Fernanda Ripamonte *
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Amiga Ely, estou chegando…
Como foi o seu adormecer?
Poderia, por favor, ler, como sempre, o que escrevo?
Vamos preparar a lista dos amigos a quem devo comunicar que você irá viajar…
Eu estava preocupada pois, nesses dias de inverno, apesar das tardes quentes, as noites são frias e frio também é o amanhecer… Será que você sentiu frio? Ao cobrir-me para a noite insone, pensei como eu poderia aquecer seus pés… Levaria, se possível, uma manta toda bordada que você admirava e que servia de distintivo de uma entidade literária de um ideal que valoriza a poesia, a literatura e a história.
Na manta há um emblema que se distingue como numa bandeira e aliás, nem sei por qual motivo, hoje a bandeira na Cultura de nossa cidade foi colocada à meia altura do mastro, anunciando sinal de luto…
Assim, cobri seus pés logo cedo com a manta bordada, sem ferir as flores que compunham aquela geometria do seu leito.
Sua beleza estava intocada. A face se mostrava levemente rosada, estando serena e adormecida. Pude vê-la aquecida pelo carinho daqueles que foram visitá-la… aquecida também pela manta florida, sobre as flores, imensamente dotada de letras e sonhos incrustados de cores e sentimentos…
Ely querida, lembranças suas estarão gravadas na manta florida, seu nome, que pode ser inscrito na história e em nossos, corações “surgirá em momentos e apesar das dificuldades” e sua presença será aquela a nos oferecer guarida, sob a égide de sua atenção para nossos ensaios, para nossa vida em cena e atos no palco iluminado pelas luzes que você acendeu.
Nossas lembranças serão encontradas à sombra dos flamboyants floridos.
A Academia Ribeirãopretana de Letras será sempre para você o que somos todos que a amamos. Gratidão imensa por termos convivido com sua inteligência disponibilizada em carne, em verbo em toda a natureza.
* Escritora, advogada, membro da Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto e da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas e presidente da Academia Ribeirãopretana de Letras