O empresário André Ignacio, de 40 anos, foi eleito o novo diretor regional do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) de Ribeirão Preto e região. Ele foi empossado no dia 18 de novembro, junto com as diretorias executiva, regionais, municipais e distritais, eleitas para o quadriênio 2022-2025. A Assembleia de posse foi presidida pelo presidente do CIESP, Paulo Skaf.
Formado em administração de empresas, André é empresário do setor industrial de medicamentos, há mais de uma década. Além de suas atividades na iniciativa privada participa de forma ativa no associativismo, tendo ocupado cargos em diversas instituições. É o atual presidente da Associação Brasileira da Indústria de Soluções Parenterais (Abrasp).
Tribuna Ribeirão – O senhor foi eleito diretor-titular por Ribeirão Preto para o Ciesp. O que representa sua eleição?
André Ignacio – Primeiramente é importante frisar que o CIESP é a maior representatividade industrial da América Latina, o que mostra a força industrial do estado de São Paulo não só em nível de Brasil, mas sim em nível mundial. Fundado em 1928, o CIESP em 1949 se descentralizou através da abertura das Diretorias Regionais, onde a DR-Ribeirão Preto é uma das mais importantes, representando além de Ribeirão Preto, outras importantes cidades da nossa região. A minha eleição veio como consequência de mais de uma década participando ativamente da entidade como conselheiro e também tendo sido Coordenador do Núcleo de Jovens Empreendedores, tendo recebido o apoio da Diretoria anterior liderada pelo Industrial Guilherme Feitosa para a continuidade e expansão do trabalho hoje realizado.
Tribuna Ribeirão – Como o senhor pretende atuar durante seu mandato?
André Ignacio – O CIESP possui estrutura física e de recursos humanos invejável, tendo além do icônico Edifício Sede da Avenida Paulista, sedes regionais muito estruturadas como é o caso de Ribeirão Preto, e profissionais contratados que são referências em qualificação. Entendo, porém, que quem constrói as associações são as pessoas e o principal recurso do CIESP são os empresários e executivos industriais que circulam pela entidade. Então, pretendo atuar respeitando esses importantes líderes com uma escuta muito ativa, e sendo a voz do setor em todas as demandas e tendo foco no crescimento tanto da entidade quanto da indústria da região. Importante frisar que seguiremos atuando de forma muito propositiva junto às prefeituras municipais e demais órgãos das cidades representadas pela Diretoria Regional, de forma a reduzir os entraves que dificultam o desenvolvimento industrial e também na criação de maiores oportunidades de investimento.
Tribuna Ribeirão – Quais são os principais desafios que os setores produtivos, como o das indústrias enfrentam atualmente em função da pandemia do coronavírus?
André Ignacio – A indústria talvez tenha sido o segmento menos afetado pela pandemia, uma vez que não possui atendimento ao público e seguiu trabalhando em quase todas as paralizações dos municípios, salvo raras exceções. De qualquer forma, a pandemia gerou paralizações em países que são importantes fabricantes mundiais de insumos para a indústria, como China e Índia, o que rompeu balanceamento entre oferta e demanda de matérias-primas industriais, atingindo em cheio o abastecimento, que levou grande parte das indústrias a terem que paralisar linhas de produção ou até mesmo fábricas inteiras, desencadeando na falta de bens de consumo e aumento de preços.
Tribuna Ribeirão – O Brasil vive hoje uma crise econômica. Em sua avaliação o que é preciso ser feito para evitar que ela se aprofunde?
André Ignacio – A crise econômica não vem de hoje, o país já estava estagnado, antes da pandemia, que agravou ainda mais a situação. A fórmula para evitar que a crise se aprofunde foi dada pelo governo através de programas de estímulos diretos, porém essas medidas tem sempre efeito de curto prazo. A solução, em minha opinião, já é sabida de longa data pelas diferentes equipes econômicas recentes que participaram dos governos. Para destravar o crescimento econômico é necessário que se realizem as reformas estruturantes faltantes, notadamente a tributária, mas sem esquecer que a burocracia das três esferas governamentais atingiu níveis que matam o investimento privado. Hoje os prazos para abertura de empresas e concessão de licenças de operação inibem o empreendedorismo, além de exigirem conhecimento e investimento muito altos de quem está começando.
Tribuna Ribeirão – Como o CIESP pode contribuir no processo de retomada da economia?
André Ignacio – Principalmente em duas frentes, a associação é notadamente qualificada para dar suporte e informação plena para o associado, em todos os níveis e áreas de conhecimento necessárias, possuindo núcleos de trabalho organizados especificamente por temas de interesse do industrial. Creio que o núcleo de acesso ao crédito é fundamental neste momento de crise e ele tem funcionado muito bem como ponte entre bancos e indústrias associadas. A segunda frente é a atuação política em apoio e também na cobrança das esferas públicas na redução de obstáculos a instalação e crescimento de empresas industriais nos municípios. Exemplo recente foi a atuação firme e orientada do CIESP ante a Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto junto às secretarias municipais de Planejamento e Desenvolvimento no tema da Lei de Uso e Ocupação do Solo do Plano Diretor do Município, com foco em garantir áreas para expansão industrial na cidade. Ribeirão Preto atrai atenção de investimentos indústrias. Porém, em regra, temos perdido os novos investimentos para outras cidades, e isso precisa mudar.
Tribuna Ribeirão – No campo político, atualmente, existe uma polarização muito grande no país. Essa polarização tem atrapalhado o desenvolvimento da economia?
André Ignacio – Acredito que sim, no sentido de que para a solução da crise econômica persistente que vivemos seria a realização das reformas faltantes, e reformar, regra geral, é medida impopular, pois gera polêmicas e fere interesses particulares, e desta forma o atual governo evitou e segue evitando a tramitação de reformas no parlamento por conta da eleição presidencial que se aproxima. Na contramão disso, adota medidas de caráter mais populista que atrapalham o investimento do setor privado. A indústria de transformação caiu muito em termos de participação no PIB, representando hoje pouco mais de 10%, porém a tributação sobre o setor é superior a 20% da arrecadação total do governo. Esses números mostram claramente que a tributação é o que mais atrapalha a recuperação da indústria.
Tribuna Ribeirão – Que conselho o senhor daria para quem deseja empreender hoje no país?
André Ignacio – Que tenha um propósito claro. Gostar do que faz é fundamental, pois a jornada empreendedora exige muita dedicação e horas trabalhadas por dia, incluindo finais de semana. Quero salientar que as dificuldades surgirão inevitavelmente e a todo tempo, mas as oportunidades também.