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A tradição natalina do presépio (parte II)

No domingo, 06 de janeiro, os cristãos relembram a visitação do Magos ao Jesus recém-nascido, de acordo com a descrição do evangelho de Mateus no capítulo 2. É a celebração da Epifania, que, pelo calendário litúrgico da Igreja Católica, é a comemora­ção do episódio dos Magos, na ocasião da primeira manifestação de Cristo aos não judeus. Esta narrativa nos oferece a oportuni­dade de concluirmos a nossa coluna sobre o presépio, iniciada no sábado passado. Para começar, os magos não foram reis, nem eram três, muito menos com os nomes de Belchior, Baltazar e Gaspar simbolizando as três raças. São tradições que se firma­ram no decorrer do tempo, mas o evangelho de Mateus, o único que os cita, fala apenas que eram “uns magos que vieram do Oriente a Jerusalém”.

A maioria dos especialistas em Novo Testamento duvida da historicidade deste fato. Eles afirmam ainda que o Jesus históri­co era mesmo galileu e teria nascido em Nazaré ou em outro lu­garejo próximo. O redator ou redatores do evangelho de Mateus estavam mais comprometidos com uma construção teológica sobre o Cristo do que com uma construção histórica. De qual­quer forma, os “três reis magos” são personagens fundamentais em qualquer presépio. E não pode faltar a estrela que os guiou, nem os camelos que, se supõe, os conduziu até o lugar do nas­cimento. Encontramos muitas tradições em torno dos magos. A mais conhecida é a Folia de Reis. Os presentes levados pelos ma­gos são pura simbologia: o ouro significa a divindade de Jesus, o incenso o seu sacerdócio e a mirra a sua futura paixão e morte.

Os pastores acompanhados das suas ovelhas e os anjos que lhes anunciaram o nascimento de Jesus são outros personagens deste cenário, citados no evangelho de Lucas no seu capítulo 2. O burro e o boi são criações do presépio de São Francisco, mas com uma enorme possibilidade de terem presenciado os primeiros dias de Jesus, pois são normalmente encontrados nos estábulos. Mas não são citados expressamente nos evangelhos. Mas, um presépio não é somente constituído por figuras: a pai­sagem contribui da mesma forma como os edifícios que não se limitam somente ao estábulo para o efeito geral das cenas. Além do mais, as cores vivas de muitas das cenas devem-se, sobretudo, aos pequenos adereços, os quais normalmente são típicos da região em que os presépios são montados. Todo um calendário e práticas devocionais se constituíram com a tradição em torno do presépio. Ele deve ser montado quatro domingos antes do Natal. O menino Jesus só deve aparecer na noite do dia 24 de dezembro. Os magos devem ser movimentados progressivamen­te na estradinha de areia que vai terminar na manjedoura e só vão estar em frente à sagrada família no dia 6 de janeiro. A data correta para desmontar o presépio é bastante móvel. Pode ser dia 7 ou 8 de janeiro, depois da chegada dos magos. Ou no dia 20 para coincidir com a festa de São Sebastião. Depois disso, a sagrada família parte para a fuga no Egito. Em algumas regiões, o presépio é substituído pelas cenas de fuga, quando, então, nasce a devoção de Nossa Senhora do Desterro.

A princípio, a representação plástica da época de Jesus tinha uma função educativa – servia para contar uma história ou registrar um acontecimento para os iletrados. Que eram maioria na sociedade. Essa função está preservada até hoje. Quem mon­ta um presépio, mesmo sem saber, recria o nascimento de Jesus e traz para a sala de estar o espírito de renovação e solidariedade contido na simbologia do Natal. A incorporação de cenas do co­tidiano de cada localidade do mundo por onde a fé cristã se es­palhou foi a forma de dizer que aquela família, comunidade ou cultura o aceitou e se compromete a seguir seus ensinamentos. E também registrou para a História a evolução dessas culturas.

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