Houve uma época que usar de terno fazia parte da rotina dos homens. Era proibido entrar em teatro, cinemas e coisas do tipo sem a vestimenta. Nessa mesma época, lojas especializadas em ternos não existiam. Então, o alfaiate era uma figura imprescindível.
O alfaiate Walter Feloni, o Alemão, viveu nesta época. Vestiu figurões da política e do cenário regional. Não só acompanhou as mudanças, como faz parte da história do Centro de Ribeirão Preto. Hoje aos 82 anos, continua na ativa. É um dos poucos remanescentes na profissão. Desses 82 de vida, 68 são com alfaiate. Foram muitos ternos, histórias e boas lembranças.
“Eu comecei a trabalhar como office boy com 11 anos na Alfaiataria JB (uma das mais famosas da cidade), mas aos 14 comecei como alfaiate. Na parei mais”.
Em 1970, Alemão deixou a JB e abriu o próprio negócio. Alugou uma sala no Edifício Diederichsen. “Muita gente falou que eu era louco. Pois é, foram 47 anos lá. Quem é o louco?”, brinca.
Alemão teve que sair da sala 228 no histórico prédio. A saída foi devido a reforma que o edifício passará. “Me falaram que eu serei o primeiro a voltar quando terminar a reforma, querem que eu volte. Não sei. Vou pensar”.
Ele deixou o Diederichsen, mas não o Centro. Alugou uma sala no prédio em frente ao antigo endereço.
“Eu gosto do Centro. Vi isso aqui crescer. Eu quando criança conheci o senhor Antônio (Diederichsen). Ele andava de charrete com duas japonesas pela cidade. Foi o primeiro prédio. Depois foi o Edifício hotel. O Centro era tudo, imponente, importante. Tinha as festas, como Carnaval, Peruada. Hoje virou isso aqui, uma bagunça total, cheio de camelos”, critica.
Alemão diz que vestiu muita gente famosa. Professores, profissionais importantes, políticos, mas não cita nomes. Também viveu um momento de grande procura pelo serviço. “Teve mês que eu tive que fazer 80 calças e 20 ternos. Eu tinha três alfaiates e quatro costureiras trabalhando comigo. Entrava as 5h30 e só ia embora meia noite”, lembra.
Atualmente ele diz que não faz mais ternos. “As pessoas acham a mão de obra muito cara. Eu cobro R$ 1.800 pela mão de obra e só faço se me trouxerem um tecido bom, de qualidade”.
“Hoje as pessoas preferem comprar ternos prontos. Não falo nada. Mas pode ver, tem diferença”, ressalta em relação às costuras, detalhes e qualidade. “Tem quem paga R$ 3 mil, mas quer na hora. Tem gente que foi comprar terno de manhã para se casar à tarde”, ri.
Apesar de não fazer terno, Alemão vive de consertos em peças. Muitos clientes o procuram para reformas ou ajustes em peças. Tem muito serviço.
Mesmo com muito serviço, a rotina mudou. Não por conta da saúde. É forte e saudável. “Quase morri dias desses por conta da dengue. Pensei que tinha chegado minha hora. Mas melhorei. Acordo cedo e faço ginástica… todos os dias. Só não tenho ficado muito aqui porque estou cuidando da minha esposa que está com um problema de saúde”.
Sobre passar adiante o que aprendeu na profissão, Alemão conta que um neto se interessou. “Ele até lavava jeito, mas preferiu abrir um comércio”. “Hoje somos em no máximo três alfaiates em Ribeirão Preto. Alfaiate é quem faz ternos, sabe tirar as medidas e costurar de acordo. Tem muita gente que faz conserto em ternos, mas alfaiate somos poucos e vai acabar”, finaliza.