Com mais de 5,5 milhões de hectares de água doce, o Brasil é responsável por 0,76% da produção aquícola mundial, sendo que a informalidade da atividade e dos seus processos de decisão é uma realidade para o caso brasileiro, o que restringe uma melhor e maior exploração dos recursos potenciais do país. Os estudos empíricos para este setor concentram-se em avaliações econômicas de projetos específicos, sendo um desafio e até um desconhecimento o potencial de rentabilidade da empresa inserida na aquicultura no Brasil. O agronegócio é responsável pela integração de diversos setores da economia e sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tem aumentado nos últimos anos.
Embora as análises de investimentos constituam um dos instrumentos de decisão mais representativos na gestão financeira, a viabilidade do empreendimento não deve se basear exclusivamente na seleção de projetos com valor presente líquido positivo, mas necessita incorporar estudos de alavancagem, estruturas de liquidez, gestão do capital de giro e gestão baseada em desempenho e criação de valor.
Em decorrência desta elevada informalidade existente na gestão da empresa rural, em especial na piscicultura, a motivação inicial deste artigo foi responder ao seguinte questionamento: Como estruturar um modelo de gestão financeira para a piscicultura?
Diante da realidade do pequeno e do médio produtor rural, sugere-se a utilização da estruturado livro-caixa rural, muito comum e utilizado em pequenas empresas rurais.
Por considerar a característica do processo produtivo da piscicultura, orienta-se a iniciar a construção da primeira parte, (das três que compõem o fluxo de caixa) pelo fluxo de caixa operacional (FCO), através dos lotes de produção.
Construir o desempenho através dos lotes de produção, quantifica e demonstra seu resultado operacional, porém, esta estratégia avança trazendo contribuições para o repasse dos custos aos lotes, melhorando a gestão financeira, a tomada de decisões por parte dos piscicultores, pois divide os custos operacionais, do custo do investimento e financiamento.
A soma dos lotes de produção então, construirá o fluxo de caixa operacional. A escrituração dos eventos realizados relativos aos investimentos e aos financiamentos são lançados também no fluxo para que se possa mensurar sua capacidade real de geração de caixa.
O resultado final demonstra o fluxo de caixa sugerido para o piscicultor com as três partes necessárias (operacional, investimento e financiamento) em sua composição total, e demonstra também, os resultados consolidados. Esta dinâmica de fluxo proporciona o levantamento de indicadores como (ROE); (ROI); (GAF); Retorno da Margem de contribuição; Margem Operacional; visualização da movimentação do caixa dentre outros.
De posse desses indicadores, tanto os empresários rurais quanto os profissionais liberais que os assessoram podem criar uma sistemática para utilizá-los de forma rigorosa e constante. Isto reduz em muito a necessidade de dados e oferece bases para o diálogo pragmático entre aqueles que detêm o saber das ciências contábeis e finanças e aqueles diretamente à frente das decisões produtivas, tomadas diariamente no campo da produção.
Acresce-se que o aprendizado/utilização desses indicadores eleva a eficiência da gerência geral e oferece também uma avaliação mais crítica sobre as estratégias que envolvem a origem dos problemas e possíveis soluções.
Espera-se que novas investigações nesta direção possam ser empreendidas como forma de avaliar a capacidade deste modelo em analisar as empresas da piscicultura por meio de pesquisas.
Estender essa abordagem para outros segmentos do agronegócio poderá contribuir de forma significativa para a gestão da empresa rural, cujo espaço na literatura é incipiente, apesar da relevante importância econômica e social que tem para o Brasil e para as economias emergentes.