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A vida em casa de repouso

Após um dia de trabalho espera-se o merecido repouso de uma noite, normal. Ou seja, silenciosa e longa. Mas, hoje, nem sempre é assim.

Na semana passada, gritos intensos interromperam o sono profundo às duas horas da madrugada. A primeira ideia foi a de alguém esgoelando, um homicídio. Mas logo se identificava ser voz de mulher, então um feminicídio – está em moda! Um vizinho ligou pra polícia e pediu urgência: “é uma chacina”. Outro abriu as janelas, com toda a coragem que o frio exigia. E os gritos se sucediam, intercalados com o silêncio gelado dos três graus da madrugada. Quando a polícia se aproximava novos gritos eram ouvidos e seguidos por calorosos aplausos.

Ficou estranho… Não se aplaude um crime de morte, nem que seja a do bandido mais cruel, odiado e temido. Foi daí que alguém ligou o televisor e descobriu o que estava acontecendo. Os vizinhos, reunidos, assistiam uma israelense imobilizar uma francesa no Japão. A cada lance de “híppon”, vibravam como se tudo acontecesse ali mesmo. Era uma madrugada olímpica!

Nem o previsível dia de trabalho que amanhecia afastava do televisor os “amantes” do judô. Estão assim, os hábitos da sociedade mudam com velocidade (apoiados pelos guardas noturnos do quarteirão de casa).

Já, no início deste século, tinha mais gente trabalhando à noite, de madrugada, nos Estados Unidos que às 10 horas da manhã. A inversão dos costumes se acentua por quase toda parte, embora nem todos estejam dispostos a trocar a noite pelo dia, ou vice versa; assim como não são todos que acei­tam (ou possam aceitar) esta modernidade de um novo jeito de viver, principalmente os vizinhos. Foi como se soube de quantos israelenses tem por aqui!

Mas a vida não muda em todos os lugares. Por exemplo, numa casa de repouso, onde moram pessoas idosas, dadas a ter sua rotina o dia todo, todos os dias do ano (muitas nem sabem mais que dia é da semana, mês e ano), ignoram o que se passa lá fora. Quem não está com idade avançada, nem acometida de males diversos, assiste TV, acompanha novelas, ouve rádio, conversa e tem uma vida regrada, com disciplina adequada ao que a casa se propõe e oferece individualmente no ambiente de um grupo com afinidades.

Nestas casas de repouso – como são chamadas, o clima é de absoluta tranquilidade, onde profissionais de saúde prestam atendimento em dias certos e nas urgências, além do transporte para exames em clínicas especializadas e procedi­mentos hospitalares e odontológicos.

Viver numa coletividade de pessoas idosas chega a ser uma proposta de vida que vai se desenhando durante anos ou é uma solução pra quem se sente só, tem dificuldades em se alimentar, se tratar e zelar pelos cuidados necessários para uma velhice sadia.

Ali há quem sente falta da família, pergunta pelos seus, confunde os que chegam; há quem não fala de ninguém porque foi esquecido ou “depositado” (uma realidade) para aliviar os parentes que se sentiam onerados. É triste.

No momento a pandemia trouxe mudanças. A visitação fi­cou restrita, controlada, uma vez por mês aos mais próximos, por agenda. Sem abraços, não se tocam e reclamam disso: “por que meu fiho? “Visitas em áreas ventiladas, sentam-se à distancia. Todos (internados, visitantes e funcionários) já vacinados e são testados na entrada. E ainda há quem se infeccionou. Acredite!

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