O tradicional prato feito do brasileiro – arroz, feijão, bife, batata e ovo – está pesando mais no bolso do consumidor. A alta de preços de quase todos alimentos básicos acumulada nos últimos doze meses até novembro supera a inflação geral do País, de 3,27% para o período. A inflação deve fechar este ano com folga abaixo do centro da meta de 4,25% fixada pelo governo.
“Essas pressões não comprometem a meta de inflação, mas o bolso da população”, afirma André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre). Ele destaca que, pelo fato de serem alimentos básicos, a alta do preço da comida castiga mais os mais pobres, especialmente a grande massa de desempregados e subempregados. Nestes casos, a renda do trabalho encolheu ou sumiu.
O sinal de alerta de que se alimentar ficou mais caro soou quando o preço da carne vermelha disparou, puxada pela alta de preço do boi no campo. No final do mês passado, a cotação da arroba bateu o recorde de R$ 231, de acordo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Com isso, segundo relatos, alguns cortes da carne bovina chegaram a subir quase 50% nos açougues.
Na média nacional, a carne vendida ao consumidor aumentou 14,43% nos últimos doze meses e mais da metade só em novembro, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – em Ribeirão Preto, alguns cortes subiram até 40%, como a alcatra e o contrafilé. O salto de 8,09% no preço das carnes pressionou a inflação ao consumidor no mês passado, que fechou em 0,51%, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A alta nas carnes no mês passado foi a mais acentuada desde novembro de 2010, quando o produto subiu 10,67%. A carne de porco subiu 3,35% em novembro, enquanto o frango inteiro aumentou 0,28% e o frango em pedaços subiu 0,34%. Analistas consideram que ocorre uma tempestade perfeita no mercado de carne bovina. O aumento de 10% das exportações em volume neste ano, puxada pela China que enfrenta problemas na oferta de proteína animal, atraiu os exportadores que recebem em dólar pelo produto.
Somado a isso, o consumo doméstico, que normalmente cresce nesta época do ano por causa da injeção do décimo terceiro salário, ganhou vigor com o dinheiro extra do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Do lado da oferta, Wander Fernandes de Sousa, analista de carnes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), lembra que hoje há escassez de bois para abate por causa da entressafra, quando os animais ficam magros. Nos últimos anos, por causa de preços defasados da arroba, houve abate de matrizes. Isso também reduz a disponibilidade de produto hoje.
Os supermercados dizem que não têm como evitar o repasse de preço ao consumidor porque os produtos são perecíveis e os estoques normalmente são enxutos. “Não temos como absorver essa alta de custos”, diz Ronaldo dos Santos, presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), admitindo que as negociações com os fornecedores ficaram mais tensas nas últimas semanas, especialmente num mercado com concorrência muito acirrada.
A reação imediata desse cabo de guerra entre indústria e comércio é que o consumidor colocou o pé no freio nas compras. Na carne bovina houve uma redução de 10% a 15% nos volumes vendidos, conta Santos. Já no frango e nos ovos, ele notou aumento de 10% nas vendas no período. Nos bares e restaurantes, essa ginástica não é tão fácil. Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), que representa um milhão de estabelecimentos no País, diz que, na maioria das vezes a substituição de ingredientes não agrada aos clientes. “Há esforço para trocar a carne por frango ou peixe, mas isso esbarra no hábito alimentar”.
A saída encontrada pelos bares e restaurantes, segundo Solmucci, tem sido aumentar em cerca de 15% o preço do prato feito ou manter a carne, mas em versões mais em conta. Além das pressões nos preços dos alimentos do prato feito, Braz, da FGV, lembra que a forte desvalorização cambial que houve no início de novembro, que fez o dólar passar de R$ 4,20, poderá contaminar os preços em dólar de commodities. O milho e soja, usados na ração de frango e suínos, e o trigo, boa parte importado e que entra no preparo do pão francês e das massas, poderão ficar mais caros.
Cada um do seu modo, os brasileiros estão se virando para tentar manter o prato feito na mesa. Trocar o bife caro pelo frango ou ovo, que são mais baratos, ir mais vezes ao supermercado à caça de ofertas e até mudar horário da feira são as alternativas usadas pelos consumidores para driblar a alta de preços dos alimentos básicos.