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“Água, elo da vida”

Na Ecologia há o conceito de fator limitante ou crítico. A água, a radia­ção solar, os nutrientes no solo e o dióxido de carbono (CO2) são fatores limitantes para o crescimento e a reprodução das plantas. Todos eles inter­ferem nas taxas de fotossíntese e, portanto, influenciam o que chamamos de produtividade primária líquida. A primeira fonte de nutrição de todos os elos das cadeias alimentares, inclusive daqueles provenientes dos agroecossiste­mas, advêm dos vegetais fotossintetizantes.

Em condições de escassez de água, as plantas murcham e podem morrer. O desencadeamento dessa morte é o dominó da morte dos demais elos. O correntão utilizado para derrubar florestas, cerrados e caatingas, largamente comercializado no país,é formado por elos mortais.A cadeia produtiva do desmatamento ilegal está sendo incentivada pela postura inconsequente do atual governo federal.

No Brasil pulsa vida, não obstante a presença histórica de correntões. A sociedade científica e tecnológica, por exemplo, divulga estudos e aponta caminhos a respeito dos mais variados temas que demandam conhecimento para tomada de decisões sensatas e eficazes. É o caso do recente relatório in­titulado “Água: biodiversidade, serviços ecossistêmicos e bem-estar humano no Brasil”, publicado por um conjunto de instituições científicas nacionais formadas por pesquisadores e professores da área de limnologia.

O trabalho está disponível para consulta no sítio eletrônico da Platafor­ma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES, sigla em inglês) e tem o apoio do Projeto Brasil-Alemanha TEEB (sigla em inglês para Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade).
Preliminarmente, são revelados dados que demonstram a potência do país perante as águas doces e sua relação direta com a economia nacional e transfronteiriça. O Brasil dispõe de 12% das águas superficiais do planeta com a maior extensão de áreas úmidas protegidas!São encontradas mais de 3.000 espécies de peixes de água doce que mobiliza mais de 300.000 pesca­dores artesanais! A Região Norte tem um dos maiores consumos de peixe do mundo: em média 500 gramas/pessoa/dia!

A agricultura através das lavouras irrigadas é o setor que consome a maior quantidade de água: 750.000 litros/segundo! Em 2018 o Brasil expor­tou quase 84 milhões de toneladas de soja, o que corresponde a 8,4 trilhões de litros de água! Cerca de 290 bilhões de m3 de água são reservados ao abastecimento urbano e rural! O brasileiro consome em média 108 litros de água por dia. 65% da matriz energética brasileira tem origem hidrelétrica sendo que 80% dos reservatórios recebem água das Unidades de Conserva­ção, o que garante quantidade e qualidade para sua operação!
No entanto, o alerta do relatório é claro: 40% do território do país apre­senta nível moderado ou alto de ameaça aos corpos hídricos!

A publicação identifica os graves problemas já instalados e aponta soluções pautadas em uma governança integradora para as águas. Trata-se de relatório direcionado a tomadores de decisão. A resistência ao desmanche do Estado passa necessariamente por ações como esta publicação e não apenas a reações às estapafúrdias declarações dos que foram levados ao poder central. Se o governo atual deseja abrir mão da soberania nacional maquiado por um nacionalismo de fachada, queremos deixar claro que não é essa a vontade expressa de grande parcela da sociedade brasileira que possui competência técnica e trajetória de compromisso com interesses coletivos.

Como diz a coordenadora do referido relatório, a professora Aliny Pires, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, “se a água no está boa para a biodiversidade, também não estará boa para o consumo humano”. De outra maneira, se não houver investimento em saneamento e conservação da natu­reza, a estimativa é de que 74 milhões de brasileiros não terão acesso à água em 2035, pois antes de atingirmos os níveis críticos das reservas de água, a qualidade para consumo humano se tornará imprópria.

A segurança hídrica não está garantida pela abundância de água. Somen­te estará se aprimorarmos os instrumentos de gestão vigentes. Os ambientes aquáticos devem ser manejados com vistas à conservação da biodiversidade, ao suporte para as atividades econômicas eao bem-estar da população.

É em meio aquoso que ocorre a maioria das reações químicas.

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