Tribuna Ribeirão
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Aldo Rebelo critica o radicalismo proposital

ALFREDO RISK

Depois ocupar importantes cargos políticos, o ex-ministro Aldo Rebelo resolveu temporariamente deixar de ser protagonista para ser observador do cenário político do país. Isso não significa que ele silenciou. Ao contrário. Na era da conectividade Rebelo resolveu discutir os caminhos do Brasil por meio de um Portal idealizado por ele por um grupo de amigos o Bonifácio.net.br.

Qualquer semelhança com o patriarca da Independência brasileira não é mera coincidência. O nome foi estrategica­mente pensado para homenagear, aquele que Rebelo considera o principal articulador para que o Brasil declarasse sua Inde­pendência em 7 de setembro de 1822.

Conhecido pela postura nacionalista, ele já foi vereador na cidade de São Paulo, deputado federal por seis mandatos, mi­nistro por quatro vezes, nos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Dima Roussef e chefe da Casa Civil do governo de São Paulo, durante o mandato do ex-governador Márcio França (PSB).

Ex-filado do PCdoB, onde construiu sua carreira política, Aldo Rebelo deixou o partido em 2017 e se filiou ao PSB de onde sairia pouco tempo depois migrando para o Solidarieda­de. Na última eleição presidencial chegou a ser lançado como pré-candidato a presidente pela legenda, mas retirou oficial­mente sua candidatura pouco tempo depois.

Em visita a Ribeirão Preto ele falou ao Tribuna sobre o fu­turo dos partidos políticos, sobre a Amazônia, radicalismo, o destino do ser humano e sua nova missão na redes sociais.

Tribuna Ribeirão – O senhor foi relator do Código Florestal Brasilei­ro. Como analisa a polêmica envol­vendo as Organizações Ambientais, o Governo Federal e a Amazônia?
Aldo Rebelo – O tema Amazônia é uma fronteira onde acontece uma preocupação legítima e importante que é a proteção do meio ambiente, da floresta, da fauna e da biodiversidade. Mas esta discussão tem também mui­tos interesses comerciais, econômicos e geopolíticos. A Amazônia sempre foi uma área ambicionada pelas potên­cias mundiais. A história mostra que a Espanha, a Holanda, a Inglaterra, a França tiveram interesses na Amazô­nia. Os Estados Unidos também tem esse interesse porque lá têm de tudo, desde a água, todos os minérios até uma imensa biodiversidade. Cabe ao Brasil proteger a Amazônia, mas tam­bém procurar desenvolvê-la e usufruir dos recursos que lá existem.

Mas o que se vê hoje na mídia é de um lado, os defensores da Amazônia como santuário e do outro aqueles que defendem a exploração das riquezas da floresta.
Aldo Rebelo – Exatamente. É um conflito entre desenvolver ou proteger a Amazônia. Ou se transforma ele num santuário desabitado ou se explora ela de forma desenfreada. Na verdade é possí­vel e compatível juntar essas duas visões, mas, esse equilíbrio precisa ser explica­do para a população de forma sensata. O discurso de que as organizações am­bientais querem entregar a Amazônia para outros países ou o discurso feito pelas ONGs de que se alguém plantar um pé de couve ou criar uma cabra na Amazônia vai destruir a floresta não leva o país a lugar nenhum.

Esses discursos radicais não podem ser propositais?
Aldo Rebelo – Na elaboração do Código Florestal procuramos o ca­minho conciliatório: a preservação da vida e o desenvolvimento agrope­cuário. O país vive um momento em que duas correntes políticas se retro­alimentam do radicalismo. Parece um jogo combinado do tipo: você radica­liza ali que eu radicalizo aqui. Assim não damos chance para uma terceira via: a da mediação e da conciliação. Acredito que uma hora isso vai chegar a um ponto de exaustão. E as pessoas terão que substituir o ringue por uma mesa de negociação.

Com a experiência que o senhor tem, não seria hora de contribuir neste processo de mediação?
Aldo Rebelo – Talvez ainda não por­que esse é um processo que está se de­cantando. As pessoas precisam se cons­cientizar que não existe país bom pra um e ruim para o outro. O Brasil tem que ser bom para todos brasileiros e será preciso sentar numa mesa para definir o seu destino. Ou ele dá certo para todo mundo ou dá errado para todo mundo. Fazer o Brasil voltar a crescer interessa a todos, desde os empresários até os tra­balhadores. Alguém achar que porque votou no candidato que venceu, o país vai dar certo para ele e errado para quem não votou nele é besteira. As eleições são passageiras, o que precisamos é pensar o futuro e construir um país para todos. Mas, infelizmente esta não é a agenda do momento.

