O carnaval chegou e o Afoxé Omó Orunmilá, resistindo valentemente à ausência de políticas públicas voltadas para a uma das principais manifestações culturais do Brasil, completa 25 anos de desfiles ininterruptos e se mantém firme em sua missão de preservar a cultura negra e combater o racismo e todas as formas de discriminação e intolerância.
Neste sábado, 22 de fevereiro, a partir das 20 horas, ao lado do Bloco Opinião do Samba, os integrantes e simpatizantes do afoxé vão comemorar a data com mais um desfile na avenida Maestro Hervé Cordovil, no bairro Antônio Marincek, na Zona Norte de Ribeirão Preto – faz a abertura do carnaval de rua da cidade desde 1996.
Nos últimos anos, cerca de 200 pessoas participaram de cada desfile, um percurso de aproximadamente 500 metros, todas vestidas a caráter, exaltando a festa e representando a cultura africana com músicas, danças e encenações artísticas. Segundo uma das fundadoras do Centro Cultural Orunmilá, Neide Ribeiro, há 25 anos o grupo abre o carnaval de Ribeirão Preto, homenageando um orixá diferente.
Fundado em março de 1994, em Ribeirão Preto, no bairro do Tanquinho, na Zona Norte, o Centro Cultural Orunmilá tem como uma de suas principais atividades o afoxé. É uma entidade sem fins econômicos que tem como função primordial a elevação da condição humana mediante a promoção da cidadania, da busca dos elementos da identidade sociocultural, da reconquista da dignidade e da auto-estima particularmente da população negra.
Procura questionar e oferecer novos elementos para contribuir com a superação de um processo de educação de caráter conservador e elitista que predominou no Brasil, sem questionamentos, durante muitos anos. Reúne diferentes formas de troca, aquisição de conhecimentos que formam um conjunto de atividades e oficinas culturais gratuitas: dança afro-yorubana, percussão, samba rock, capoeira, hip hop, construção de tambores, inclusão digital, biblioteca temática, culinária africana, ciclo de palestras, entre outras coisas.
O Centro Cultural Orunmilá – que na língua yorubá significa “Somente o céu conhece seu destino” – foi reconhecido como Ponto de Cultura selecionado pelo Programa Cultura Viva do Ministério da Cultura, em 2010. Nos últimos 20 anos se tornou referência nacional no combate ao racismo e a discriminação racial.
Manifestação histórico-cultural de matriz africana, o afoxé não é um “bloco de carnaval” nem um “bloco afro”. Suas raízes mais profundas estão na cultura, na filosofia e nas lutas dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana. Em síntese, como já disse Gilberto Gil, para facilitar a compreensão, “um afoxé é candomblé de rua”.
É a expressão de uma cultura milenar que mantém como fundamental o vínculo do humano com a natureza na sua totalidade e inteireza, no aspecto físico/concreto e na dimensão cultural/ancestral ou espiritual, cósmica. Neste sábado defenderá o seu direito de abrir o carnaval, abrir espaços para a alegria e para a festa, abrir caminhos para confraternização e a solidariedade, mesmo depois de quase uma década de desmonte das políticas públicas voltadas para a valorização e fomento da cultura em Ribeirão Preto.