveis é percebido de imediato para qualquer cida­dão que precisa abastecer seu veículo ou comprar gás de co­zinha. No entanto, o impacto é muito mais amplo, pois o au­mento do preço dos combustí­veis e da energia de uma forma geral implica em aumento do custo do transporte e do custo de produção, o que leva a um aumento de preços e, por con­sequência, inflação. Assim, o efeito acaba sendo sentido por toda a sociedade”, explica.

Ao analisar se há alguma expectativa de reversão nesse quadro de aumentos, Andra­de disse que enquanto houver uma demanda que desafia a capacidade de fornecimento, a expectativa é de que esse qua­dro se mantenha. “Além disso, os preços ainda mais altos no cenário internacional e a ele­vada cotação do dólar colocam uma dificuldade maior para as importações. Se os preços in­ternacionais estivessem mais competitivos, poderia ser um mecanismo válido para equili­brar oferta e demanda no cur­to prazo com impacto no pre­ço dos combustíveis”, finaliza.

Mais aumentos nos próximos dias
A avaliação de Andrade vai ao encontro do que afirmou no início da semana o ministro de Minas e Energia, Bento Albu­querque, em uma audiência pú­blica no Senado, que discutiu as causas da crise energética.

De acordo com Albuquer­que o preço do petróleo deve subir mais com a chegada do inverno no Hemisfério Nor­te e o consequente aumento do consumo, além da alta do petróleo. O ministro decla­rou que apesar do aumento de produção do petróleo no Brasil em 2011, houve dimi­nuição no resto do mundo, o que teria gerado uma crise de oferta e demanda.

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