Levantamento divulgado pelo Instituto para o Desenvolvimento Social (IDIS), uma organização reconhecida internacionalmente e que atua no engajamento pessoas, empresas e comunidades para ações sociais, revela que o Brasil caiu 47 posições no ranking mundial da solidariedade.
De um total de 146 países pesquisados, o Brasil ocupa 122ª posição, enquanto em 2017 estava em 75ª no ranking. O levantamento foi realizado com mais de 150 mil entrevistados e resultou em um relatório com o total de pessoas que doaram dinheiro, ajudaram um desconhecido ou foram voluntários no mês anterior à pesquisa. Tanto no Brasil como em outros países o item que teve maior queda foi a doação de dinheiro, que tem diminuído desde 2015.
Entretanto, quando se analisa o número de pessoas que, em vez de dinheiro, doam parte do seu tempo como voluntário, o Brasil se encontra na 7ª posição, com 21 milhões de voluntários. Além disso, 68 milhões de brasileiros declararam ter ajudado pelo menos um desconhecido ao longo do mês anterior à pesquisa, colocando o país na 6ª posição.
Em Ribeirão Preto encontrar pessoas que no anonimato dedicam seu tempo para levar solidariedade para quem muitas vezes precisa apenas de um gesto de carinho não é algo complicado. Por aqui, diariamente, centenas de pessoas fazem isso sem esperar reconhecimento público.
É o caso de Sonia Maria Baltazar Rodrigues, de 63 anos. Especialista em pintura em tecido há vinte e três anos ela doa as manhãs de sexta-feira para ensinar sua arte para os internos do Lar Padre Euclides, localizado no bairro Campos Elíseos. Casada e mãe de dois filhos – já adultos – conta que o trabalho começou por causa de uma freira, do Lar Padre Euclides, que fazia aula de artesanato no curso que Sonia mantém na casa onde mora.
Ao ouvir a religiosa falar sobre a entidade e a necessidade de mais voluntários para ajudar, ela decidiu se engajar. O trabalho começou como uma atividade terapêutica para os internos cresceu e acabou se transformando também em mais uma fonte de renda para a entidade. Até uma lojinha de artesanato foi montada no local.
Segundo Sonia, os internos se transformaram em sua segunda família e ela se sente realizada em poder passar a eles um pouco do dom que Deus lhe deu. “Agradeço a Ele todos os dias e não conseguiria mais parar de ajudar”, conta. Ela também coordena o setor de costura do Lar Padre Euclides.
Vale lembrar que na contramão dos voluntários que ajudam a entidade, na sexta-feira, 7 de junho, um ladrão furtou aproximadamente R$ 12 mil das irmãs Filhas de Santa Tereza de Jesus, que prestam serviços no Lar Padre Euclides há quase 50 anos. O dinheiro foi conseguido com as vendas do bazar administrado por elas e da arrecadação que fizeram para confeccionar materiais da campanha do Centenário da entidade. O Lar Padre Euclides é o asilo mais antigo de Ribeirão. Com 98 anos de história, atende 52 idosos e depende de doações para se manter.
Treinando voluntários
Em Ribeirão Preto quem deseja doar parte do seu tempo para o voluntariado e não sabe como fazê-lo pode procurar o Centro do Voluntariado de Ribeirão Preto e se integrar em um dos vários projetos que a entidade desenvolve.
Presidente do Centro há dois mandatos, Maria Beatriz Ferreira de Oliveira explica que até o começo dos anos 2000, a entidade apenas capacitava voluntários para atuarem de forma independente. Mas depois de conhecerem a Organização Social “Viva e Deixe Viver de São Paulo” decidiram que podiam ir além. Após treinamentos e muita força de vontade implantaram o projeto Contadores de História.
O projeto piloto começou há 14 anos no Hospital Santa Lydia – na época privado – e consiste na visitas de voluntários para contar histórias infantis para as crianças internadas. Com o sucesso da atividade, os contadores foram convidados a levar este trabalho para a Santa Casa de Misericórdia, para a Casa de Apoio à Criança com Câncer – GACC no campus da USP, para o Hospital Sinhá Junqueira e para o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.
Desde sua implantação o projeto formou mais de dez turmas de contadores com cerca de 380 voluntários capacitados. Graças a este engajamento, em 2015 foi lançado o livro “História: um remédio que não dói”. A obra contém relatos dos voluntários contadores de histórias, da equipe hospitalar, de pais e pacientes atendidos. Atualmente cerca de sessenta voluntários participam das visitas.
Outra atividade desenvolvida pelo Centro do Voluntariado é o projeto “Ouvir” voltado para as pessoas idosas. Por meio dele voluntários visitam os Lares de Idosos para em vez de falar, ouvir o que eles têm para contar. “Muitos idosos não querem alguém para falar para eles, mas sim para simplesmente ouvi-los”, conta Maria Beatriz. Atualmente 40 pessoas participam do projeto.
Já o Programa HumanizaDor criado há um ano e feito em parceria com a Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas visa dar apoio às famílias de pacientes quando da internação inesperada de um ente.
A parceria surgiu com o objetivo de dar atendimento aos familiares que fosse além do mecanizado e tecnológico, já que neste momento eles precisam de alguém que além de oferecer informações, também os acolha e forneça uma palavra de conforto.
O projeto HumanizaDor segue a Política Nacional de Humanização (PNH) da saúde que tem como meta o acolhimento humanizado. “Humanizar vai além de chamar pelo nome, é um olhar de carinho, uma atitude solidária, um sorriso, um ombro”, completa a presidente do Centro do Voluntariado de Ribeirão Preto, Maria Beatriz Ferreira de Oliveira. Atualmente o programa tem 45 voluntários e também é realizado no Hospital Sinhá Junqueira. Todos os voluntários passam por treinamento que inclui orientações multidisciplinar de profissionais que trabalham nos hospitais.
Associação leva esporte aos portadores de Down
No começo do ano três amigos – Demétrius Nogueira, Mateus Nogueira e Luciane Faria – que já trabalhavam com portadores de Síndrome de Down e de Deficiência Intelectual na Escola Egydio Pedreschi, decidiram expandir o trabalho esportivo que realizavam para fora do muro da escola. Para isso criaram a Associação Sem Fronteiras, uma entidade que oferece a prática de futebol de salão para este público.
As aulas acontecem aos sábados numa quadra localizada na Rua Arnaldo Vitaliano, 830, no Jardim Palma Travassos e tem atraído muitos participantes. Atualmente participam do projeto 32 atletas com idades entre os 15 e 42 anos.
Os responsáveis pelo treinamento são Mateus e Demétrius. Este último faz parte da comissão técnica da seleção brasileira de Futsal Dawl, campeã do mundial realizado este mês em Ribeirão Preto.
Além da integração o projeto tem como meta formar equipes – masculina e feminina – competitivas e capazes de fazer bonito na quadra. Para Luciane Faria a entidade está trabalhando bastante e as equipes têm tudo para ser referência nacional. “No caso das meninas em breve deveremos apresentar essa novidade no esporte adaptado”, explica.
A Associação Sem Fronteiras tem um patrocinador de São Paulo, mais ainda precisa de outros colaboradores para materiais esportivos, uniformes, custeio de lanche e transporte de atletas.