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Alguém

Alguém não é apenas uma pessoa ou ser especial, não é uma data, um encontro, expectativa, riso ou choro.

É complemento, parceria, intimidade, principalmente cum­plicidade.

Pode ser manhã, tarde, noite ou madrugada, pode ser mês, ano, Sol e Lua.

Alguém não possui data, horário, dia, hora ou dogma, está onde você procura, não existe distância, estrada, caminho ou trincheira.

Alguém abre uma porta mesmo quando todas as outras se fecham, te procura quando a solidão invade e o envolve com a nuvem da presença.

Sabe as cores, os sabores, as dores, os ardores e os odores que só você conhece.

O presenteia ao entardecer e ao alvorecer, mesmo sem pos­suir um único vintém.

Sempre caminha ao seu lado lendo os seus pensamentos devolvendo em silêncio a calmaria que brota de você, apenas tocando levemente no seu braço, em um gesto de presença e apoio, sentindo o franzir da sua testa ao mais leve aborrecimento ou sombra de uma ruga que surge demonstrando o acúmulo de imensas jornadas.

Alguém consegue durante anos e anos a fio ainda reclamar das manias eternas e péssimas em algumas situações, gerando uma lista infindável, de situações e momentos que procuramos em vão entender, as quais elencamos abaixo:

Depositar a toalha molhada sobre a cama, não fechar a tampa do creme dental, deixar o CD fora da capa, estacionar o carro fora da calçada, deixar a iluminação da casa inteira acesa durante o dia, com um sol de “rachar mamonas”.

As ações e situações ocorrem dos dois lados: Ver velhos filmes do faroeste americano com volume do televisor nas altu­ras, detestar entrar no mar e preferir ficar na areia consumindo latinhas, de acordar sempre cantando com um humor de sábado de Carnaval, embora seja uma “braba” Quarta-Feira de Cinzas.

Ser despertado pela madrugada, apertando suas mãos e indagar:
– Você está dormindo?

Colocar todas as compras na geladeira, esquecendo das suas latinhas.

Arrumar a mala centímetro por centímetro, sem conseguir caber nem um palito conseguir fechá-la e ouvir:

– “Esqueci o vestido vermelho, não posso viajar sem ele” ou “sabe aquela roupa tal, decidi ir com ela”, justamente a primeira colocada na mala, comprar todos os ingredientes para o “penne com frutos do mar”, na hora de servir, ter esquecido o queijo parmesão ralado.

Alguém vive ao seu lado infinidades de experimentos, vontades e realizações, que envolvem o sentimento, o querer, o perceber. Um conjunto de regras, toques, sentidos, emoções e afinidades, que chamamos existência.

O eterno confronto do convergir e divergir, a incessante bus­ca do compartilhar, a palavra presume o exercício de existir, de viver, ofício penoso com suas dificuldades e mistérios.

Alguém não é tudo e existe apenas e tão somente como um reflexo que lança seus raios no espelho de nós mesmos, batendo, rebatendo, refletindo a imagem de dois seres ungidos, atados, indivisíveis, caminhando passo a passo aos desígnios preparados em total segredo e sigilo, pelas mãos hábeis, inson­dáveis e inexplicáveis.

Muito antes já determinados, traçados pelos enigmas indeci­fráveis do destino.

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