A Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp) e os seus 5.600 associados lançaram um manifesto, distribuído à imprensa na manhã desta sexta-feira, 29 de outubro, para cobrar reforço da segurança pública na região do Centro da cidade, que em dezembro costuma receber cerca de um milhão de pessoas por dia devido ao Natal. Antes tem a Black Friday, em 26 de novembro.
A Acirp diz que o manifesto é uma forma de expressar sua “preocupação e tristeza com o gradativo processo de abandono do Centro de Ribeirão Preto pelo Poder Público, com reflexos extremamente perigosos na segurança e integridade física de comerciantes e moradores”.
Segundo a associação, nos últimos anos vem ocorrendo um processo de degradação da área central da cidade, que coincide com a redução e extinção do sistema de videovigilância, o chamado Olhos de Águia. “Lembramos que, até alguns anos atrás, a Acirp era responsável pela manutenção de todo o sistema, formado por mais de 20 câmeras de vigilância”, diz no manifesto.
“Até onde sabemos, os índices de violência na região central eram significativamente inferiores aos atuais”, emenda. Nos últimos dois meses, pelo menos quatro estabelecimentos comerciais do Centro foram alvos de ataques marcados pela extrema violência, causando, inclusive, o fechamento de um dos negócios.
“Sabemos das dificuldades que a administração municipal enfrenta na gestão de uma cidade de 720.116 habitantes – segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes a 31 de julho –, ainda mais durante o processo devastador de uma pandemia”, ressalta a Acirp.
“Mas existem diferenças significativas entre dificuldades e a ausência de ação. E, as consequências dessa inação têm reflexos terríveis (e diários) nas vidas dos moradores e comerciantes do Centro. O momento das desculpas é passado. Precisamos de ação ou, pelo menos, indícios de que os gestores desta cidade têm um mínimo de preocupação com a região central”.
A Acirp, comerciantes, prestadores de serviços e os moradores do Centro de Ribeirão Preto “exigem que a região que deu origem à cidade – e sua principal área comercial – seja tratada com o respeito que merece”. “Exigimos segurança para poder trabalhar sem vermos as portas dos nossos estabelecimentos arrombadas, causando milhares de reais em prejuízo e o encerramento de negócios”, emenda.
O manifesto diz ainda que todas as pessoas querem caminhar pela área central sem correr o risco de ser vítimas de furtos ou roubos. “Exigimos que o ambiente de negócios seja gerido por leis que possam ser aplicadas a todos, de forma indistinta”.
A nota termina com outra exigência. “Por fim, exigimos o direito de poder comprar e vender sem ter as nossas vidas postas em risco, pela falta de proteção do Estado, conforme exigido pela Constituição da República Federativa do Brasil”.
Segundo os dados do levantamento “Estatísticas da Criminalidade”, divulgados pela Secretaria de Estado da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP/SP), na área do 1º Distrito Policial, instalado na rua Duque de Caxias e que atende todo o Centro, o número de furtos subiu 4.6% este ano em comparação com o período de nove meses de 2020, passando de 542 para 567, acréscimo de 25.
Somente em setembro saltou de 48 para 73, também aporte de 25 e aumento de 52,1%. Em relação a agosto deste ano (71), houve estabilidade, com leve alta de 2,8% e dois casos a mais. As ocorrências de roubo – quando a vítima sofre ameaça (entram na estatística os de carga e a bancos) – saltaram de 135 para 163, avanço de 20,7% e 28 crimes a mais.
Na comparação mensal a alta chega a 116,7%, de doze para 26. São 14 a mais. Em relação a agosto (15), o aumento chega a 73,3%, com onze ocorrências a mais. Os furtos de veículos recuaram 4,8% em nove meses, de 84 para 80, quatro a menos. Caiu de 25 para dez na comparação mensal, 15 a menos e queda de 60%. Em relação a agosto (13), a queda é de 23,1%, três casos a menos.
Os roubos de carros, motos e afins despencaram de dez para um em nove meses, nove a menos e baixa de 90%. Não houve ocorrência de roubo de automóveis ou motocicletas na região Central em agosto e setembro deste ano. No nono mês do ano passado foram duas. Segundo a SSP-SP, foram efetuadas 109 prisões entre janeiro e setembro no Centro, sendo que 90 pessoas foram presas em flagrante. Vinte e um veículos foram recuperados neste setor
A segurança na região Central de Ribeirão Preto será reforçada pela Polícia Militar em dezembro por causa do período de vendas natalinas. É o período de maior circulação de dinheiro. Um levantamento realizado pelo Instituto de Economia Maurílio Biagi (Iemb), da Acirp, aponta que o pagamento das duas parcelas do décimo terceiro salário deve injetar R$ 652.574.613,58 líquidos na economia ribeirão-pretana.
O que dizem prefeitura e PM
Após a divulgação do manifesto da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), o jornal Tribuna entrou em contato com a prefeitura. A administração municipal informa, por meio de nota, que a Guarda Civil Metropolitana (GCM) mantém uma base no Centro para garantir a proteção do patrimônio e dos equipamentos públicos municipais.
No entanto, ressalta que, em relação a ações para coibir práticas criminosas, é de responsabilidade de outros órgãos de segurança pública. A prefeitura ainda pontua que investe em ações para garantir a segurança da população, como a implantação de 102 câmeras, sendo 40 no quadrilátero central.
Diz que já foram instalados 24 equipamentos em locais monitorados pelo antigo projeto Olhos de Águia e mais 16 estão em processo de instalação. Para entrarem em operação é necessário a implantação da fibra ótica. O edital para contratação da empresa já foi publicado no Diário Oficial do Município de quinta-feira (28).
O pregão eletrônico receberá propostas até 16 de novembro e a abertura e disputa dos preços acontecerá no mesmo dia. O valor estimado é de R$ 310.408. Todas as câmeras estarão interligadas em um único sistema tecnológico de segurança, formando o programa Guardiões da Cidade.
A Polícia Militar também foi contatada e se pronunciou dizendo ser responsável pelo policiamento ostensivo e preventivo, assim como pela preservação da ordem pública da região Central. Além disso, completa informando que busca propiciar maior sensação de segurança aos estabelecimentos comerciais, moradores e transeuntes.
“Frente ao manifesto publicado pela Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), informamos que como instituição pública quase bicentenária, sempre tivemos preocupação com o bem-estar da população na questão de segurança pública, desenvolvendo nesse sentido diversas reuniões com a comunidade de moradores e comerciantes, através do Conselho de Segurança Comunitária (Conseg), Sindicato do Comércio Varejista de Ribeirão Preto (Sincovarp) e a própria Acirp”, diz em nota.
A corporação ainda diz que, desde 2014, foi instituído e desenvolvido o Programa de Vizinhança Solidária, que atua na área central de Ribeirão Preto e busca, por meio de ferramentas de mídias sociais, aproximar os cidadãos uns dos outros, com o olhar voltado para a segurança pública, e assim propiciar um círculo de proteção primária.
“Contudo, algumas dificuldades ainda não foram vencidas, quer seja por problemas legais, falta de recursos ou equipamentos ou outros de maneira geral, e que assim demandam a continuidade na tentativa de melhoria das condições gerais de segurança”, comunica a Polícia Militar. Para finalizar, a corporação ressalta que, em 2021, foram realizadas 26.752 buscas pessoais, assim como 18.676 veículos fiscalizados, 148 pessoas presas e três armas apreendidas no Centro de Ribeirão Preto.