A recente viagem do presidente Lula à Europa foi revestida de tal êxito político que chegou a acender a luz vermelha nos setores golpistas de 2016. O ex-presidente mostrou ser a liderança brasileira que possui o respeito e a admiração das forças progressistas e democráticas do mundo civilizado. Como escreveu Marcelo Zero, sociólogo e especialista em Relações Internacionais, “o bolsonarismo arrependido, mais conhecido como a turma da ‘terceira via’, nem via para coisa nenhuma, acusou o golpe”. Se com Bolsonaro não dá mais, querem criar a tal terceira via com todos os malabarismos possíveis.
A História não se faz de fatos isolados, independentes e compartimentados. É sempre um processo, com uma sucessão de desdobramentos, interrelações e consequências. Para qualquer consciência, minimamente conectada com a História, não é possível desconhecer que todo este enredo maldito teve início com o golpe que afastou Dilma Roussef da presidência em 2016. De lá para cá, o que vimos foi uma sequência de acontecimentos que aprofundaram o golpe, principalmente na sua face econômica e social mais perversa. Bolsonaro é a expressão mais nojenta e destruidora de todo este processo.
Mas agora o capitão-presidente tem um coringa que faz também o papel de seu espantalho. Seu ex-ministro da Justiça, o ex-juiz Sergio Moro, se filiou ao Podemos e se assanha como candidato competitivo da tal terceira via, segundo os mesmos, para “enfrentar os extremos”. É para dar boas gargalhadas. Que dizer, então, que tivemos um governo extremista durante o período de Lula e Dilma? Querem por que querem igualar Lula e Bolsonaro. A velha mídia, que vinha batendo em Bolsonaro, agora está morrendo de amores por Sergio Moro. Falou muito mais da sua filiação partidária do que da viagem de Lula à Europa.
Começa agora uma luta desesperada daqueles que querem manter vivo o autoritário e reacionário programa econômico e social do golpe de 2016. E neste aspecto, os apoiadores de Bolsonaro e Moro estão juntinhos. É necessário, de novo, atacar Lula e começar a fazer o trabalho sujo de impedir a sua eleição, como conseguiram em 2018. Seguindo os ensinamentos e as práticas de Steven Bannon, os defensores do programa antidemocrático apelarão para fakenews, mentiras e distorções. E isso já começou. E não será nenhuma novidade se todos esses abutres se reunirem, ao final e de novo, em um único barco.
É irônico ver essa gente que apoiou o golpe de 2016, a Lava Jato, a prisão ilegal e política de Lula e a eleição de Bolsonaro, falar em democracia. Praticamente destruíram a nossa democracia e, agora, se preocupam com a Nicarágua? De novo, boas gargalhadas. “Onde está a autocrítica dessa gente? Em Miami? Foi depositada em alguma offshore?”, pergunta Marcelo Zero. Além disso, se tem alguém com autoridade moral para falar de democracia no Brasil são Lula e o PT. Ou há outros? Seu berço foi a luta pela redemocratização nos anos 70 e 80. É bom saber um pouquinho de História.
“O amálgama que uniu e estruturou o PT foi justamente a luta contra a ditadura e pela democratização do país. Por isso, o PT definiu-se, desde o início, como um partido que buscava não apenas uma democracia formal e institucional, mas uma democracia substantiva que assegurasse, a todos os cidadãos, o pleno usufruto dos direitos políticos, sociais e econômicos”, explica Marcelo Zero. Por isso o PT se empenhou na abertura de canais de participação direta da população nas instâncias decisórias do Estado. Estão aí os conselhos, as conferências e outras instâncias que vêm sendo torpedeadas por Bolsonaro e o prefeito Nogueira.
Não existe democracia verdadeira sem mecanismos de distribuição de renda, sem um Estado de bem-estar social sólido, sem acesso amplo e gratuito à educação de qualidade e à saúde, sem acesso à informação plural, sem uma economia que assegure a geração de empregos. Ao eliminar a pobreza extrema e a fome, ao gerar milhões de empregos qualificados, ao abrir as portas das universidades para negros e pobres, ao multiplicar as vagas do ensino técnico e superior, entre muitas outras coisas, os governos do PT deram contribuição histórica à democracia brasileira. Simples assim.