Tribuna Ribeirão
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A saúde pública no Brasil – parte 2

Dr. Adão F. de Freitas *
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No que se refere a ações coletivas os brasileiros historicamente sempre ficaram à deriva por parte de diferentes governos. E no tocante à saúde pública, por se tratar de um componente, que para um atendimento minimamente razoável necessita de um aporte financeiro também minimamente compatível, aí as coisas se tornam bem mais difíceis. Sim, porque a assistência médica em qualquer nível sempre foi, e com a modernização da tecnologia, um trabalho multidisciplinar onde atuam várias equipes trabalhando na recuperação da saúde da pessoa.

E o Brasil por ser um país também com um histórico de corrupção, sempre foi carente no atendimento às necessidades da população. E quanto aos cuidados com necessidades básicas de saúde pública como sempre, houve carência de recursos públicos para atendimento a essas necessidades haja vista os casos de meningite ocorridos nos anos 70, de HIV a partir da década de 80 e mais recentemente da gripe H1N1, da febre chikungunya, dengue e agora a arrasadora pandemia causada pelo novo coronavírus. Em todos esses casos observou-se uma atuação que não foi a contento por parte das autoridades pú blicas.

No caso específico da pandemia causada pelo vírus responsável por essa terrível doença chamada covid-19, houve, como já comentamos aqui mesmo nesse espaço, diversos fatores agravantes, sendo o pior deles a politização dessa pandemia levando ao cúmulo dos absurdos em que paixões políticas levaram a divisão de grupos favoráveis ou contrários às diversas modalidades de remédios usados na tentativa de tratamento da doença.

Também um fator agravante na condução das medidas que poderiam ser mais eficazes no enfrentamento dessa pandemia é referente à comunicação social. Nesse caso houve um fracasso, pois a linguagem usada nesta comunicação foi sofisticada, poderia ser simples e de fácil entendimento. Por exemplo, em vez de se falar em “distanciamento social”, poderia dizer “fiquem longe uns dos outros”. Aí sim qualquer pessoa entenderia bem.

Os números de mortos 516 mil e de contaminados 18 milhões nos coloca em segundo lugar no mundo entre os afetados pela pandemia. Infelizmente o esquema de vacinação, que já começou tarde, ainda caminha em ritmo aquém do desejado e vem enfrentando também os problemas cruciais do Brasil como a corrupção e as imensas desigualdades regionais.

Não obstante a isso, já temos quatro vacinas sendo empregadas no país, o que devido ao enorme contingente populacional que necessita ser vacinado, poderia ser até o dobro das vacinas atualmente em uso, pois do ponto de vista médico, pelo menos até agora a vacina é o remédio mais eficaz contra a ação devastadora dessa terrível doença. Já temos vacinados até agora 73 milhões de brasileiros com uma dose, o que equivale a 34% da população e 26 milhões com as duas doses o equivalente a 12,4% da população.

Enquanto isso o número de mortos ora diminui, ora aumenta em alguns estados. Esse número relativamente baixo de vacinados ocorreu e ainda está ocorrendo devido a esses entraves que acabamos de citar e o corolário dessa situação ainda é a média alta de mortes que vem sendo registrada há algum tempo. Observando a ocorrência dessa situação constatamos que dos 27 estados só um está com aumento da média móvel de casos; 10 estão estabilizados e 15 estão diminuindo.

Comparando o Brasil com outros países, o registro do número de óbitos ainda está aumentando a tal ponto que se o esquema de vacinação não for ampliado em grande quantidade e com a maior rapidez não é improvável que o Brasil venha a ter mais morte que os Estados Unidos e passe a ocupar o sinistro primeiro lugar em número de mortos no mundo, o que é uma situação verdadeiramente vexatória para todos nós brasileiros.

Fazendo uma análise do que está ocorrendo constatamos facilmente que a evolução dessa doença no Brasil, além dos componentes já citados, há que ser considerada ainda o enorme contingente de pessoas que vivem em precárias condições de higiene, alimentação, habitação, saneamento e estão em situação de estado de pobreza e de pobreza extrema.

Finalmente há que se considerar que essa pandemia trouxe consigo lições de vida que precisam ser aprendidas rapidamente (Continua na próxima semana).

* Médico clínico geral e cardiologista, mestre e doutor em Medicina pela
FMRP-USP

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