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A triste realidade do desemprego

A desempregada Maria de Fátima dos Santos, de 30 anos de idade, não tem emprego com carteira assinada há dois anos, desde que saiu da empresa onde trabalhava. Na época, sem perspectivas de emprego por aqui e para tentar o que chama de “uma vida melhor”, juntou o pouco dinheiro de que dispunha e foi embora do Brasil.

Fila de emprego: feirões de empregos atraem milhares de pessoas

Entretanto, o sonho de ir para a Itália, onde tem amigos, e depois para Portugal, durou pouco. Isso porque, ao tentar desembarcar em Roma, foi bar­rada pela imigração italiana no Aeroporto Fiumicino. Como não preencheu alguns requisi­tos exigidos pela legislação da­quele país, Maria de Fátima foi deportada para o Brasil depois de ficar nove horas à espera do voo de volta.

Ao chegar a Ribeirão Preto e depois de muita procura, ela conseguiu um emprego tem­porário de três meses como au­xiliar de limpeza em um “bar­zinho noturno”. Com o fim do contrato, tenta agora conseguir um novo trabalho com carteira assinada, mas diz que está difícil. “Estou tentando, mas tenho ou­vido muitos nãos,” afirma.

Para conseguir algum di­nheiro Maria de Fátima tem apostado nos serviços temporá­rios e conseguiu uma vaga como atendente em um quiosque de bebidas na Agrishow. A feira, considerada a maior a céu aber­to do mundo, terminou na sex­ta-feira, dia 3 de maio e ela está novamente desempregada. A Agrishow gerou cerca de cinco mil empregos temporários.

Desempregado há um ano, o auxiliar de produção, José Fernando dos Santos, 28 anos, também tenta conseguir uma recolocação. Desde que a em­presa em que trabalhava redu­ziu o número de funcionários, ele percorre diariamente as agências de empregos da cida­de em busca de um lugar ao sol. “Já perdi a conta dos currículos que entreguei, mas até agora nada,” diz. Para sobreviver tem trabalhado como ajudante em festas e eventos. “Tenho feito de tudo para conseguir sobre­viver,” desabafa.

Maria de Fátima: sonho de ir embora do país ainda não virou

Currículos e mais currículos
Termômetro que ajuda en­tender como está o desemprego em Ribeirão Preto são as agên­cias de seleção de mão de obra. Diretora de Recursos Humanos de uma importante agência do setor em Ribeirão Preto, Helena Scatena afirma que a procura de profissionais tentando uma recolocação no mercado formal aumentou muito.

Segundo ela, antes da crise econômica que o país atravessa, a agência recebia em média 200 currículos por semana, seja via internet ou pessoalmente. Hoje esta média subiu para 500 cur­rículos. Muitos deles de profis­sionais com nível superior que se candidatam a vagas que não exigem formação acadêmica.

“Antes da crise fazíamos até busca pró ativa de profissionais para preencher as vagas que tí­nhamos. Hoje temos muito mais currículos do que vagas,” explica.

A diretora costuma compa­rar a crise econômica do país a um grande iceberg que está der­retendo, mas muito lentamente. Entre os setores com mais oferta de trabalho na agência está o da área operacional que exige pou­ca formação escolar.

Só no final do ano
A oscilação na geração de empregos com carteira assinada não deverá terminar antes do fi­nal do ano, prevê o economista Marcelo Buossi, do Sindicato do Comércio Varejista de Ribeirão Preto (Sincovarp). Para ele, a os­cilação que Ribeirão Preto tem visto mês a mês é resultado de fatos pontuais que movimentam temporariamente a economia, como por exemplo, datas come­morativas como a Páscoa e o Dia das Mães.

“Como o empresário traba­lha com o mínimo de funcioná­rios possível, estas datas fazem com que ele contrate alguns funcionários temporários. E isso acaba dando a sensação de reto­mada do crescimento,” explica.

Buossi acredita que somente com a implementação de me­didas duradouras na economia brasileira, que animem o setor produtivo, haverá retomada real na geração de novos empregos. “Mas isso é algo que deve acon­tecer em médio prazo,” diz.

Ribeirão fecha 370 vagas em março
Dados divulgados no final de abril pelo Cadastro Geral de Empre­gados e Desempregados (Caged), revelam que Ribeirão Preto fechou março no “vermelho” no quesito contratação de trabalhadores for­mais. Os números mostram que a cidade teve saldo negativo de 370 empregos formais extintos, fruto de 7.562 admissões e 7.932 demis­sões neste período. Este foi o primeiro déficit do ano, muito abaixo do resultado de fevereiro que registrou 1.229 novas contratações.

Mesmo com a queda em março, a economia ribeirão-pretana fechou o primeiro trimestre com superávit de 1.316 novos contratos – com 25.875 contratações e 24.559 dispensas. Este superávit, con­tudo é 38% menor do que os números registrados no mesmo período de 2018 quando foram admitidos 806 trabalhadores a mais.

Nos últimos 15 anos, desde 2003, o melhor resultado registrado pela economia de Ribeirão Preto ocorreu em 2010, quando a cidade contratou 109.136 pessoas e dispensou 94.784, com superávit de 14.352. Depois vem o ano de 2011, com 118.529 empregos formais criados e 105.845 extintos, saldo de 12.864. Uma ampla pesquisa realizada pelo Núcleo de Inteligência da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), coordenado pelo economista Gabriel Couto, mostra que nos últimos dez anos, entre 2007 e 2017, a cidade acumula déficit de 5.217 empregos formais.

43 mil vagas fechadas no país em um mês

Helena Scatena: recebe em media 500 currículos por semana


Após dois meses de resultados positivos, o Brasil fechou 43.196 vagas de emprego formal em março deste ano, de acordo com dados do Caged. O saldo negativo decorreu de 1.261.177 admissões e 1.304.373 demissões. No acumulado do primeiro trimestre, houve abertura de 179.543 postos de trabalho com carteira assinada. Em 12 meses até março, há abertura de 472.117 vagas. O Estado de São Paulo apresentou retração de 0,07%, com encerramento de 8.007 vagas.

O número mais estarrecedor é o de desempregados em todo o País, da ordem de 13 milhões e 400 mil trabalhadores, segundo a PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domi­cílios, do IBGE. A taxa de desemprego é de 12,7% no primeiro trimestre deste ano.

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