Tribuna Ribeirão
Saúde

Adoçante aspartame pode causar câncer

ILUSTRAÇÃO

O adoçante artificial aspar­tame foi classificado como um composto “possivelmente can­cerígeno para seres humanos” pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc), órgão vinculado à Organização Mundial da Saúde (OMS). O relatório, liberado na quinta­-feira, 13 de julho, categorizou a substância no grupo conhe­cido como 2b, do qual também fazem parte o extrato de aloe vera, as radiações eletromagné­ticas e o digoxina, um medica­mento indicado no tratamento de insuficiência cardíaca.

O trabalho foi feito em par­ceria com o Comitê Conjunto de Especialistas em Aditivos Alimentares (JECFA) da Or­ganização para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Os dois órgãos realizaram revisões in­dependentes – mas comple­mentares – da literatura cien­tífica. Enquanto a Iarc informa se determinada substância é cancerígena (ou não) e em qual grau, o JEFCA avalia a dosagem considerada segura.

O aspartame entrou no gru­po porque a Iarc encontrou evi­dências limitadas de que ele cau­sa câncer em humanos – mais especificamente o carcinoma hepatocelular, que é um tipo de câncer de fígado. A agência tam­bém relatou que há evidências limitadas sobre esse elo em estu­dos com animais e em relação a possíveis mecanismos de ação.

“Temos evidências limitadas, e para um tipo de câncer. Portan­to, essa classificação representa mais um chamado para que a comunidade científica realize mais pesquisas com o objetivo de entender melhor o potencial carcinogênico do aspartame”, disse Mary Schubauer-Berigan, representante da Iarc.

Por isso, em paralelo, o JE­CFA concluiu que ainda não há motivos para alterar o limite máximo de ingestão diária de aspartame, que é de 40 mg por quilo de peso da pessoa. A aná­lise é especialmente bem-vinda devido à popularidade desse adoçante artificial. Conhecido por ser 200 vezes mais doce do que o açúcar, ele entra na fórmu­la de vários produtos.

“O aspartame é encontra­do principalmente em bebidas artificiais e industrializadas”, comenta a médica nutróloga Andrea Pereira, do Hospital Israelita Albert Einstein (SP). Sorvetes, iogurtes, gomas de mascar, confeitos, molhos e outras guloseimas também são elaborados com a substância.

Limite seguro
A inserção do aspartame pelo Iarc no grupo 2b não sig­nifica que ele esteja proibido. O relatório do JECFA mantém a indicação de 40 mg por quilo de peso como um limite diário seguro. Francesco Branca, di­retor do Departamento de Nu­trição e Segurança Alimentar da OMS, ressaltou que se trata de uma quantidade bastante significativa.

Para a nutricionista Ma­ria Eduarda de Melo, da Área Técnica de Alimentação, Nu­trição, Atividade Física e Cân­cer do Instituto Nacional de Câncer (Inca), embora o limite realmente seja amplo, isso não significa que o aspartame não mereça um olhar cauteloso.

Ela lembra que, em maio deste ano, com base em uma sé­rie de estudos, a OMS deixou de recomendar o uso de adoçantes artificiais como estratégia para perder peso ou evitar doenças como diabetes – questões que sempre tiveram grande apelo.

No cenário ideal, os ado­çantes artificiais (de maneira geral) deveriam ser utilizados por pessoas que precisam de­les por condições de saúde. É o caso de pacientes com diabetes do tipo 2. E, mesmo assim, o conselho é que essa ingestão seja orientada por um nutri­cionista ou médico.

Desde 1971, a Agência Inter­nacional de Pesquisa em Câncer (Iarc), ligada à OMS, avalia o potencial carcinogênico de uma série de elementos, de produtos químicos a fatores de estilo de vida. Segundo a entidade, até agora, mais de mil agentes pas­saram por esse crivo, sendo que mais de 500 foram enquadrados como “carcinogênicos”, “pro­vavelmente carcinogênicos” ou “possivelmente carcinogênicos” para humanos.

Anvisa
A Agência Nacional de Vigi­lância Sanitária (Anvisa) manteve a recomendação relacionada ao adoçante aspartame, cujo limite de ingestão diária é de 40 miligra­mas por quilo de peso. Em nota publicada nesta sexta-feira (14), a agência afirma que acompanhará a Organização Mundial da Saúde em relação ao tema.

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