Algum tempo residi em um charmoso hotel de gente elegante, competente e hospitaleira, localizado no Centro, o “Hotel Black Stream”, onde fiz muitos amigos e parceiros de “copo e de cruz”.
Apesar das agradáveis companhias me sentia só, aprendendo sobre a forte e profunda relação entre a solidão, o silêncio e a angústia.
A solidão é como se você estivesse em um sábado na rua 25 de Março e, em um estalar de dedos, só sobrasse você e absolutamente mais nenhum ser.
Quantas vezes em meu quarto, às 3 da madrugada eu ouvia o silêncio dos ruídos da noite, os pingos de uma torneira mal fechada e o tic-tac do relógio, apostando corrida com o tempo.
De quando em quando o barulho do elevador invadindo os andares, eu ficava quietinho, sem mexer um músculo, imaginando quem poderia estar dentro dele, um casal apaixonado, uma madame bonita e perfumada ou uma meretriz cumprindo seu árduo e milenar labor.
Minutos depois, ouvia descendo rapidamente para com um baque estacionar no térreo e a noite retornando ao sepulcral silêncio e seus ruídos.
A solidão nos assalta com uma lança perfurando nosso peito, não sangra e nem mata, apenas faz com que nossa alma se desprenda do corpo nos deixando ocos e vazios como cocos secos jogados nas areias das praias desertas.
A angústia, como se quiséssemos segurar em nossas mãos a água do riacho que flui entre os dedos, nos avisando que o tempo passa, estar fazendo parte desta tríade apenas confirma os desígnios da condição da existência humana.
A solidão e o silêncio são almas gêmeas e a angústia prima dos dois, completando uma família que também nos ensina que não são apenas as vitórias e os brilhos, mas também, tristes e escuras derrotas em nocautes às vezes acachapantes.