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Ainda é preciso agir

Dezembro chegou trazendo mais um pacote de fatos que movimentaram nossa sociedade. Na economia a nota boa se­ria o crescimento do PIB, porém o IBGE já informou que será revisado, após erro nos dados das exportações. Enquanto isso meu amigo Leandro, um brasileiro comum, levou um susto ao tentar abastecer seu veículo, pois o preço do etanol dispa­rou novamente. Para compensar tentou fazer um churrasco e descobriu que o aumento da carne foi bem maior.

A opção foi relaxar e curtir uma velha coletânea com sucessos dos Beatles e Elvis Presley, mas sua irmã alertou que, segundo o novo presidente da Funarte, eles são frutos da manipulação de agentes da União Soviética infiltrados nos Estados Unidos para desestabiliza as mentes da juventude.

Diferentemente do que pensa o maestro, apesar de ro­queiro, Leandro é careta, contrário ao aborto e não curte drogas. Apenas gostou da aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) da comercialização de me­dicamentos feitos a base de cannabis, substância extraída da maconha, para uso medicinal. Ele conhece de perto a reali­dade de várias famílias que possuem crianças com agravos de saúde que somente são controlados com esses produtos.

Então meu amigo liga a televisão e descobre um cidadão que não acredita que exista racismo e prega que a escravidão foi boa para os negros. Além do mais, é contrário à figura de Zumbi dos Palmares, quer destruir o movimento negro e acabar com o Dia da Consciência Negra e as políticas afirma­tivas. Tal pessoa foi nomeada presidente da Fundação Palma­res, órgão responsável pela promoção da cultura afro-brasilei­ra. Além de uma das maiores aberrações políticas dos últimos tempos, foi uma provocação recheada de empáfia de quem deseja destruir a cultura e os movimentos sociais.

Meu amigo não gosta daqueles trenzinhos com per­sonagens que tocam músicas com volume ensurdecedor, principalmente o tal de funk. Também não curte os bailes realizados próximos à sua residência, diz que atrapalham seu descanso. Estudante de Direito, ele defende a regulamentação dos eventos e uma organização capaz de garantir o entreteni­mento e a segurança.

Na faculdade debateu com professores e colegas de classe as mortes em Paraisópolis, que expuseram diversos aspectos que vão desde a ausência de opções de lazer nas comunidades carentes até a truculência e despreparo de diversos agentes do braço armado do estado. O próximo debate será sobre o pro­jeto da Presidência da República que acaba com a cota para trabalhadores com deficiência no mercado de trabalho.

Meu amigo gosta de literatura dos mais variados estilos e ultimamente está estudando Bertolt Brecht, autor da fra­se: “Aquele que não conhece a verdade é simplesmente um ignorante, mas aquele que a conhece e diz que é mentira, este é um criminoso”. O alemão também escreveu o poema “É preciso agir”, que fala da omissão diante das injustiças.

Nesta semana o texto mereceria uma adaptação e aversão atualizada que seria assim: primeiro atacaram os jornalistas, mas não me importei com isso, eu não era jornalista. Depois prende­ram os brigadistas, mas não me importei com isso. Eu também não era brigadista. Então mataram alguns funkeiros, mas não me importei com isso, porque eu não sou funkeiro. Em seguida de­monizaram os roqueiros, mas como não sou roqueiro, também não me importei. Agora estão me levando, mas sinto que é tarde. Como eu não me importei com ninguém…

O final você já sabe.

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