A prefeitura de Ribeirão Preto vai gastar mais de R$ 100 mil para tentar controlar a infestação de carrapato-estrela que se tornou endêmica no Parque Ecológico Maurílio Biagi, no Centro da cidade. O edital de homologação/adjudicação da licitação aberta para contratar ”empresa especializada para construção de alambrado em área pública localizada na área interna do Parque Maurílio Biagi, às margens do córrego Laureano, com fornecimento de mão de obra e material”.foi publicado no Diário Oficial do Município (DOM) desta terça-feira, 2 de janeiro.
O alambrado às margens do córrego Laureano, no trecho que corta o Parque Maurílio Biagi, tem por objetivo impedir a circulação de capivaras, animais que carregam o carrapato-estrela, responsável pela transmissão da febre maculosa aos seres humanos. A licitação foi vencida pela empresa Crisacon Construtora EPP, localizada na Vila Virgínia, que vai receber pelo serviço o valor global de R$ 103.868,84.
Entre agosto de 2014 e 31 de janeiro e 2015, o Parque Maurílio Biagi ficou seis meses interditado por causa de uma infestação de carrapatos. Na época, a então Divisão de Controle de Vetores explicou que os parasitas ainda circulavam em algumas áreas e, por isso, era preciso que os visitantes tivessem cautela durante os passeios e evitassem circular na grama e andar somente na área de asfalto.
O local foi interditado após um laudo atestar que o Maurílio Biagi estava tomado por carrapatos-estrela. A infestação ocorreu por causa da quantidade de capivaras que ficavam às margens do córrego que cruza o recinto. Os animais, segundo biólogos, são hospedeiros do parasita transmissor da febre maculosa, doença que pode levar os seres humanos à morte.
A prefeitura limpou as áreas contaminadas e substituiu a areia dos playgrounds, além de instalar defensas de concreto ao redor do córrego, para evitar que as capivaras acessem o parque. As medidas, no entanto, não foram suficientes para acabar com a infestação. Isso porque, apesar de se reproduzir uma vez por ano, a fêmea do carrapato coloca de mil a 20 mil ovos por vez.
Pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São paulo (USP) SP e da Superintendência do Controle de Endemias (Sucen) já comprovaram que as capivaras apresentam um importante papel na transmissão da febre maculosa. De acordo com um dos coordenadores do estudo, o professor Marcelo Bahia Labruna, da FMVZ, esses roedores são hospedeiros amplificadores da bactéria causadora da doença, a ”Rickettsia rickettsii” (riquétsia).
Labruna explica que essa bactéria pode ser encontrada em capivaras e em carrapatos-estrela (”Amblyomma cajennense”) contaminados, sendo que ambos poderão transmiti-la. ”Quando uma capivara é infectada, ela se tornará transmissora da bactéria durante duas a três semanas, período chamado de bacteremia. Se um carrapato estrela não contaminado mordê-la, ele será infectado e se tornará também um transmissor da bactéria”, informa.
A capivara é um hospedeiro habitual de carrapatos-estrela: chega-se a encontrar de centenas a milhares desses parasitas em um único animal. A febre maculosa é transmitida aos seres humanos pela picada do carrapato estrela infectado com riquétsia. A doença causa febre, dor muscular, cefaléia e, em 70% dos casos, manchas na pele a partir do terceiro dia após a infecção, podendo haver necrose das extremidades e, nos casos mais graves, levar à morte.
Nos últimos anos, o Parque Ecológico Maurílio Biagi foi interditado inúmeras vezes por causa da elevada infestação por carrapatos-estrela. A região do lago no campus da USP também já foi interditada e placas foram instaladas para alertar sobre a presença de capivaras e dos carrapatos. Até agora, o serviço da prefeitura se resumia à roçada do mato. Agora, com a instalação do alambrado, espera-se conter a circulação de capivaras pelo local, reduzindo ou mesmo eliminando a presença de carrapatos.