No dia 17 deste mês, faleceu em São Paulo, aos 95 anos, de complicações da Covid, o publicitário Alex Periscinoto, meu dileto amigo. Alex foi responsável por moldar a moderna publicidade brasileira, ao trazer técnicas e práticas americanas para sua agência, a ALMAP. Nasceu em Mococa, na nossa região, filho de pai carpinteiro, que lhe transferiu o dom da atividade, que se manifestaria mais tarde.
Começou sua vida profissional como operário da Matarazzo, na área de desenhos para tecidos, onde descobriu sua vocação para a propaganda. Trabalhou na Sears e no Mappin, sendo que nesta última consolidou sua criatividade. Um dos seus mais comentados trabalhos à época foi a introdução de manequins vivos nas vitrines do magazine. Foi o primeiro brasileiro a participar do júri do Leão de Ouro de Cannes, certame mundial que premia comerciais. Em sociedade com José de Alcântara Machado, fundou a ALMAP (ALcântara MAchado, Periscinoto) agência responsável por memoráveis campanhas de marketing.
Conheci o Alex quando fui presidente da ASSOBRAV – Associação Brasileira de Distribuidores Volkswagen. A ALMAP detinha a conta da Volkswagen e nossa entidade colaborava eventualmente na criação de campanhas daquela marca. De voz mansa, extremante educado, um gentleman, era orgulhoso de sua origem caipira, embora houvesse se transformado num cidadão do mundo. Suas palestras eram sempre ouvidas com entusiasmo. Ele começava com uma historinha, uma piada, uma novidade, que preparava os ouvintes para o tema a seguir.
Numa apresentação sobre a importância da propaganda, contava que tinha um amigo que mandara construir uma casa numa esquina do Guarujá. Em estilo das vilas gregas, a casa era toda branca, tinha na frente um gradil artístico e, no lado, um imenso muro branco. Na primeira manhã em que usufruía sua casa, notou que no imenso painel branco havia um enorme palavrão em vermelho gritante. Imediatamente chamou os pintores e mandou repintar a superfície. Dia seguinte, o mesmo palavrão, o que se repetiu até que o amigo do Alex mandou derrubar o muro. Passados uns seis meses, o amigo chamou pedreiros para reconstruí-lo. Na manhã seguinte, nos tapumes colocados para esconder a obra, estava escrito: BREVEMENTE AQUI: e seguia o palavrão.
Gostava muito de dizer que a Igreja Católica tinha uma importância fundamental para a propaganda, pois foi autora do primeiro logotipo: a cruz, com sua simplicidade e grande impacto. Por longos anos, quando as cidades tinham somente prédios baixos, a cruz no alto da torre da igreja indicava a presença do templo. E ela teria inventado também o primeiro jingle, o tocar de seus sinos, chamando os fieis para a missa.
Seu grande companheiro de ALMAP foi José de Alcântara Machado, o relações públicas da agência e seu Presidente. Figura inesquecível, com grande rede de conhecimento entre presidentes de empresas, empresários, políticos, alimentava de clientes a agência, bem como nutria a fidelidade dos que já se usavam dela. Os dois se davam muito bem, foi uma parceria vitoriosa. Seu hobby era a marcenaria, dedicando-se a construir cavalinhos de madeira para carrossel, o que fazia no ateliê de sua casa, com grande entusiasmo e satisfação, prática que incrementou após a aposentadoria.
Alex, escolha dentre eles o que você achar mais bonito e cavalgue para o céu…