E como mudar isso?
Aldo Rebelo – Trabalhando para reduzir as desigualdades que estão cres­cendo no país e que tem feito famílias – como vi estes dias – colocando um guar­da roupa e uma cama em plena calçada da avenida Paulista, em São Paulo. Iam passar a morar na avenida porque não tem dinheiro para pagar o aluguel e ti­veram que sair da casa onde moravam. É inaceitável ver pessoas nas ruas de São Paulo e do Brasil procurando lenha para cozinhar porque não tem como com­prar o botijão de gás.

As autoridades citam as reformas Trabalhista e a da Previdência Social como sendo decisivas para o fim das desigualdades. O governo do Partido dos Trabalhadores errou neste com­bate?
Aldo Rebelo – No combate às desi­gualdades sociais não. Ele errou em ou­tras coisas, mas fez um esforço para di­minuir as desigualdades. Agora, o atual governo não faz este esforço e acha que o mercado é que tem que resolver. Mas o mercado não está resolvendo nada. Não está fazendo o Brasil crescer, não está re­solvendo o problema do desemprego e nem da crise fiscal. Na verdade, o mer­cado está retirando dinheiro das bolsas e levando para o exterior para proteger os seus investimentos nos títulos do Tesou­ro Americano.

As reformas podem acabar se tor­nando o conhecido dito popular “ven­der gato por lebre”?
Aldo Rebelo – O Brasil precisa de reformas e acredito que há, no caso da Previdência, distorções e deformações que precisam ser corrigidas. Mas, fazer isso em cima da população mais pobre e poupar as corporações que recebem os mais altos salários deste país, não resol­ve. No caso da Reforma Trabalhista era preciso reduzir a burocracia e o tama­nho de corporações como o Ministério Público do Trabalho que ficou maior do que sua própria atribuição. Na disputa entre capital e o trabalho, em que o Esta­do faz o papel de árbitro, ele não tem que desequilibrar o jogo em favor do capital. O atual governo apostou neste desequi­líbrio e que acha que o Brasil tem que viver, por exemplo, sem sindicatos.

Partindo dessa sua análise o que vai acontecer com aquela família que foi morar na calçada da Avenida Paulista?
Aldo Rebelo – Vai se desfazer do guar­da roupa e da cama e esperar que a eco­nomia melhore para que possa arrumar um emprego para voltar a alugar uma casa. Lamentavelmente enquanto isso não acontece continuará morando na rua. Se o Brasil não trabalhar para mudar essa si­tuação, estaremos no começo do fim. De 2014 até hoje a indústria mundial cresceu em media 8% enquanto a do Brasil enco­lheu 15%. E a indústria é o setor que paga mais porque tem os empregos mais qua­lificados. A crise industrial é pior do que a política que pode ser mudada com uma eleição. Já a reconstrução da indústria, setor que mais emprega, leva muito mais tempo para ser reconstruída.

Outro tema constante no noticiário diz respeito a corrupção. Em sua análise ela aumentou ou estava escondida de­baixo do tapete?
Aldo Rebelo – Eu acredito que as duas coisas. Mas a corrupção piorou também porque havia uma idéia de impunidade e houve abusos que precisavam ser in­vestigados e punidos. Agora, o problema também é o abuso de quem investiga e de quem pune. No afã de investigar e punir, os responsáveis pela investigação, como foi no caso do reitor da Universidade em San­ta Catarina, que todo mundo sabe que era correto e decente, pressionado foi levado ao suicídio.
Se quem investiga não tem isenção para investigar e está contaminado pelo interesses políticos e ideológicos cria-se um processo de inquisição. Nestes casos você tem uma causa justa conduzida de maneira arbitrária e inconseqüente.

