Por André Cáceres
O Ninguém, quadrinho publicado em 2009 pelo canadense Jeff Lemire que chega pela primeira vez ao Brasil pela editora Pipoca & Nanquim, adapta o clássico O Homem Invisível (1897), de Herbert George Wells (1866-1946).
A ideia de invisibilidade já havia sido explorada na República de Platão, nas Metamorfoses de Ovídioou em contos de horror de Ambrose Bierce e Edgar Allan Poe, mas o romance do inglês H.G. Wells, além de fornecer uma justificativa científica à característica, atrela essa fantasia supostamente escapista a questões que permanecem atuais, como solidão e preconceito.
Na HQ de Lemire, John Griffen (no original de Wells, Griffin) é um químico que descobre a fórmula da invisibilidade, mas não consegue retornar à sua forma após o experimento. Ele foge para um vilarejo pequeno para trabalhar em sua cura, mas a esquisita figura encapuzada e envolta por bandagens e óculos escuros chama a atenção dos provincianos habitantes locais. Ironicamente, tentando passar despercebido Griffin se torna o centro das atenções no local.
Lemire situa a HQ nos anos 1990, cem anos depois da publicação original, mas mostra como a hostilidade em relação ao diferente e o ódio ao desconhecido continuam em alta no mundo contemporâneo. Basta que uma personagem da vila desapareça sem explicação para que a suspeita automaticamente recaia sobre Griffen. Inocente, ele se vê perseguido por uma turba de justiceiros – cena que evoca o “tribunal” das redes sociais.
Adaptado para o cinema em 1933 por James Whale e novamente em 2000, por Paul Verhoeven, O Homem Invisível ganhará nova versão em 2020, por Leigh Whannell, provando a duradoura relevância do pioneiro da ficção científica H.G. Wells.