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Acordo com PF – Palocci pede proteção para ele e família

O delator Antonio Palocci passa a primeira noite em casa depois de dois anos e três me­ses de prisão, na sede da Polícia Federal em Curitiba, o berço da Operação Lava Jato. Uma das cláusulas do contrato de delação premiada, homologado pelo Tribunal Regional Federal (TRF-4), que garantiu o direito de passar para o regime prisional semiaberto domiciliar, monito­rado por tornozeleira eletrônica, prevê que a polícia providencia­rá sua “imediata inclusão” em programa federal de proteção à testemunhas, caso ele solicite.

O item II da delação de Pa­locci, sobre os benefícios garan­tidos em caso de cumprimento do acordo de delação, diz no parágrafo sétimo: “Caso o Cola­borador, por si ou por seu pro­curador, solicite medidas para garantia da sua segurança ou a de sua família, a Polícia Fede­ral representará pela tomada de providências necessárias para a sua inclusão imediata no pro­grama federal de proteção ao depoente especial”. O pedido é feito com base em dois artigos da Lei de Proteção à Vítimas e Testemunhas (9807/1999).

No parágrafo oitavo, ficam também garantidos os bene­fícios garantidos ao colaborar pela Lei de Organizações Cri­minosas (12850/2013), que estipula seis direitos como ter nome, qualificação, imagem e demais informações pessoais preservados, ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores e partícipes dos crimes entre outras.

Bomba
Classificada de delação bomba, o acordo de Palocci é o primeiro de um integrante do topo da pirâmide do núcleo po­lítico de comando no esquema de loteamento e de corrupção na Petrobras alvo da Lava Jato.

Seu conteúdo – maior par­te ainda sob sigilo – destrincha como os governos do PT uni­ram o cartel de empreiteiras, que fatiou as obras de refina­rias durante o primeiro ciclo de investimentos na Petrobras nas gestões de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006 e 2007–2010), com multinacio­nais do setor de exploração de petróleo nos bilionários ne­gócios gerados pelo pré-sal e como os acertos decorrentes bancaram as campanhas de Dilma Rousseff (2010 e 2014) e também campanhas muni­cipais do PT (em 2012).

Palocci afirmou que Lula não só sabia do esquema de propinas como participou dele, incriminou Dilma, ainda fora dos alvos diretos da Lava Jato, apontou corrupção nas sondas de exploração do pré-sal, nas obras da Hidrelétrica de Belo Monte (PA), em negócios pe­trolíferos na África e tentativas de obstrução às investigações, entre outras.

Classificada como a “cena mais chocante” de um presiden­te que “sucumbiu ao pior da po­lítica no melhor dos momentos do seu governo”, o delator diz que o caso dos navio-sondas “marca uma mudança significa­tiva” na forma como o ex-presi­dente interagia com a corrupção nos governos petistas.

“Ele sempre soube que tinha ilícito e sempre apoiou as inicia­tivas de financiamento ilícito de campanha, mas no caso do pré-sal ele passou a ter uma atuação pessoal, direta”, afirmou Palocci, em uma das 63 vezes que deixou a carceragem para colaborar com os investigadores.

Novidades
A delação de Palocci, ho­mologada em junho tem 18 termos de depoimento que for­necem dados para cinco fren­tes distintas de investigação da Polícia Federal, em Curitiba. Os casos são investigados pelo delegado Filipe Hille Pace, que conduziu o acordo.

Sua colaboração com a Justi­ça, no entanto, antecede a dela­ção com a PF. Em 2017, diante do juiz federal Sérgio Moro, ele confessou em depoimento o “pacto de sangue” firmado entre Lula e o empresário Emílio Ode­brecht, que envolveria R$ 300 milhões à disposição do partido e seus políticos.

Dias depois, tornou pública, via defesa, uma carta enviada ao PT informando sua desfiliação do partido e com a mais dura autocrítica já feita por um pe­tista. Com um ano de prisão, ele confessou crimes indicou que incriminaria Lula. “Não posso deixar de registrar a evolução e o acúmulo de eventos de corrup­ção em nossos governos e, prin­cipalmente, a partir do segundo governo Lula”, escreveu Palocci, um dos fundadores do PT, que foi ministro da Fazenda de Lula, coordenador da campanha e ministro da Casa Civil de Dilma.

As revelação de Palocci, de­lator, não param por aí. A defe­sa conseguiu fechar um acordo também com a PF no âmbito dos casos de alvos com direito a foro privilegiado. Ainda sob sigilo, as revelações sob a guarda do Supremo Tribunal Federal (STF) podem trazer novos fatos e dados. O Ministério Público também aderiu ao acordo.

Palocci não é um colabora­dor qualquer: ex-ministro da Fazenda de Lula, ex-Casa Civil de Dilma e ex-conselheiro da Petrobras, seu papel de lideran­ça no esquema político de cor­rupção alvo da Lava Jato pesou na decisão de fechamento do acordo com a PF.

Amplitude
O advogado Tracy Reinan­det, que defende Palocci e foi responsável pelo acordo fechado com a PF, afirmou que o clien­te “continuará colaborando de modo amplo e irrestrito com a Justiça”, após decisão do TRF-4.

Segundo Reinaldet, “a de­cisão reafirma a seriedade do procedimento de cooperação realizado com a Polícia Federal de Curitiba. Palocci continuará colaborando de modo amplo e irrestrito com a Justiça”.

Nos documentos apresen­tados pela defesa ao tribunal da Lava Jato, a defesa sustenta que Palocci vem colaborando com a operação para desven­dar a existência da organiza­ção criminosa, “quem foram os líderes e demais integran­tes”, “a estrutura hierárquica” e a “divisão de tarefas da orcrim” (organização criminosa)”. “Trata-se de uma colaboração realizada por um dos princi­pais integrantes da mais alta cúpula do partido político que ficou por 14 anos no degrau mais elevado do Poder”.

Para a defesa, é uma “colabo­ração que desnudou por com­pleto o triste funcionamento de uma forma patológica de go­vernar e que não foi apenas útil, mas também necessária”.

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