Por esse raciocínio a Justiça pode acabar virando vingança?
Aldo Rebelo – É mais do que uma vin­gança porque a vingança se encerra com o ato em si. O que acho é que parte do Ju­diciário de primeiro grau, Ministério Pú­blico e Polícia Federal buscam na verdade substituir a política como dona do destino humano. Na antiguidade o destino huma­no era atribuição dos deuses. No mundo Grego e no Persa quando alguém queria saber o seu destino recorria aos deuses, ao oráculo. Perguntava e ele dizia qual seria o destino das pessoas, da economia e do reino. O conforto era o fato de que a res­ponsabilidade sobre o destino era exclusi­va dos deuses. Quando Roma inventou a política, ela tirou dos deuses esta sobera­nia. Com isso o ser humano passou a ser responsável pelo seu destino e ele mesmo iria fazê-lo.
Em minha opinião eles botaram na cabeça que têm que fazer uma nova mu­dança. A política tirou dos deuses o desti­no e agora eles querem tirá-lo da política. Como se eles tivessem mais legitimidade para decidir o destino do que a política.

Seriam os deuses da modernidade?
Aldo Rebelo – Seriam os deuses da modernidade e os donos do destino por­que acreditam que não possuem defeitos e, a política tem defeitos como a corrupção, o voto comprado e o abuso do poder eco­nômico. Como acreditam no mérito do concurso e que são puros não aceitam que o vereador, o prefeito, o deputado seja que decide. No fundo é isso e é uma tragédia.

Por quanto tempo o senhor pretende ficar afastado da política partidária?
Aldo Rebelo – Vou deixar passar as eleições de 2020, porque deverá haver mu­danças importantes no quadro partidário. As noticiais dão conta de que as próximas eleições serão muito fragmentadas porque todos partidos serão obrigados a lançar candidatura própria para fazer coeficiente eleitoral e eleger pelo menos um vereador. Há em curso muitas movimentações polí­ticas para a fusão e a incorporação de par­tidos. Muitos não sobreviverão às eleições do próximo ano e muito menos as nacio­nais de 2022 – para presidente, governado­res, deputados e senadores -, quando será proibido qualquer tipo de coligação.

Dá para estimar o impacto disso na política partidária?
Aldo Rebelo – Descobrir isso é fácil. É só fazer um levantamento e verificar dos atuais deputados, sejam estaduais ou fede­rais, quantos se elegeram sem o benefício das coligações. A imensa maioria dos elei­tos dependeu das coligações.

O fim das coligações é bom ou ruim para o país?
Aldo Rebelo – É bom para o redimen­sionamento do quadro partidário. O país não tem tantas ideologias para possuir tantos partidos como os que temos. La­mentavelmente alguns partidos viraram meio de vida parta as pessoas. Obrigá-los a se agruparem em correntes com as quais tenham afinidades políticas é bom.

A esquerda também corre este risco.
Aldo Rebelo – Acho que esta é a ten­dência. Há muitos partidos e quando se analisa seus programas verifica-se que eles pensam mais ou menos do mesmo jeito.

Então nas próximas eleições o senhor será apenas expectador.
Aldo Rebelo – Na verdade não serei protagonista. Se amigos pedirem conse­lhos até darei, mas opinião no Brasil não é algo muito valorizado.

O senhor foi secretário estadual da Casa Civil, no governo de Márcio França (PSB). Se ele tivesse ganhado o senhor teria o continuado, caso fosse convidado?
Aldo Rebelo – Aceitei o cargo para ajudá-lo naquele momento. Não tinha como pretensão continuar chefe da Casa Civil do Governo de São Paulo por qua­tro anos.

O que o senhor analisa no Portal Bonifácio?
Aldo Rebelo – Ele tem informação, análise e opinião sobre os grandes aconte­cimentos da vida nacional, da diplomacia brasileira e é focado nas questões nacio­nais. Com um grupo de amigos estamos publicando este portal. Gravo vídeos com temas como a crise na Amazônia a fala do presidente Bolsonaro nas Organizações das Nações Unidas, entre outros assuntos.

José Bonifácio não é um persona­gem muito próximo do cotidiano da população.
Aldo Rebelo – O portal tem um nome pretensioso e queremos aproximá-lo da po­pulação. Este ano é comemorado os duzen­tos anos da volta de José Bonifácio ao Brasil. Entre os anos de 1819 a 1822 ele organizou tudo para a Independência do Brasil.

Quando se fala em esquerda no Bra­sil seu nome vem imediatamente a lem­brança. O senhor está preparado paras as críticas que vai receber de outros gru­pos políticos?
Aldo Rebelo – Acho que a discussão do país passa pela criticas. Elas são boas para encontrar a conciliação e no Portal discu­timos soluções e caminhos para o Brasil independente de ideologia partidária.

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