Nos últimos seis anos, 106 trabalhadores não voltaram para casa em Ribeirão Preto, entrando para a estatística de vítimas fatais de acidentes de trabalho. Entre 2012 a 2017, a média anual de mortes passa de 17, uma quantidade tão absurda quanto o número total de ocorrências registradas neste período na cidade, de 21.399. Os dados são do Ministério Público Trabalho (MPT).
Segundo o MPT, a média de acidentes de trabalho em Ribeirão Preto é preocupante: são 3.506 por ano, 297 por mês, quase dez por dia (9,7). Neste cálculo, segundo o órgão, entram as doenças ocupacionais. No mesmo período, com base nesta quantidade de Comunicações de Acidente de Trabalho (CATs), foram concedidos 6.643 auxílios-doença (benefício concedido a trabalhadores com mais de 15 dias de afastamento). São cerca de 1.100 por ano, 91 por mês e três por dia.
São Paulo – O número de acidentes no estado de São Paulo registrou grande queda em 2017, na comparação com 2016. No ano passado foram registradas 196 mil comunicações de acidentes de trabalho, enquanto que em 2016 houve o registro de 375 mil CATs, uma redução de 47%. “A queda não reflete, necessariamente, numa melhoria da segurança nos locais de trabalho”, aponta o procurador e coordenador regional da Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho, José Fernando Ruiz Maturana.
“Em decorrência de um cenário de recessão econômica, houve redução do número de vagas formais, ao mesmo tempo em que se constatou um aumento do trabalho informal, o que pode resultar até numa subnotificação dos acidentes e doenças ocupacionais. Junte-se a isso o forte ataque que o direito do trabalho e as instituições trabalhistas vêm sofrendo, decorrente das reformas recém-implementadas, culminando no aumento do descompromisso dos empregadores para com o cumprimento das normas de saúde e segurança do trabalho”, diz.
Brasil – De 2012 a 2017 foram registradas no Brasil cerca de 15 mil mortes por acidentes de trabalho, num universo de quatro milhões de acidentes e doenças ocupacionais, gerando um gasto superior a R$ 26 bilhões somente com despesas previdenciárias e R$ 315 milhões de dias de trabalho perdidos. “Segundo estimativas globais da Organização Internacional do Trabalho, acidentes e doenças de trabalho implicam perda anual de cerca de 4% do Produto Interno Bruto, o que, no caso do Brasil, equivaleria, em números de 2017, a R$ 264 bilhões”, revela o procurador do Trabalho Luís Fabiano de Assis, responsável pelo Observatório de Saúde e Segurança do Trabalho.
Segundo o Observatório, a maior parte dos acidentes no Brasil, no período de 2012 a 2017, foram causados por máquinas e equipamentos (15%), atividade em que as amputações são 15 vezes mais frequentes e que gera três vezes mais vítimas fatais que a média geral. Para Luis Fabiano, “os dados demonstram a carência de medidas de proteção coletiva e de políticas de prevenção específicas para máquinas e equipamentos”.
Os profissionais que atuam no atendimento hospitalar são os que mais sofrem acidentes (10% dos casos), em especial aqueles que trabalham na enfermagem e na limpeza. As principais ocupações atingidas são: alimentadores de linha de produção, técnico de enfermagem, faxineiro servente de obras e motoristas de caminhão.