Feres Sabino *
advogadoferessabino.wordpress.com
O processo eleitoral nos revelou ora o que se sabia, ora o que nos surpreende pela omissão ou pela ação inesperada, ora o que não houve como repercussão do figurino vencedor da última eleição.
Primeiramente, uma justiça eleitoral devagar, quase parando, para a qual o espetáculo paulistano dos debates, que teve até cadeirada como justa reação às ofensas continuadas. O Ministério Público, que é garante da democracia, precisa ser rápido, para se fazer crédulo, quando não o juiz eleitoral, ou seu Tribunal, reagindo, mesmo sem a provocação do órgão ministerial de fiscalização, colocando sua legitimidade em atos de reação imediata.
Em seguida, a inexplicável e infanto-juvenil ofensa lançada ao ar, em entrevista, na manhã de domingo e ao lado de seu candidato a Prefeito de São Paulo, no Palácio Bandeirantes, na qual o governador mentindo, fala que o PCC, organização criminosa, teria orientado votar no candidato a prefeito da oposição. Ato de abuso político, que é crime. O Governador é o mesmo que privatizou a SABESP, sem perguntar se o grande lucro da estatal era melhor ficar no cofre do Estado, ou no bolso faminto do particular.
Agora, quer privatizar a educação, para sagrar-se papa do neoliberalismo, que não deu certo em lugar algum, e que, cumprindo o seu figurino precariza o serviço privatizado, aumento tarifa, despede pessoal qualificado, paga regiamente os novos diretores seus, e dispensa pessoal qualificado e preparado. O preocupante é que o cidadão é militar, desvinculado da memória dos militares conscientes de um modelo de Estado, e que impulsionaram a Petrobrás, a Eletrobras, essa entregue, hoje, aos roedores das Americanas, que roeram tudo.
A frente ampla é o figurino vencedor da eleição presidencial. No entanto, a dificuldade de justificar e repetir essa prática vitoriosa fica literalmente comprometida pela dificuldade, por exemplo, que o Partido dos Trabalhadores teve, em Ribeirão Preto, de partir para um exemplo de coligação, cuidadosamente desenhada, que teria a ex-reitora da USP na cabeça, e que certamente teria muito mais vantagem do que o pretendente que quase conseguiu a vitória. Uma ausência de compreensão da realidade, estilhaçada por interesses particulares e políticos, que se sentiram ameaçados pela necessidade de compor com aquela força, que tivera, como candidata a Prefeito, na eleição passada, estupenda votação.
Por outro lado, Geraldo Alckmin, no programa Roda Viva da TV Cultura, melhor de qualquer outro, defendeu a coligação do governo federal, todas as suas realizações, mostrando claramente que participa ativamente dessa experiência vitoriosa, que precisa ser divulgada claramente pelo país, furando o nevoeiro de uma imprensa que não se envergonha de ser parcial e desinformativa. Uma imprensa vocacionada, em regra, para intrigar.
Por último, João Campos, Prefeito reeleito de Recife com 80% dos votos, jovem de 30 anos, que na TV Cultura, deu verdadeira aula de como se ganha a estima popular, e sendo de partido coligado com o governo federal, defendeu-o com competência, e reafirmando que seu candidato em 2026 será Lula.
Os membros do PT local precisariam rever a posição tomada, não porque teria um efeito retroativo, mas seguramente serviria para dar conteúdo aos discursos das vereadoras eleitas, que como todo vereador, deve analisar da tribuna o que acontece local e nacionalmente, e o que seu Partido tem como força motriz para divulgar sua ética e seu programa de defesa da democracia, na releitura que os novos tempos impõem.
Outra omissão grave. Nenhum candidato falou das mudanças climáticas, apesar da secura sem precedentes do Norte, e chuvas abundantes e destruidoras do Sul.
* Procurador-geral do Estado no governo de André Franco Montoro e membro da Academia Ribeirãopretana de Letras